27 março 2007

Desculpas aos fans

Eu definitivamente não estou nada bem. Acho que tenho que parar com a pildra que estas doses diária de hormonas não estão a ter o efeito desejado. Estas crises existenciais de “quem sou eu”, “onde estou”, “para onde vou” e “que roupa é esta”, nunca foram problemáticas na minha vida. Não sei ao certo o que andei a fumar, mas acredito que era da boa, porque bateu cá duma maneira que tenho andado insana nestas últimas semanas, e não tenho a certeza da maior parte das coisas que fiz.
Mas chega, a minha vida não é isto, já passei da idade do armário e não tenho paciência para esta fase de adolescente problemática, ainda não apareceu o acne, por isso antes que comece a escrever na pele com xisato, o melhor é acabar duma vez com estas parvoíces que nem eu me reconheço mais.
Acabou as madrugadas no youtube a ver vídeos deprimentes, seguido claro de posts nada aconselháveis a cardíacos, assim, para bem da saúde pública, essencialmente da minha, tirei postagens que poderiam ferir susceptibilidades e pior ainda, denegrir a minha imagem.
Assim peço desde já desculpa aos demais por qualquer palavra que não deveria ser dita ou escrita, apelo insanidade temporária como minha defesa e prometo que este blog não vai mais servir de “meu querido diário, estou tão triste que quero morrer”. Prometi que iria escrever um blog para contar as minhas desventuras por Terras não Lusas, para contar um pouco de como é ser um alienígena no meio dos terrestres e é sobre isso que se vai tratar aqui, uma visão queixosa do mundo que me rodeia, e não da minha vida.
Espero que me perdoem esta fase tão Cher, mas o pior já passou, agora é “bola prá frente, que atrás vem gente”.
Vou estudar, que é para isso que eu pago, vou ás festas todas que há para ir, vou conhecer tudo o que há para conhecer, vou aproveitar isto ao máximo, e daqui a 4 mesinhos, espero chorar baba e ranho quando me for embora, sinal é de que valeu a pena.


NÃO TE AMO

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma --- tenho a calma,
A calma --- do jazigo.
Ai! não te amo, não

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida --- nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror... Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett
"And I don't want the world to see me
'Cause I don't think that they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am"´




influenzada

Estou-me a esvair em ranho. Que merda mais nojenta dita assim, mas é verdade. Estou a morrer de gripe, e neste momento só me resta 3 dos 5 sentidos. Aos poucos sinto a minha vida a partir com todos os sentidos, juntamente com o stock de lenços de assoar. O melhor se calhar é ir ao médico, mas…. se para ir aos correios foi um filme, para ir ao médico vai ser uma série de muitos capítulos, não sei como isto funciona e tenho muito medo de onde possa ir parar.
Tenho uma outra maravilhosa, nada tenebrosa e muito acolhedora oral, e de quê? Da fantástica, muito divertida e super fácil matemática. Ainda estou para descobrir o que é uma oral de matemática e onde encontro a merda do livro para estudar, que isto sacar sebentas da net já vi que não dá muito resultado. Já corri tudo á procura do tal calhamaço, mas além dos livros na biblioteca estarem requisitados até Abril, o original custar 50€ e a merda da livraria que faz cópias estar fechada, não sei onde o posso encontrar. Não consigo estudar, estou a parar de 5 em 5 segundos para me assoar, não consigo engolir por causa da garganta inflamada e há dias que não durmo como deve ser porque não consigo respirar. O nariz está entupido e a boca também e sinto que preciso pensar e esforçar-me para respirar, estou a ver o dia em que estou a dormir e me esqueço de o fazer.
Só quero um frasquinho de Vickys e a minha mãe com as suas mezinhas…. Está um fredo de merda, as montanhas ainda estão cheias de neve e não para de chover! Qual é a parte de termos entrado na Primavera que esta gente não percebeu? Sou mesmo uma estrela do mar, da areia, dos escaldões, da água salgada, da fotossíntese… Ahhhhhh quero sol! Onde estás meu astro companheiro, redondinho e muito quente?? Vem aquecer-me a vida que está tão triste, cinzenta … e congestionada!

23 março 2007

A primeira vez...

A primeira vez não correu lá muito bem, diga-se de passagem! Se doeu? Um bocadinho… na alma e, vá lá, no rabo também! Ai, ai, ai, pequenos carocinhos de azeitona, não levem já isto para o lado da cueca, que eu sou muito pura e casta e estou-me a referir obviamente ao meu primeiro exame aqui, à minha primeira oral…
Eu, tal inócua filhó, dirigi-me para o bloco 4, a tremer que nem canas de açúcar, porque uma oral, é sempre uma oral, e quando não é na nossa língua, ai senhores, deixa de ser uma oral e passa a ser uma oralona!! Medo, muito medo.
Ora bem, chegada ao destino, dirigindo me à multidão Italiana perguntei se era ali o exame de Biologia Molecular, tendo obtido resposta positiva, entrei e sentei-me onde calhou. Esperei, esperei, esperei… e ao fim de 1 hora a professora chegou! Mas o que é isto? Como é que um professor chega 1 hora atrasado a um exame quando sabe que tem 250 alunos para fazerem oral numa manhã?? Bom, não querendo de maneira nenhuma perder tempo a tentar perceber este modo peculiar de funcionar, deixei ver como as coisas corriam. Nisto uma rapariga perguntou me que número eu era, o que causou uma taquicardia porque eu não tinha merda de número nenhum, isto é, eu devia ter-me inscrito na Internet para a ordem da oral, ora como eu não sabia, ninguém me explicou e por enquanto os meus poderes não dão para adivinhas, não me inscrevi! Moral da História: “São quantos alunos? 250? Então a Eramus é a 250ª. MERDA! Eu aqui sou a Ragazza de Erasmus, isto porque ninguém consegue pronunciar o meu nome. Podem me chamar de Matilde, cá em casa sou Stella, para os Espanhóis sou Estrella, mas o sotaque ninguém acerta, e quando vi a professora a olhar para o meu nome, que fui eu que escrevi porque ela não percebeu, e disse “Er…. la ragazza de Eramus” percebi que era desperdício tentar dizer o meu nome.
A senhora, como tinha uma outra oral de outra cadeira á tarde, dividiu as pessoas todas. Ora 20 nesse dia, 20 no dia a seguir, mais uns quantos para Abril, eu como era a desgraçada fiquei para o último dia, 12 de Abril, ora, tendo eu estudado duas semanas para esta porcaria, não podendo mais eu olhar para o ciclo de vida dos retrovírus e pensando eu que tinha a oral de Calculo diferencial dia 2 e depois quero ir passear a Sicília com as meninas de Turim, porque estar em casa encafuada a estudar está-me a dar cabo dos nervos, fui falar com a professora e perguntar se poderia fazer nesse mesmo dia, ao que ela assentiu. A senhora, rodeada de gente a revoltar-se com os dias e a querer limpar o sebo á mulher, mandou chamar a primeira da lista, a rapariga sentou-se ao lado da professora e ela diz-lhe, “desenha aí a estrutura química da Adenina”, eu pensei “já está, estou completamente lixada da minha vida”, mas pronto lá fiquei na sala esperando a minha vez. Cada vez que chegava alguém ia ter com a pessoa a querer saber o que a senhora tinha perguntado, e cada vez mais a faca chegava perto dos pulsos. Entretanto fiz uma amiga Italiana, a Amélia, que me ajudou a estudar, fazia-me perguntas, dizia-me o que era importante saber e assim por diante, ela só ia fazer exame em Abril, mas ficou ali para saber as perguntas. Este meu dia foi muito interessante, resume-se a 10 horas numa sala com o ar condicionado no máximo á espera de ser chamada, com aos nervos e ansiedade à flor da pele. Entretanto a Amélia foi-se embora, lá fiquei eu esperando, esperando. Fizemos 20min de pausa para comermos, lá fui eu ás pizas deliciosas e nada salgadas que fazem aqui, e depois lá retornei ao horror.
Só fui chamada ás 8 da noite, é claro que estava a ter 3 taquicardias por minuto derivado dos nervos, e para ajudar a senhora diz “DNA polimerase”. Tanta merda para perguntar e tinha que escolher o lado da violência…porque não falou de código genético, de retrovirus, de técnicas de PCR, ela que pedisse para eu desenhar a estrutura química de todos os nucleótidos que eu saberia, agora eu saberia, mas teve que abordar assuntos que, vamos lá, não tiveram toda a minha atenção. Portanto, quando me perguntou quantas haviam e eu disse 3, ela disse que não, eram 5, “já tá”, nem valia a pena continuar, mas pronto, a senhora lá continuou a tentar ajudar-me, “explique-me a replicação com todos os intervenientes e todos os passos” – não está a ajudar senhora, não está a ajudar – “Pronto, diga-me como é composta a DNA polimerase III”- mas isso é importante?? Saber só para que serve não é suficiente?? Bom, eu ouvi os italianos a dizerem que tinha a forma duma mão, lá foi o que eu disse, “certo, e as subunidades?”, as quem? Oh amiga, está a ir por caminhos nunca dantes navegados…. Bom, final da história, ela disse que se via que eu tinhas as bases, dei-lhe certos dados que ela disse dar muito valor ao facto de eu saber, mas que se me desse nota ia ser baixa, eu disse que então preferia não ter nota. Eles têm outra época, tipo recurso, em Julho, mas eu tenho avião de volta dia 3, por isso agora não sei como fazer, se a senhora não me der outra oportunidade, noutro dia, lá vou ter que ir ver a Solange em Setembro. Solange, Solanginha, tu nunca me irias obrigar a saber o nome, função, família, NIB de todas as enzimas presentes em todos os processos que ocorrem no nosso organismo, quando por exemplo, comemos uma maça, certo?
Saí dali, com o céu a desabar na minha cabeça, e eu que para variar nunca tenho guarda-chuva apanhei uma chuvada de todo o tamanho, e uma granizada também que aqui só falta chover pedra! Moral final disto tudo, estou doente com o cu quente, tenho a garganta toda lixada e estou com febre! Está a nevar, mas como supostamente vim na primavera não trouxe a minha roupa de sky, ou seja, é ver-me todos os dias enrolada no saco de cama térmico a tremer de fredo!
Descobri que tenho que fazer 8 cadeiras no próximo trimestre, em 3 meses, para equivaler ás 4 que me faltam em Portugal, e tenho a oral de matemática dentro duns dias e não sei que merda é uma oral de matemática… Mas pronto, como a vida até me está a correr bem, vou encharcar-me de gasolina e servir de tocha que isto o frio está agreste!


21 março 2007

Energias renováveis

Começando a ficar preocupada com o acréscimo de leitores deste Blogue (3?? Que exagero!), creio ser importante tentar reduzir este número no sentido em que no dia em que resolver reler tudo aquilo que escrevi e pensar “nunca li tanta merda na minha vida” creio que serei obrigada a … digamos…. acabar com o sofrimento dos pobres coitados que dedicaram tempo a ler aquilo que auto denomino de “as minhas pequenas cacas” e acima de tudo assimilaram grande parte da informação que sempre considerei que seria totalmente ignorada pelo mundo. Assim, vou numa tentativa frustrada, tentar escrever sobre assuntos cujo relevância é sem dúvida maior, do que a minha vida e consequentes desventuras, tentando alcançar um Boom de comentários e posteriormente consequente extinção em massa.
Depois de ler um Blogue duma dedicada estudante americana sobre as energias renováveis, e constatando que o número de comentários era nulo, achei que talvez seria este o cerne da questão, e talvez seja assim que as tais leitoras assíduas, quando não têm nada para fazer, encontrem realmente algo de mais interessante e educativo para fazer do que ler aquilo que escrevo.
Porém, para poder falar sobre energias renováveis se calhar convém que saiba algo sobre o assunto, e recorrendo às minhas memórias mais primitivas, só me recordo dum trabalho que fiz sobre moinhos eólicos no 7ºano, é verdade! Lembro-me tão bem do orgulho que tinha da minha bela maqueta, com tachas a fazerem com que as pás se movessem, relvinha a fingir e os carrinhos que roubei dos meus sobrinhos… era uma artista!! Porém confesso, sem querer daqui subentender a incompetência do professor, mas tirando que aquilo trabalhava a vento, não ficou muitas mais informações… vou então falar duma situação que me deixou um quanto ou quanto atarantada que é o facto de neste país não saberem o que é loiça. Não sabem o que é partir um prato, um copo, não sabem o verdadeiro significado da expressão “Partiu a loiça toda!”, isto porque aqui tudo é de plástico. As pessoas em casa só têm talheres e pratos de plástico, nos supermercados esta deve ser a secção mais desenvolvida e o sector do plástico em Itália está no auge. Na cantina tens pratos de plástico fundos para o primeiro prato, tens pratos mais pequenos de plástico para o segundo plástico, tens a fruta e o prosciuto em cuvetes de plástico, os copos dão de plástico … o mundo é de plástico! Tinha ficado contente com o facto de haver reciclagem na Mensa, porém já percebi que aquilo não é bem reciclagem, é mais dividir o lixo irmãmente pelos caixotes mais vazios. Porque se num caixote diz para pormos a garrafinha de vidro com a caixa do iogurte, isto não me parece grande reciclagem, além do que, as pessoas colocam o lixo onde haja mais espaço e nem pensar em pôr os restos da comida na área correspondente, não estou mesmo a ver as senhoras da cantina a irem separar os restos de piza do pratinho de plástico. Eu achava tudo isto um atentado ao planeta e aos nossos recursos, porém, uma alma caridosa que me mandava ter os olhos no chão e me ensinou o poder dos plasmídeos disse-me que até poderia ser uma coisa boa no sentido em que se poupava na água e no detergente a poluir os canos! A explicação fez-me sentido, mas mesmo assim tanto plástico ainda me faz confusão. Mas o que o meu estimado público acha? Acha que em determinado ponto a loiça de plástico pode compensar? Diz-me a tua opinião! …. A sério que não é preciso, não gastes tempo com isto, estão a dar coisas na televisão muito mais interessantes com certeza, ou há com certeza milhões de coisas para fazer aí em casa, não há? Olha a cama por fazer, o chão por varrer, as crianças por alimentar …

Festa do dia da mulher (o tabuleiro foi roubado da cantina)

18 março 2007

Sexo!

Plagiando os meus amigos 6Tetos, agora que chamei a vossa atenção vou falar de coisas interessantíssimas tais como orais. Poderiam ser sexuais, sim, aí sim teria sem dúvida a atenção do público, mas não, desenganem-se, mudem de canal, que o que se vai falar aqui são orais escolares, daquelas giras de se fazer e em que nos divertimos muito.
Depois de certas e determinadas postagens dignas de internamento, os meus assíduos fans pergunta-me, "Mas e então, estás na Itália, onde estão as novidades?" Ora pois, é de facto uma boa pergunta no sentido em que eu não vos sei responder, porque tenho estado em casa a ... choque... estudar!! É verdade sim senhora, neste preciso momento posso dizer que sou a pessoa que mais sabe tudo sobre ribossomas, sínteses proteicas e afins (esperemos nós!)
Pois é, dentro de 3 dias tenho a minha primeira oral, podia ser importante, podia ser uma experiência única se não fossem 250 alunos a fazer oral numa manhã, ainda quero saber como a professora se vai safar, mas a senhora lá sabe, foi ela que fez a música!
De novidades por aqui, não tenho grande coisa. Já fui a mais uma dezena de festas, descobri o perigo dos jogos espanhóis e entrei em aulas de Salsa e Merengue. É verdade, ando armada em bailarina a ver se as overdoses de pasta que tenho tido não se acumulam nas nádegas.
Estou a gostar muito, estão lá um rapaz e uma rapariga Espanhóis que dançam bem para caraças, e entrei agora eu, 3 Belgas, 1 Americana e uma dezena de Polacos, realmente somos muitos, mas as aulas sabem muito bem. Suar um bom bocado, abanar o rabinho ao som da salsa e tentar fazer o colesterol circular. Depois de 5 anos nas danças se salão quando era miúda, sabe bem voltar a dançar e saber que ainda me lembro dumas coisitas.
Descobri também o desporto da minha vida, o Rafting! Fomos fazer rafting num destes fins de semana para as montanhas, foi simplesmente espectacular, remar, remar, desviar nos de ramos, arrastar o bote em bancos de pedras, o trabalho de equipa, a água geladinha, mergulhar de rochedos, aprender a tirar partido da corrente já que não se pude lutar contra, sentir que nos estamos a afogar e no último minuto esta puxa-nos para a superfície…. Excelente!! Adorei mesmo, mal posso esperar por fazer outros níveis em rápidos inultrapassáveis e descobrir os tesouros que há para ver nestas montanhas Italianas. No mesmo dia do rafting fomos comer á casa duma Italiana em Diamante, uma terrinha á Beira-mar, lindíssima, e super aconchegante.
Também se fez recentemente um jantar de Erasmus com o pessoal todo, comemos muito mal, é verdade, mas foi fixe para conhecer as pessoas e pode-se dizer que bebemos bem, depois da janta, lá está, Cigar Bar para terminar a noite em beleza a dançar sucessos dos anos 80, muito bom.
Esta sexta-feira fomos dançar salsa a uma bar Camelot Country, onde estava a haver um concerto de música cubana, gostei muito apesar de não ter dançado nada, pois para atingir o nível daquela gente só comendo muita pasta. O pessoal dançava imenso, os homens aqui realmente sabem dançar e as mulheres só não abanam as pestanas, os pessoal em grupo até faz grandes coreografias tal filme, até tinha vergonha de arriscar a tirar uns passos, não fosse a figura muito triste, mas lá dancei um bocadito com o Espanhol, o Belga e o Italiano com quem fui.
Há duas semanas atrás tive aqui em casa uma cadelita, a Kiki. Supostamente era para ficarmos com ela durante uma semana para depois a dona a levar para casa, mas no fim a mãe da rapariga não quis a cadela e a Sophia decidiu ficar com ela. Eu adoro cães e com a falta que sinto do meu Puffy Manuel para mim não é transtorno nenhum, mas as minhas colegas de casa Italianas não pensam o mesmo, pelo que parece têm opiniões diferentes relativamente aos cães. A Sophia é que não gostou muito da ideia e foi uma choradeira e um clima um bocado chato aqui, mas realmente ela não devia ter trazido a cadela e pior, aceitado ficar com ela, sem antes ter falado com o pessoal todo da casa, apesar dela estar no quintal, e tirando ir roubar os ténis aos Chineses da casa de baixo não fazer estrago nenhum, elas têm o direito de não querer, afinal a casa é de todas. Moral da história, a Kiki foi de volta, não sei bem para onde, a Sophia foi chateada para casa dos pais trabalhar, deve estar a voltar e eu cá fiquei. Para mim, egoistamente, até foi melhor, porque não me queria estar a apegar ao animal, e daqui a 5 meses tinha que a deixar, já me conheço, ia ser choradeira certa.
Não me lembro de nada mais interessante para referir, a não ser que queiram que eu debite o que sei sobre retrovírus e o código genético?? Não… Bem me parecia!


Penélope, gosto de ti com batatas fritas, digam o que disserem, fazia te um filho, mas lá está... amigos como estes, querias não era? contenta-te lá em Volver!

A pedido dos fans....... e aceite pela insanidade nocturna e pelas músicas da Cher!

Nota da autora:
O Texto que se segue é absolutamente fictício. Qualquer semelhança com a realidade é pura especulação do leitor, sem que daqui advenha qualquer outra intenção por parte da autora que não seja apenas publicar uma extraordinária narrativa fantasiosa. Se a autora escrevesse cartas de amor seriam como esta, mas...."Todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas"

O objectivo seria uma dedicação, uma espécie de, vá lá, carta de amor electrónica. Ora, daqui advêm muitos problemas, um que estas coisas dos amores só em novelas de 5 min e eu nem padarias tenho, depois que as coisas assim electronizadas perdem muito o valor né, mas pronto, não querendo desiludir as 2 pessoas que lêem o blog, vou fazer a vontade ao público.
Depois duma declaração de insanidade como a anterior, nada melhor que uma declaração de amor, hã! Mesmo a calhar e assim, até fica bem, mas para poder a começar a escrever não vou falar em amor, vou apelidar carinhosamente de parvoíce, porque não gosto muito da outra palavra, é feia e má, assim parvoíce já ninguém me pode censurar de ter, nem eu me admirar.
Então vamos lá: a questão remota para anos anteriores em que esta suposta parvoíce pode ter surgido, terá sido numa outra vida, há 3 anos e meio, há 2 semanas? Não faço ideia de quando surgiu, mas só sei que está aqui, agora me apercebo que fui atingida pela seta do filho da puta do Cupido, se apanho esta besta, nem a boquinha de prata o safa.
Pode ser uma coisa boa estar aparvalhado? Poder ser sim, nos filmes, na vida real não é, na vida real só nos faz mal e por vezes até dá azia!
(A esta hora, esta história duma peixa apeixonada por um peixe já não tem credibilidade, o que me dá novas forças e quiçá imaginação para continuar.)
Ainda hoje não quero acreditar que me tenha acontecido isto…não quero acreditar que fraquejei… que fraca fui ao ceder a estes sentimentos que sempre lutei para não ter, sempre achei que não fui feita para ser parva e aparvalhar-me….
Quando estava perto sempre neguei com toda a minha força e agora longe é que me dou por vencida, agora aqui onde as oportunidades são nulas é que começo a pensar na hipótese? Não posso estar aparvalhada, não quero! Não tenho como lidar com estas coisas, não consigo pensar com clareza, só O tenho na cabeça, não consigo pensar em mais nada. É Ele que me vem á cabeça todos os dias, é Nele que penso em todas as horas, é com Ele que sonho todas as noites. E agora? E agora o que é que eu faço? Choro… Grito… Praguejo….. Como sempre a solução que me parece mais tentadora é cortar os cotovelos com uma colher afiadinha…
Volto a afirmar que não mereço o ar que respiro, não mereço o chão que piso, não é, com certeza, no perfeito uso das minhas capacidades mentais que faço estas declarações. Possivelmente resulta de um país estanho, de uma nova vida, de ribossomas (que são complexos enzimáticos que passeiam pelo mRNA e vão largando coisas - é esta a minha definição para a oral, já cá canta o 30), de serem 3 da manhã, resulta da solidão, resulta da saudade, e da merda das hormonas que não se consegue controlar e um bocadinho da Mafalda, vá lá, tem que se dar o mérito (Vai buscar!).
Não sei explicar, não sei justificar, nem sei qualificar, nem sei ao certo o que sei, sei que a distância é uma merda fudida e que começo a achar sentido em coisas como “não posso mais viver sem ti”, percebem a gravidade? É começar a sentir coisas destas e estar ás 3 da manhã a cantar a Cher – Onde está a Estrela, quem és tu?? Nem eu me reconheço, nem eu me compreendo. Será que era isto que os fans pediam, será que era isto que queriam que admitisse? Possivelmente não, mas é o que a hora me permite! Digníssima Cher: “Does he love me? I want to know, How can I tell, if he loves me so?”
Cher –“ If you want to know if he loves you so, It's in his kiss”
Olha merda, então e se tivermos longe minha porca???
Cher – “Oh no, that's not the way, And you're not listenin' to all I say”
Pois, faz-te de desentendida, convém né… agora não sabe o que responder, percebo bué de parvoíces e assim, ouve o que te digo… percebes o catano!



17 março 2007

Há coisas que não são normais...

Eu sou uma delas...Perguntou-me, ao ler o meu "querido diário", como é que ainda ninguém me encarcerou em algum lado longe da civilização?! Sejamos sinceros, tanta alma inocente a sofrer desmedidamente e eu aqui, a escrever e a dizer aquilo que me apetece?! Oh senhores, ao ler as minhas mais sinceras e puras dissertações pude constatar o elevado grau da minha insanidade! É por isso que acho que prefiro não reler aquilo que escrevo, ás vezes deparo-me com grandes obras literárias sobre as profundezas humanas, mas na maioria das vezes, pode-se dizer, aquilo que escrevo é uma autêntica bosta! Às vezes rio-me com tanta parvoíce, mas na maior parte das vezes choro com tanta idiotice... de qualquer maneira guardo todos os meus "queridos diários" desde os longínquos 10 anos de idade até aos dias de hoje. Pode-se dizer que mudou muita coisa, já não descrevo o meu dia com frases do género "hoje acordei às 10h da manhã e comi um iogurte", que a bem dizer é o que se deve escrever num diário, afinal as crianças têm sempre razão. Agora escrevo muito esporadicamente, quando a alma o pede, já não poderá ser chamado de diário, hum.... Talvez "querida menstruação", como é mensal e nem sempre é regular. (mas que piada de merda, cada vez mais acho que não mereço o ar que respiro… vou cortar os calcanhares e já volto!) Já não começo a escrever com o célebre "Meu querido diário" e sempre educada perguntava "Como estás? Eu estou mais ou menos, obrigado. Hoje …." Espero que esta de perguntar ao diário como ele estava seja comum a todas as crianças e que neste momento se estejam a rever nesta história, se não pode-se começar a antever quando surgiram os meus problemas, digamos, psicológicos. Agora o meu caderninho de miúda de 14 anos com a pita aos saltos já tem nome e tudo, chama-se Beringela, realmente já não pergunto como ele está, penso que seja o egoísmo adulto a falar, mas ainda continuo a escrever como se realmente alguém estivesse a ler e até já fiz grandes dissertações de como seria a vida dum diário, mas essa creio ser a prova viva da loucura e não a vou fornecer com tanta facilidade.
Para vos dar ideia do que estou a falar vou-vos deixar um excerto do texto que escrevi aquando da minha aventura no aeroporto de Milão que começava mais ou menos com "Eh lá! – Dizes tu – Em Milão?! Grande pinta! " (e passo a explicar, porque no inicio de cada texto tenho sempre local, data e hora, assim parti do principio que o Beringela se iria admirar por estar em Milão - doente!) "É pá nem me digas nada, tou aqui tou a explodir esta merda toda, só me apetece desatar aos gritos e correr pelo aeroporto com cartazes "Milão é cagão", AHHHHHHHHHHH".
Pessoa saudável eu?? err.......


Aqui está a prova...

13 março 2007

Teletransportem-me

Para a semana faz um mês que cheguei! Um mês....ainda falta tanto!! Não pensem que não estou a gostar, muito pelo contrário, estou a gostar muito, não me arrependo nada de cá estar, mas.... queria tanto estar em Portugal, porque raio não podemos estar nos dois sitios?? E tal teletransporte, hã?! Isso é que era, inventam tanta merda que não serve para nada, que isto seria um sucesso, "pera aí que vou ali a Portugal comer comida como deve ser e já volto", sim senhora... agora é a parte em que acordo, bato com a cabeça na mesinha de cabeçeira que não tenho e percebo que tenho que me contentar com pasta, pasta e mais pasta.
Tenho tanta saudade de tudo e de todos, isto é tão diferente, as pessoas são diferentes, o ar é diferente...não que seja mau, é apenas diferente.
Aqui é complicado fazer amigos, as pessoas são todas espectaculares, gosto muito de toda a gente, mas 5 meses não dá para fazer amigos, não dá para que as pessoas te conheçam. Quando a tua maior preocupação numa conversa é fazeres-te entender, o conteúdo não é importante, só queres que te entedam, só queres perceber o que os outros dizem, acabas por não conseguir mostrar quem realmente és. Esta luta diária intelectual de falar em todas as linguas e tentar perceber o que se diz á tua volta é muito cansativo! Sinto falta de falar português, sinto faltas das piadas, dos sotaques, das palavras só nossas ... e a saudade é tão só nossa, não se traduz, não se explica, sente-se!
Esta é realmente uma experiência inesquécivel. Há vários tipos de vida Eramus, há aqueles que vêm para a ramboiada, há aqueles que só querem estudar, há aqueles que querem passear e há aqueles, como eu, que querem tudo, porque acreditam ser possivel fazer tudo.
A ramboiada creio ser o mais fácil, já que é diária e casa sim, casa não. É uma oportunidade para conhecer pessoas, o que aqui é uma tarefa muito fácil. Em Portugal, quando estamos numa festa com pessoas que não conheçemos, primeiro á partida fomos convidados para a festa, depois esperamos que alguém nos apresente as pessoas que não conhecemos e com quem tentamos ter uma simples conversa de circunstância. Ora bem, aqui é relativamente diferente: primeiro vais às festas sem ser convidado, vês uma porta aberta, música, sangria...o que é que fazes? Lá está, entras. Pegas num copito de plástico, enfias a mão num alguidar de sangria e colocas-te estratégicamente de modo a fazer notar a tua presença, depois é esperar... começam a aparecer de todos os lados pessoas que dizem que não te conhecem, fazem um ar muito indignado com tal situação e estendem-te a mão, e assim, em menos de 5 minutos já conheces a festa toda. De seguida é partir para a próxima casa e proceder de novo ao jogo do conhecimento. E é assim, que conheces todos os estudantes da universidade e é assim que, quando passam por ti e te cumprimentam e não fazes ideia de quem seja percebes que abusaste da sangria.
Os cumprimentos é das coisas que mais me faz confusão aqui. Quando és apresentado a alguém dás um aperto de mão, seja rapaz, rapariga, seja professor, seja quem for. Depois quando já são amigos passam a cumprimentar-se com 2 beijinhos, seja rapaz a rapaz, rapariga a rapariga e rapaz a rapariga. Depois há a questão das outras nacionalidade, os Polacos dão 3 beijos, outros dão só 1, outros ainda não dão nenhum. Há ainda a situação da direcção dos beijos: os Portugues dão da esquerda para a direita, os Espanhóis dão ao contrário, os Italianos dão aqueles beijos mesmo como se vê nos filmes dos mafiosos, agarram na cabeça e cravam duas bjufas. Portanto quando se conheçe alguém, ou quando vais cumprimentar alguém é sempre a mesma situação de quem vai cumprimentar alguém da Torre da Marinha, quando vai dar o 2ºbeijo fica com ar de parvo, com os beiços esticados e a cara no ar... já me começo a habituar a esta situação. Nunca pensei que pudesse ser uma coisa tão complicada, só quero ver quando aparece algum palhaço a dizer que é do Ceilão e que lá se cumprimentam com um na boca .... passo a dizer que em Portugal os estalos na cara são comuns ... sou a única aqui, ninguém me contestará!!

09 março 2007

sono studente portoghese

Agora sim começou! Já estou na Universidade, já estou no campus, já sou uma erasmus student e não apenas uma turista que vive em aeroportos.
Os rapazes que me foram buscar, 2 italianos e 1 espanhol (também de Erasmus) levaram-me para a casa duma amiga deles, porque como cheguei tarde, os serviços rezidenciais já estavam fechados e eles não tinham chave e nem sabiam qual era a minha casa. Assim desabrigada fui levada para o Bloco 9, apartamento 5. Chegamos por volta das 18h, a tal amiga, Sophia, foi muito atenciosa quando me recebeu, e para meu espanto e alegria falavam todos inglês. Estava tão cansada que só queria mesmo um banho e uma cama. Assim, lá dormi que nem uma porca, na cama da Verónica, uma rapariga espanhola que estava a passear por Florença.
No dia seguinte, pelas 10h, o Marco, rapaz italiano responsável pelos erasmus foi-me buscar a casa para começarmos a tratar de toda a papelada. Lá fomos ao Centro residenzial, e depois de esperar uma catrefada de tempo para sermos atendidos, porque como diz o Marco, eles aqui trabalham sob o lema de "podes deixar para amanhã o que devias fazer hoje", e sobretudo rejem-se pela biblia do "devagar, devagarinho". Lá fui atendida, fizeram-me o cartão para a Mensa (cantina), porque cada vez que quizer ir comer tenho que levar o cartanito para passar o codigo de barras. E quando foi para me atribuir uma casa, qual foi o nosso espanto quando disseram que iria ficar no 9/5, no quarto com uma Chinesa. Grande pontaria, afinal tinha dormido na minha casa e não sabia. Assim não tinha que andar a carregar a farrusca de um lado para o outro, e as pessoas parecem porreirinhas, além de que o meu maior pesadelo não se realizou e não fui morar para os confins da montanha, que isto ter que escalar o monte para ir para casa todos os dias não era agradável para o meu joelho, já tava mesmo a imaginar a cena, sair até saía, descia a rebolar, agora voltar... ficava albergada na casa de alguém, acho que arranjava um moçinho só para o efeito, a única condição seria morar nos primeiros apartamentos, de resto podia ser feio, porco e mau que eu não me importava!!
Felizmente fiquei a morar a meio da montanha, onde está tudo, a Mensa, o centro residencial, mesmo na base do mundo, porque os que moram em baixo têm que subir e os que moram em cima têm que descer, eu fiquei no meio que é onde está a virtude, obviamente.
A casinha é bem porreira. É um apartamento para 6 pessoas, tem 3 quartos duplos e 3 casas de banho, que até têm um tamanho razoável, a sala é grandinha, a cozinha é uma kitchenet mas dá bem para o efeito, a varanda é do tamanho da casa e corresponde ao tecto da casa de baixo, tal como a nossa casa fica por baixo da varanda da casa de cima. Assim, as casinhas são todas em escadinha pela montanha abaixo, fofas, fofas!!
As minha companheiras de casa são bem porreiras, acho que tive muita sorte. No meu quarto está a Ying, ou Maria para os Italianos, é Chinesa e estuda farmácia; no quarto ao lado está a Sophia, Italiana de Turismo e a Verónica, Espanhola de farmácia; no último quarto está a Consiglia e a Maria Teresa, ambas Italianas e de Economia.
São todas impecáveis, acho que tive muita sorte com as companheiras de casa.
A Consiglia e a Maria Teresa só falam mesmo italiano, então quando conversamos é uma tarefa bem complicada, mas são muito simpáticas. A Vero é um amor, super simpática e acessível, mas está pouco em casa porque está sempre na casa do namorado Paco que também está cá. A Ying é super querida, muito atenciosa, costuma ser a minha companheira na Mensa, vou comer sempre com os Chineses, são muito simpáticos e interessados por tudo e falamos sempre em inglês, que nem eles nem eu nos damos muito bem com o italiano. Gosto muito de tar no quarto com ela, super sossegada e percebe de informática o que me dá um geitão! LOL. A Sophia é aquela com quem me dou mais, porque costumo sair com ela e com o seu grupo, gosta de cozinhar e de passear e é a minha professora particular de Italiano.
Seguindo os conselhos da minha avozita, já sou amiga do senhor da cantina o que dá uma geitão do caraças!! A comida aqui não presta, mas as pessoas são do melhor, acho que é mesmo o melhor deste país, as pessoas simpatiquíssimas e super atenciosas, mesmo não te percebendo, claro que há sempre aqueles que deviam ter uma overdose nos olhos, mas isso há em todo o lado, né?
Agora os próximos passos é tentar perceber como funciona esta país, que é tudo tão diferente e estranho, tratar das cadeiras, afinal foi isso que vim aqui fazer, passear muito e fazer amigos, piú amicos!!

08 março 2007

sai uma vida calabresa!!

Se algum dia eu for jogar no "um contra todos" e me sair a pergunta "quem são os piores condutores do mundo?", sei que muitas pessoas que me querem razoavelzinhamente bem diriam que sou eu mas enganam-se, são sem sombra de dúvida os Italianos. Eles próprios admitem, aqui não há regras de trânsito, qual direita qual quê! Aqui é a selva urbana meus amigos, quem tiver paúra não se safa aqui, a melhor estratégia pelo que percebi, é enfiares-te nos cruzamentos de olhos fechados e a rezar o Pai Nosso, pode ser que tenhas sorte. Quando saí do aeroporto fui apanhar o autocarro para a estação de comboios, no caminho tive cerca de 4 taquicárdias por minuto e um ataque de azia! É de notar que em cada 10 carros, 9 estão escavacados, com faróis partidos e mossas de bradar aos céus. Os peões são kamikazes, porque como as passadeiras não são mais do que reflexos do sol que ninguém olha directamente, atiram-se para a estrada como quem está a viver o seu último dia e seja o que Deus quizer, é ver o autocarro a parar numa rotunda para dar passagem a um peão desgovernado, é assistir impávida e não serena ás rasías mais impressionantes da minha vida!! Era ver-me a mim, em pé no autocarro, agarrada á farrusca e a rezar ás fadinhas, com comentários como "faltou-te um bocadinho assim" e "foi por um triz vizinho, por um triz"... é claro que o senhor estava-se pouco a cagar para a minha pessoa e muito menos percebia o que eu dizia. A minha experiência por Nápoles passou por um jogo de sobrevivencia, sem dúvida. Quando saí do autocarro e percebi que teria que atravessar uma estrada de 4 faixas para ir para a estação, com a farrusca, (que tem um quê de mula e quando eu tou no meio da estrada e com pressa tem a mania de virar as rodas e prender-se no asfalto), começei a olhar para o lado a procurar um sítio agradável para viver, porque não ia com certeza ter coragem de atravessar as faixas assassinas. Devo ter ficado a olhar para a estrada assim uma boa meia hora, até que percebi que não era a única, um casal asiático estava com a mesma cara de quem não tem vontade de arriscar a vida, mas lá demos as mãos cantámos uma canção e enfiamo-nos os três de olhos fechados á espera de sentir a pancada.
Chegada á estação fui comprar o bilhete para Castellione Consentino, a terrinha mais perto do campus onde me iriam bucar. Comprei um que estaria a sair nesse mesmo momento, portanto corri o mais que pude com a farrusca atrás, mas quando cheguei lá não havia comboio nenhum, claro que mais uma vez me pus a perguntar a toda a gente pelo comboio, porque nunca quero crer no óbvio e tenho sempre esperança que o comboio apareça do nada,a dizer "eh eh, estava a reinar contigo pá, tava só a ver o que fazias", é claro que levava um estalo a seguir, mas pelo menos apanhava o comboio. Lá voltei para o senhor pronta a rodar a baiana porque tinha sido enganada e comboio já não lá tava, assim tive que apanhar outro que tinha que fazer escala em Paola e lá fui mais uma vez numa cabine apertadinha, cheia até as orelhas, com a mala, perdão, farrusca no corredor. É claro que com a sorte que tenho, calha-me sempre em frente um casalzinho esfomeado a fazer o amor e eu a começar a ter convulsões com tanta javardice. Quando quiz saber se faltava muito, a senhora que estava ao meu lado pergunta se eu falava inglês, eu muito contente disse que sim, e ela muito orgulhosa manda a filha falar comigo, a miuda muito envergonhada diz que não sabe, mas mesmo atrapalhada me explica. Foi assim uma longa viajem até Paola, onde estive 15 min á espera do outro comboio para Castelione Consentino, cheia de fome. Mas não fui ao café da estação porque estava na linha do meio e para ir até ao café tinha que atravessar uma data de linhas de comboio com a farrusca, porque não a ia deixar abandonada no meio da linha cheia de pessoas estranhas, e se tentasse atravessar as linhas, já estava mesmo a imaginar a cena: a farrusca presa na linha, um comboio a chegar, a Estrela a ir...
Assim lá fiquei esperando o comboio que fez uma viajem curta até Castelione, chegando lá, já noite, tenho 3 belos ragazzos á minha espera, pensei que a coisa ia começar a correr bem, e lá fui com eles no carro para o campus, sempre a rezar para não ter entrado no carro errado, e eles não serem as pessoas erradas, mas como sabiam que eu era a Matilde, (até aqui!!) confiei!
Finalmente Universitá della Calabria!


06 março 2007

Terminal de aeroporto

Qual Tom Hanks qual quê!! Eu queria ver se a sua vidinha tinha sido tão fácil se tivesse no aeroporto de Malpensa, onde não há amigos, a comida não presta e a mala não cabe na casa de banho, Ah e tal! vivi num aeroporto 20 anos, sou tão triste...
Posso dizer que eu sim, já vivi intensamente num aeroporto. Ora bem, a primeira coisa que me passou pela cabeça quando percebi que ia passar mais que 24h ali foi, que era estranho as hospedeiras usarem pensos rapidos nos pés, no sentido em que já deviam estar habituadas aos saltos, mas depois disso, pensei "Mas que merda vou eu fazer aqui?!" Primeiramente foi necessário uma averiguação do terreno, então andei a sondar a área, é de notar que sempre com o malão atrás, para tentar arranjar um poiso agradável para viver, colocar a minha caixa de cartão e o jornal para dormir. É certo que sempre que arranjava um sitio agradável logo me fartava dele, assim era mudar de poiso e tentar retomar a vida errante. Não me lembro de muitas coisas dessas horas tão pouco lúcidas, o meu subconsciente fez questão de absorver todos os sentimentos não muito agradáveis que por mim passaram, como belo sistema imunitário da alma que é, claro que daqui a uns anos me vou perguntar donde surgiu o tumor, mas essa é outra história. Lembro-me de sentir que as pessoas olhavam muito para mim e que a policia passava por mim demasiadas vezes. O certo é que não podia andar muito de um lado para outro porque tinha a mala de 30kg (a partir de agora vou chamá-la de farrusca, para facilitar) atrás, porque se a deixasse algures o mais certo era rebentarem com aquilo, que isto em aeroportos nunca se sabe.
Assim, as horas mais fantásticas da minha vida foram passadas a tentar arranjar o que fazer. Joguei solitário no computador,que durou pouco por causa da bateria, mas o que me deu outra tarefa para me entreter que era tentar arranjar uma tomada compatível para a ficha do computador, assim era ver-me com a farrusca atrás, de cú para o ar em todos os postes a tentar experimentar as tomadas... se o meu subconsciente não tivesse apagado estas cenas, com certesa já teria cortado os calcanhares... bom, adiante! Li o Equador, mas é claro que uma pessoa não consegue tar 24h a ler, muito perto tive eu de começar a recitar alto as falas para os traseuntes e começar a representar a história com a ajuda da farrusca, faltou mesmo muito pouco...
De vez em quando ia ao café beber um capuchino, fazer desenhos nos guardanapos e imaginar as pessoas despidas. Tentava aceder aos postes de internet de cobravam 1€ por 5min, mas que encravava e não me deixavam fazer nada, e era só ver o tempo a passar e o dinheiro a sumir. Houve uma altura em que a caixa multibanco não funcionava, a única daquele aeroporto, então fiquei a desesperar sem dinheiro, porque acontece-me sempre isto, deixo acabar o último tostão até ir levantar,depois fico a salivar. Pensei que além daquilo tudo ia morrer de fome porque não tinha dinheiro para comer, e não podia embarcar no dia seguinte porque não podia pagar o excesso de bagagem pois não aceitam cartões. Assim depois de imaginar todos os cenários possiveis, como por exemplo, explodirem me a mim por estar abandonada no aeroporto, lá fiz uma dança da chuva à máquina e ela deu-me o bendito dinheirinho.
De vez em quando ia á casa de banho aperaltar-me, tentava enfiar a farrusca naquelas portas onde mal cabia eu, desarmava-a para tirar o material, lá lavava os dentes, penteava-me, mudava de roupa, bom,lá está, vivi mesmo ali.
Tentava dormir naqueles bancos tão confortáveis e com a calmaria que é um aeroporto, tentava distrair me com o que se passava á minha volta, tentava dizer mal dos outros a mim própria, posso dizer que estava literalmente farta da minha pessoa e já não me podia ver mais á frente!
A noite até se passou depressa, porque afinal não sou a única a viver no aeroporto e durante a noite o pessoal começou a acampar por ali e ficou tudo silencioso, e até dormi razoavelmente, com a famelga a telefonar de vez em quando a ver se eu ainda estava viva. No dia seguinte foi acordar, fazer o banco/cama, e ir com a farrusca á casa de banho lavar as ramelas e acordar para vida. Encontrei a minha amiga italiana, que disse que andou á minha procura e que espalhou pelos italinos todos que eu tinha dormido ali sozinha,assim, o resto da viajem, até chegarmos, fui adoptada pelos passageiros italianos que nunca me deixavam sozinha e era sempre "andiamo" e a dizer o que tinha que fazer e a tentarem me explicar tudo, eu era a pequena farrusca deles. Finalmente lá embarquei, desta vez consegui ficar á janela e mais uma vez á frente dos hospedeiros que desta vez eram um casalzinho.
Finalmente cheguei a Napóles, das cidades mais loucas que já vi na minha vida...
Ciao Calabria!


01 março 2007

Seguindo viajem

Ora bem, o que se passou de mau depois da noite de Milão foi a manhã do dia seguinte. Acordei ás 5h da manhã, porque o aeroporto é em Malpensa, a 50 min da cidade, e ainda tinha que apanhar o autocarro para a estação central. Lá fui eu toda serelepe, mais uma vez com uma mala de 30kg, mas desta vez sozinha, claro que não me atrevi a ir de madrugada, desacompanhada, em metropolitanos de aspecto duvidoso e com uma mala desta carga atrás, assim preferi ir de autocarro e lá fiquei eu meia hora, numa paragem estranha que só se identificava pelo sinal do Macdonalds, á espera dum autocarro nao sei bem qual. Era ver-me a imaginar todos os cenários possiveis comigo feita pega na berma da estrada, mas em vez da mala a tiracolo tinha um malão com aspecto de ter dentro um cadáver... bom, vá lá, também não tinha mini-saia! Enfim, consegui sobreviver á avenida e á madrugada de Milão e lá apanhei o autocarro para a estação central. Para variar não tinha bilhete, e o senhor motorista não vendia coisas dessas, assim, entrei rezando para não aparecer nenhum revisor, se não ia ser o bilhete de autocarro mais caro da história. Lá me sentei num cantinho do autocarro, a abarrotar de trabalhadores, com um malão a impedir quem quer que seja de passar. Devo ter tado sentada naquele autocarro uma meia hora sem saber onde estava, nem para onde estava a ir, quando o meu instinto fatal me diz que se calhar era melhor perguntar qual a paragem da estação central, porque como estava sentada a unica prespectiva que tinha eram rabos, muitos rabos... com uma sorte dos diabos, perguntei onde era a paragem segundos antes, consegui sair a tempo e no sitio certo, facto novo para mim. Assim, cheguei á estação central com o autocarro para o aeroporto a sair nesse preciso momento, pensei cá para mim, que até estava com sorte, "pode ser que o avião não caia". Cheguei ao aeroporto uma hora antes do chekin abrir, tomei o pequeno almoço, um sumo de laranja vermelho que me intrigou muito e fiquei esperando as 8 e meia para o chekin. Quando abriu lá fui eu com o meu malão, pagar o excesso de bagagem, e esperar o voo, sem o peso do cadáver. Passei por aquelas lojinhas todas, perfumei-me de graça com as amostras manhosas e lá andei eu até á hora do embarque. Até aí tudo bem, estava com paciência, um pouco ansiosa de chegar á universidade, mas estes momentos assim são bons para pensarmos e reflectirmos na nossa vida.
Telefonei á minha mãe mesmo na hora do embarque a dizer que ia sair nesse momento quando começo a ver toda a gente a dirigir-se para o quadro de embarques, desliguei e quando olhei melhor é que percebi "Canceled/Anullato". Ai senhores, não pode ser... Lá andei a perguntar a uma data de pessoas o que queria dizer anullato, porque com certeza não era o mesmo que em portugues, mas todos me deram a mesma resposta, claro que era, a merda do voo foi cancelado, então e agora?? Os momentos seguintes foram muito rapidos: italianos enraivecidos, uma daquelas senhoras das companhias muito simpática a dizer o óbvio, que a companhia não tinha culpa e que por ela podiamos morrer todos com uma overdose nos olhos... Bom, sem saber muito bem o que fazer, com montes de gente a falar italiano uns com os outros e eu sem perceber absolutamente nada do que se estava a pansar, tentei encontrar alguém que falasse ingles e no fim daquela confusão lá percebi que só teria voo na manhã seguinte, e se quizesse que a companhia pagasse hotel e essas coisas teria que pagar e mandar as contas todas para a companhia e esperar que eles dissessem que tinham menos dinheiro que eu. Ora a prespectiva de andar outra vez para tras e para a frente com aquele malão, com dores no joelho, sem perceber pevas daquilo, gastar mais nao sei quanto dinheiro em transportes e dormida, não me pareceu muito agradável. Assim decidi ficar no aeroporto, ir buscar paciência a todas as fadas e duendes e ficar 24h sozinha no meio dum aeroporto.... muito bem, decisão tomada, mas e agora onde está a minha mala?
Outro filme para encontrar a mala, eu sem perceber nada do que se estava a passar, uma senhora italiana que estava com o filho de 6 anos, perfilhou-me porque me viu com aquele ar de quem quer cortar os pulsos, mas não encontra a faca. Ela não falava ingles, e eu não falava italiano, ela só dizia "Andiamo", ora e eu andiava atrás dela, não sei para onde. Depois de uma esbaforida conversa entre os seguranças e a multidão enraivecida em busca das suas malas, e depois de um guarda dizer que para irem para o porão da bagagem tinham que passar pelo corpo dele, e eu pensar que ia haver motim dos grandes, lá conseguimos as benditas malas. Acho que a senhora depois queria me levar com ela para ir dormir á casa da filha, pelo que percebi, mas acabei por me perder dela e lá fiquei eu para uma aventura no aeroporto de Malpensa!!