17 novembro 2008

Dores no braço esquerdo

Uma vez mais, e porque acho que já tinham saudades, venho por este meio queimar calorias para provar o meu ponto de vista: É extremamente imperativo uma aliança para pessoas recém-separadas-que-se-amavam-mas-já-não-e-é-chato-falar-sobre-isso.

Explico o meu desconforto: Nunca vos aconteceu encontrarem algum velho amigo que namorava há uma eternidade e vocês perguntarem muito respeitosamente pela cara-metade? Sim… qualquer pessoa faz isso. Mas quando recebem respostas como “Não sei… Deve estar bem” com ar de quem levou no rabiosque e não gostou, a única coisa que vocês desejam naquele momento é que surja um veículo a grande velocidade que vos ponha em paralelo com o asfalto para desbloquear a conversa, não é?

Comigo é, e acontece-me com relativa frequência o que é de todo muito irritante.

É por isso que sugiro que se faça o mesmo que com as capas dos estudantes. Ora uma pessoa anda anilhada e rasga a capa a meio para o mundo saber que têm a passareca satisfeita, quando acaba a javardice cozem o rasgão a dourado para dar bem nas vistas o estado de necessidade. Para os recém-ex-namorados impõe-se algo semelhante. Já que vos parecerá inconveniente andar por aí com rasgões cozidos a dourado e não me parece que aceitem que vos escrevam na testa com marcadores de gado, fica aqui a sugestão de uma aliança de cor bem notória, tipo vermelho como a paixão que acabou e com um grande “Single” gravado a fogo de modo a impedir este tipo de constrangimentos a pessoas de bem, como eu, que só e apenas querem ser bem-educadas. Tenho ou não tenho razão?

As perguntas que me fazem são doutro tipo. Anda aqui uma pessoa na míngua e ainda tenho que ouvir com questões do tipo “Então e já casaste?”. Eu na maioria dos casos respondo com um “Casei sim senhora, com o Senhor!”, enquanto olho para o céu com um ar muito comprometido e reviro os olhos. É que realmente responder que “ainda não, não tenho namorado” leva a olhares de pena, piedade, desconfiança e afastamento como se fosse algum tipo de doença ou assim. Deve haver bonito boato sobre mim nesta cidade…

Claro que a minha mãe arranja a desculpa que eu não tenho tempo para isso por causa dos estudos, o que é de todo verdade. É por causa do tempo dispendido nos estudos que eu ando aqui na seca e ainda não encontrei o gomo da minha laranja, a asa do meu avião, a farinha do meu saco, o ponto do meu i.

E estas situações acontecem-me com muita assiduidade já que nesta aldeia tudo é motivo para todos falarem. Sair à rua é pontaria certa para encontrar alguém que ou me pergunta como foi o parto, porque acha que tenho ar de quem andou a expelir pequenas pessoas pela pélvis. Pelo amor do Senhor (meu marido)… minha gente… eu nem mamas tenho!!!! Ou gente que namorava desde os 6 com alguém e de repente descobrem que afinal há outros pénis por aí…

Sim, isto foi feio. Pénis é uma palavra muito feia… mas se começar aqui a falar em pilinhas juro por Deus que depilo as veias com gilete. Não há palavra mais triste que “pilinha”… recuso-me a dizer tal coisa (que não se olvidem que estou a escrever e não a dizer)!

Bem, está muito claro que além da dita aliança muito necessária para evitar silêncios constrangedores, o melhor a fazer é mesmo eu não sair de casa para evitar respostas e perguntas que só me apetecem refutar com três ou quatro pedradas.

Se eu vejo mais alguma colega de escola com 3 filhos, 2 cães e um marido alcoólatra, vou começar a sentir dores no braço esquerdo…

Onde está o meu homem de barriga de cerveja, com a unha do dedo mindinho grande e suja, com selva a despoletar do nariz e das orelhas, com espuma de cerveja da semana passada nos bigodes? Alguém para quem uma bonita musica inclui gazes e arrotos, alguém que me alargue a cozinha para eu ter mais espaço, alguém que conheça as meninas do bairro pelo rabo, alguém que me insulte como quem diz que me ama, alguém que me bata como quem me acaricia… Onde está? Onde, pergunto?

É que se souberem mantenham-no aí escondido e digam que eu morri de congestão ao espetar o umbigo quente na pia da roupa fria…

Moral da história: Só tenho pena de realmente não queimar calorias enquanto escrevo estas porcarias. Já aqui tinha uns 5 Equadores e já tinha alcançado o factor 20.

Mas uma coisa é certa… não queimo as calorias mas queimo os neurónios. Nota-se?

15 novembro 2008

Natal

Há realmente uma altura em que os filhos têm que sair de casa. Não faz sentido continuarmos no quarto que nos viu crescer e que já não tem nenhuma novidade. Não faz sentido querer crescer numa casa onde sempre serás uma criança e não tens voto na matéria. Viver com os pais, depois de uma certa idade, torna-se ridículo. Estar em casa dos pais a parasitar é o cúmulo. Mas o que é que eu estou a fazer aqui?

Para mim não há pior tarefa do que não ter absolutamente nada para fazer. Prefiro a pressão do mundo em cima de mim e ter que mil coisas para fazer, do que não querer acordar por não ter nada que fazer.

Os meus dias têm sido de uma inutilidade estonteante. Deito-me às 3 da manhã e acordo às 3 da tarde. As 12 horas que estou acordada são de tão grande proveito como aquelas em que estou a dormir. Não tenho nada para fazer, não vejo futuro de ter alguma coisa que fazer e a vontade é nem me levantar porque não tenho por que o fazer.

Já mandei mais de 100 currículos e nem uma resposta. Nem positiva, nem negativa. A ignorância tem sido o principal feedback que tenho tido dos meus emails. Será que escrevo alguma coisa que ofenda e choque?

Não tenho dinheiro para poder sair daqui, não tenho dinheiro para poder ir tirar um mestrado que está tão na moda, não tenho dinheiro para nada, não tenho nada para ter dinheiro.

Sinceramente não me apetece levar a chapada na cara de ir sentar-me atrás de uma caixa de supermercado ou por o avental para servir à mesa. Não tenho qualquer problema de o fazer, desde os meus tenros 14 anos que aprendi que se quero ter dinheiro para gastar tenho que trabalhar para o ter, e sempre o fiz. Mas agora não… não depois de me ter esforçado tanto para tirar um curso… não depois de todo este investimento financeiro e pessoal… não depois de realmente ter um diploma.

Estou a odiar esta fase da minha vida, estou-me a odiar a mim própria, estou a odiar o mundo por não me responderem. Odeio não ter nada de útil para fazer, de não saber como vai ser a minha vida, de não saber o meu futuro, de não ter dinheiro para sequer comprar o jornal do dia, odeio isto…

Estou uma pior pessoa por estar assim, não falo, não converso, não me rio, não choro, não penso….

Só me apetece sair daqui para onde quer que seja, qualquer inferno será melhor que isto. Quero chegar a outro sítio novo, quero conhecer gente, quero ter planos, quero ter vontade de acordar.

Quero reclamar porque tenho que me levantar para trabalhar, quero chegar a casa cansada, quero sentir-me exausta, quero querer férias, quero poder comprar o que me apetecer, quero viver….

Não estou a viver, estou a sobreviver, simplesmente respiro e isso permite-me que as horas passem e eu ainda aqui esteja.

O desespero toma-me conta da cabeça e nem consigo escrever coisas extremamente estúpidas como gosto de fazer. Não consigo falar com pessoas, não me apetece sair de casa para que me perguntem o que estou a fazer, só me apetece adormecer e realmente não acordar.

Este ano não há Natal.

09 novembro 2008

A Estrela da Passarela

A minha vida poderia dar um daqueles filmes mesmo maus em que nos perguntamos o porquê de nos estarmos a sujeitar a tal tortura e de ainda não termos mudado de canal, mas ao mesmo tempo não nos apetece levantar para procurar o comando e ficamos a assistir àquilo com certos e determinados gazes. Daqueles filmes em que nada faz sentido e onde de vez em quando aparece um urso polar no meio duma ilha tropical, mas cujos autores defendem que no final conseguem arranjar explicação para isso. Ora há muita coisa que eu tento explicar e não consigo, há muitos ursos que surgiram na minha vida e para os quais ainda não encontrei sentido. Mas acredito que é graças a esses mamíferos de grande porte que eu consigo escrever aqui certas e determinadas porcarias muito dignas de audiência.

Claro que de vez em quando puxo ao sentimento e saem coisas que não deveriam sair. Já disse a mim própria que esses jorros de sentimentalidades deveriam ficar retidos no papel e não publicados para com quem de hábito convivo, isto é, ter pessoas reais a ler-me o intimo pode não correr bem e a verdade é que é muito perigoso. Assim, e porque o anterior puxava muito ao interior, venho tentar dissertar sobre mais alguns ursos da minha vida para descontrair o ambiente e tentar que o público olvide que eu por vezes até sou uma rapariga de sentimentos.

Hoje em conversas de café foi-me recordado um episódio da minha vida, ou melhor, um grande urso que me fez levar um grande melão. Esta é uma história de champôs, iogurtes e muita realidade.

Era eu um reles bicho e muito imundo que acabara de entrar na muy nobre y digníssima Universidade de Évora, quando de repente tudo é novidade e eu sou novidade para tudo. Foi por ser carne nova no pedaço que comecei a ouvir muitos elogios à minha pessoa: Ah! És tão gira! Ah! És tão fofa! Ah! Tens um cabelo tão bonito! Ah! E se te calasses?... Coisas do género, bem bonitas.

Ora eu, Sineense de toda uma vida, não estava habituada a tanto elogio. Normalmente por estas bandas, quando até tens um certo apresso por alguém, o máximo que pode acontecer é não lhe fazeres tanto mal no próximo assalto, agora elogios nunca… isso é mariquice!

Inchada de tanta consideração por uma pessoa que eu até achava que era bem feinha e parvinha, levou-me a criar grandes expectativas não só de um possível papel naquilo que é o bonito processo da procriação, mas também no mundo do espectáculo. E foi assim que ao ver o anúncio “Se tens um cabelo bonito, forte e saudável, vem concorrer aos cabelos Pantene!”, me enchi de coragem e fui testar o meu factor X.

Depois de muito ponderar, tentada a acartar que as pessoas tinham razão quando me diziam que eu era tão fofa como um foca bebé, e acreditando que realmente possuía um cabelo forte, bonito e saudável e nada pressionada pelo prémio de 5000€, resolvi mandar as minhas fotos de corpo inteiro com o fundo do Corcunda de Notre Dam para o dito programa. “Bom, não perco nada. Se não me chamarem, pelo menos não podem dizer que não tentei, né?....

Não… Os filhos daquela que não tem culpa chamaram-me. O que é que isto cria? A expectativa que eu até poderia ser mais gira que a Penélope Cruz e que o problema sempre foi os meus olhos e os espelhos em que me via… “afinal eu mandei fotos”… e na altura não sabia trabalhar com o Photoshop….

Ora, já não bastava a barriga de aluguer e o rabo de petroleiro, ainda fiquei mais inchada porque tinha sido convocada para o Casting. Cá para mim, eles nem olharam para a puta das fotos e o que queriam era povo, gente, carne…e provocar o suicídio colectivo às baleias que lá apareceram achando que tinham o cabelo bonito.

Lá fui eu arrastar a dona mãe para a grande capital com o fim a ir ao casting da filhota que afinal até era gira… Ela realmente custou a acreditar que me tivessem chamado…. As mães têm sempre razão…

Quando lá cheguei a primeira bolacha na cara ocorreu quando percebi que aqueles senhores feios, porcos e maus iriam estar a fazer a mesma parvoíce em Évora no fim-de-semana seguinte, e que eu fui gastar dinheiro a Lisboa só porque me apeteceu… “é melhor mesmo ganhar a merda dos 5000€ ou rodo a baiana já aqui!”.

Quando lá cheguei foi notório o meu embaraço ao olhar para raparigas que tinhas as pernas da grossura do meu pulso e gente que quando estavam de lado não se viam. Nunca na minha vida vi tanta gente com o claro objectivo de terem a curvatura dum lápis nº2. Mas ainda aqui tentei não dar muita importância ao assunto já que não era a única parva que ali estava. Quantas Beauty Queens dos anos 60 como eu andavam ali com o ar aparvalhado de quem foi violado e não deu muito por isso. Via-se perfeitamente, quando as super modelos de punham de lado ficando praticamente invisíveis, que havia ali muita gente a desejar ser invisível. Eu também fui tentando escondendo-me entre os postes, mas realmente o meu rabo não me dava muitas hipóteses e fui muitas vezes olhada de cima a baixo por gente comedora de iogurtes. Tenho a dizer que nunca na minha vida me tinha sentido tão comestível como ali. Comecei a imaginar que na cabeça daquelas criaturas que nunca provaram um torresmo eu era um belo do leitão a escorrer gordura e com uma maçã na boca. Muito medo. Hoje os meus medos são esses, pandas e super modelos.

Mas continuando: Lá fui chamada para a sala de castings onde os belos, giros e magros eram levados a tirar fotos a fazer beicinho e pose de garupa de moto. A senhora quando me viu, olhou para mim como quem vê um cão num concurso de gatos e pergunta “Porque é que você está aqui?”…. Eu pensei para mim que esta seria a minha oportunidade de perguntar se ali não era a convenção dos amigos dos animais e fingir que tinha entrado na porta errada, mas não… resolvi responder o que me pareceu óbvio, mas estúpido “Bom…acho que tenho um cabelo bonito, forte e saudável” disse eu a medo e com o mesmo ar de quem está a ser violado mas não sabe muito bem por quantos…

A senhora lá me pediu para desamarrar o cabelo, só naquela de me dar um pingo de esperança e depois sorriu e disse “Realmente tem um cabelo bonito” …. “Obrigado por ter vindo, depois entraremos em contacto consigo caso precisemos de fazer um desfile XXL para pneus de camiões T.I.R.”.

Eu olhei para aquela gente à minha volta e rezei para que Deus estivesse a ver aquilo com uma arma apontada com fim a acabar com o meu sofrimento ou que houvesse algum tipo de sala colectiva onde ficavam os rejeitados e onde houvesse câmaras de gás. Mas o mundo não é como sonhamos e tive que sair da sala e encarar aquelas miúdas acabadas de sair do molde com um ar muito superior e com os mamilos a ameaçar vazar um olho a alguém.

Ainda tive direito a um penteado de graça, isto é, a uma trança mal feita por uma brasileira que realmente achou o meu cabelo bonito, forte e saudável…. Mas eu já não estava para elogios e finalmente percebi a filosofia de Sines, que nos faz rijos e duros porque a vida é assim. A vida não nos elogia e só é uma passarela para quem apenas digere diariamente um copo de água (coisa má linda!).

Agora criei um clube das rejeitadas (além do clube das solteiras e encalhadas) que obviamente tem como objectivo reuniões mensais com quatro ou cinco cabo-verdianos para nos tocarem no banho. Posso não ter o factor 20 (menos 20 kg e mais 20 cm) mas tenho senhores altos, espadaúdos, morenos e sensíveis a tocarem-me no banho!

Está bem… não tenho… mas hei-de ter C%$ra”#$%lho!!!!!! Há-de faltar carne para tanto espeto do amor, e hão-de ser poucas as pegas para tanta mão bronzeada.

Tenho dito.

08 novembro 2008

Hoje não....


Acabei o curso, acabei o curso, acabei o curso, acabei o curso.

Não sei se vos disse, mas acabei o curso.

E hoje diz que chove… e acabei o curso. Ah… acabei o curso.

Estou contente? Não…. Hoje não… hoje não estou… Hoje, a grande frase da minha mãe “a minha Estrela já acabou o curso e ainda não tem namorado” começa a tomar um outro sentido. Hoje desejei ainda ser embrião e ter tudo para experimentar. Hoje desejei não acordar…

Não posso deixar de referir o bom que foi ter finalmente a minha queima. Ter finalmente o final que queria, com as pessoas que queria e com o espírito que queria.

Ver o árduo trabalho de um ano recompensado com uma boa nota e acima de tudo com boas palavras foi tudo o que desejava e tinha medo de não ter. Acreditem quando vos digo que mais do que o belo do 19 foi realmente importante ouvir que deixámos quem queríamos impressionar realmente impressionados. Foi ver o trabalho reconhecido por quem o percebe, foi ver os frutos de todas as lágrimas, foi ver por fim a cria que há muito tempo me contraia para sair. Foi ver aquilo que criei com muito suor, sangue e lágrimas.

O dia 30 foi tudo para mim ainda mais porque estava comigo quem é tudo para mim. Algumas das pessoas mais importantes da minha vida conseguiram estar comigo neste que foi o meu dia, neste que foi o meu momento, neste que foi o meu final académico.

Foi tão bom ter quem me quer tanto junto de mim, foi tão bom sentir o carinho, sentir o orgulho, sentir que o tempo não passou e que finalmente passou. Foi muito importante para mim e não esquecerei todos os que tiveram comigo, todos os que se esforçaram para isso e todos os que acharam que valeu a pena. Para mim valeu muito a pena, para mim foi tudo o que sempre quis e foi tudo o que desejei. Ter-vos lá e ter no coração quem não pode estar.

As minhas palavras não servem para exprimir o quão feliz eu estava. Deu para perceber até no estado embriagado que realmente havia algo de novo, algo diferente. Eu já não era a Estrela que chora e tem sono em locais íngremes onde não devia ter. Eu agora sou a Dra. Estrela cujo álcool faz rir, faz rir muito, faz dançar, faz-me sorrir. Sim, sentia-me realmente diferente, mas acima de tudo sentia-me feliz por vos ter ali e foi isso que se demonstrou que a quantidade de canela que bebi e de pizzas que ingeri. Eu ri porque queria rir, eu dancei porque queria dançar eu estava feliz porque realmente estava.

Agora já passou. Agora estou de volta. E agora?

Não sei para onde me virar. Não sei o que fazer. Não sei como vai ser o meu futuro. Não sei que futuro terei. Não sei quem estará comigo nesse futuro. Não sei nada. Não sei como vou acabar. Não sei nada. Odeio não saber nada.

E é por não saber que eu hoje não estou contente. Hoje não estou feliz. Hoje simplesmente não consigo sentir-me feliz. Hoje só quero dormir.

Sei que quando espreitam este meu cantinho anseiam gargalhadas e um bom momento de riso. Peço desculpas por hoje não vos poder proporcionar um sorriso que seja. Acreditem que gostava. Acreditem que gosto de o fazer. Mas hoje não consigo…. Não hoje… não por enquanto.