23 fevereiro 2009

O Presente

Já dizia António Gedeão que “Sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança, como uma bola colorida, nas mãos de uma criança”. E eu tenho sonhado. Tenho ousado fazê-lo, apesar de muitas vezes não o admitir, não o dizer.

As vontades e ambições vão se concretizando pouco a pouco e parece-me a mim que estou numa fase boa. 2009 Está a ir bem.

A nível pessoal estou satisfeita e realizada. Sinto-me querida, sinto-me amada e melhor ainda, sinto-me desejada.

Profissionalmente parece-me que as coisas se vão encaminhando. Fui seleccionada para um estágio profissional que irei começar no próximo mês e com isso retorno a casa, à velha Évora, às calçadas e capelas. Retorno às memórias e lembranças de tempos bem passados. Retorno aos amigos que se mantiveram e Às ruas que serão sempre as mesmas. Retorno à vida Eborense, da qual já sinto saudades, mas volto diferente.

Volto com outra postura, outro estatuto, outras vontades e quereres, outras necessidades e ambições. Não serei mais o bicho reles e imundo que emporcalhava a cidade, sou agora uma doutora licenciada que trabalha e contribui para a sociedade. Sou grande e senhora de mim e tenho em mãos um grande projecto, grandes ideias e muita vontade de trabalhar.

Espero conseguir morar sozinha e poder assim partilhar o meu lar com quem mais desejo. Espero conseguir aforrar o suficiente para um futuro incerto. Espero, neste ano que se avizinha, poder começar a construir os alicerces de um porvir feliz e acompanhado.

Isto para vos dizer que as coisas se vão encaminhando, pouco a pouco, e que por isso me sinto feliz e tranquila. Estou a torcer com muita força e sinceridade para que todos aqueles que eu quero bem sem sintam assim também e que as vossas ambições sejam em breve, realidades.

Isto parece uma mensagem de aniversário, mas a verdade é que me sinto assim: que a vida muito me dá, e eu só tenho vontade de retribuir.

17 fevereiro 2009

E tudo o cuspo levou....

Se me perguntarem, muito resumidamente, em que é que consiste o meu trabalho na Badoca, eu posso responder, sem nunca fugir à verdade: em ser cuspida!

É mesmo isso que vocês leram. Eu sou cuspida diária e repetidamente por símios muito pouco dados ao respeito. Sinto-me, sem qualquer tipo de hipérbole à mistura, uma muçulmana adúltera que foi apanhada a fazer sexo com 3 ou 4 moçambicanos e que usa o hijab como top… mas em vez de pedras espetam-me com cuspo no sobrolho, pode ser menos doloroso… mas é bem mais nojento.

Ando eu a cuidar com tanto amor e carinho dos nossos primos geneticamente aparentados (ou irmãos segundo algumas pessoas nomeadas para a fogueira), mas sou premiada com cuspo em grandes e boas quantidades e como enriquecimento ambiental recebo umas mijadelas de vez em quando. Será que joguei sueca na mesa da santa ceia? Merecerei tamanha sorte?

“São animais, não sabem o que fazem, são inocentes e pobrezinhos e muito coitadinhos”… alvitram vocês sem saberem o que dizem e com muita falta de senso, diria eu.

Não são não senhora… são maus… são ruins... são feios e porcos.

Fecho uma porta que a menina não quer que eu feche e lá vem cuspidela. Não dou comida que ela aprecie e lá levo com um olhar de desprezo seguido de fluidos salivares a tender para o esverdeado. Vou a passar toda serelepe e é motivo para ser escarrada… bem…. Respiro e levo com cuspo, muito basicamente.

Quando não há saliva que chegue para atingir-me no olho o que é a bela da Rebeca se lembra de fazer? Vai encher a boca de água ao bebedouro, olha-me com ar de quem tem papeira e lá vem chuva…. Fico mais molhada que uma actriz porno ao ver algo que vibra. O pior disto tudo é que esta grande porcasímia anda a ensinar a juventude e à conta disto já levei com os líquidos da Ema uma ou outra vez.

Além de limpar merda o dia todo, ainda tenho que levar com estes fluidos propositadamente dirigidos à minha pessoa! O Jonas, que diz que joga bem à bola, tem a mania de ou mijar no comedouro ou espetar a virilha contra as grades e fazer pontaria a quem passa… estou a ver o dia em que não o vejo nas grades superiores e levo com água quente e amarela pelo pêlo acima… era da maneira que hidratava!

Temo, como o diabo teme a cruz, o dia em que vá a passar e nem dê pela bosta a vir. Ainda não se lembraram disso, é a sorte.

São falsos e mesquinhos. Estou a antropomorfizar? Estou…. Estou a estupidificar? Estou…. Mas sou eu que tenho as mãos em sangue e crosta por aceitar presentes tão inocentemente e depois ser albardada contra as grades, tal peixe no anzol. Eu é que sei, eu é que fiz a música.

Nem todos são maus, obviamente, e é nisto que se vê a parecença com os humanos. Eu por exemplo sou uma óptima pessoa, o que nem sempre se passa. A Joana é uma jóia de chimpanzé. Já me protegeu e tudo contra os ataques salivares, dando uma descompostura muito grande na Rebeca e chamando-a de parva. Foi sim senhora…

Mas o parque tem muitos outros animais dignos de dissertações. Póneis que são betos e a quem só falta os sapatos de vela sem meia. Avestruzes que enlouqueceram e julgam que são pessoas. Pessoas que parecem que são loucas e muitas vezes pensam que são avestruzes. Vacas que parecem pessoas e pessoas que são umas grandessíssimas vacas…. Bem… todo um rol de personagens que dariam para escrever uma dissertação muito mais interessante do que a importância das cobras de anel nas plantações de batata.

Mas hoje fico-me por aqui, porque a noite já vai longa e isto de andar a ser escarrada tem muito que se lhe diga, principalmente que tenho que treinar os desvios e os contra-ataques… já faltou menos para enlouquecer e começar a cuspir a torto e a direito. É a selva meus amigos… é a selva.

03 fevereiro 2009

Amanhã começo a trabalhar

Parece que foi ontem que tudo mudou e ao mesmo tempo parece que foi sempre assim. A minha vida mudou. Eu mudei. As coisas mudaram.

Mudaram sentimentos, condições, prioridades e acima de tudo, vontades. Estou, a bem dizer da verdade, estupidamente apaixonada. Estou a conhecer e a conhecer-me, estou a aprender e a adorar. Estou finalmente a saber o que é amar. Sou a mulher mais feliz do mundo nos braços que me fecham as asas há tanto tempo a acenar….

Não vale a pena perguntarem. Não vale a pena aguçarem a veia da cusquice e atirarem-me pedras pontudas só porque não vos contei. Tentem perceber. Tentei respeitar.

Estou a ter o que nunca antes tive, estou a viver o que nunca vivi e estou a sentir o que nunca senti. É tudo tão novo e maravilhoso, é tudo tão rápido e frágil. Agora ainda é o meu pequeno segredo e assim será até me sentir preparada. Agora ainda é o meu momento, o meu coração e os meus sentimentos que são tão medrosos e sensíveis que não vou arriscar. Finalmente tive a coragem de pôr o meu coração nas mãos de outra pessoa que o segurou como merece… não tenho medo que o deixe cair, mas não quero estragar o que ainda agora começou por vontade de gritar ao mundo. Não é o momento ainda.

Mas não perguntem, a sério que não porque eu não vou responder. Não estou preparada e não quero responder. Apenas vos queria contar este pormenor que fez o meu mundo parar e voltar a girar a uma diferente velocidade. Queria partilhar com vocês este momento que é me é tão único e especial. Queria partilhar com vocês o sorriso estúpido que carrego no rosto e que não se apaga por nada no mundo. Queria partilhar com vocês as descobertas sexuais e de prazer que me fazem amaldiçoar o mundo por não as ter descoberto mais cedo.

Descobri que gosto e tenho vontade, que tenho mesmo muita vontade. Descobri-me aos poucos e em profundidade. Descobri que faço parte da percentagem de mulher que grita e chora, choro muito e bem depois de atingir o orgasmo….descobri o que o é o orgasmo… e como é FANTÁSTICO!

Sim… até neste tipo de coisas não poderia ser normal. Claro que chorar depois do acto sexual é algo que nos confunde a nós e à outra pessoa… mas sempre disse que era bom, que estava feliz e que não fazia ideia do porquê me saltarem as lágrimas dos olhos. Depois de uma pesquisa exausta descobri que é normal em mulheres com muita tensão sexual acumulada, é o libertar das emoções, é uma sensação de alívio incrível… Mas agora já não choro… agora a tensão já se foi e só ficou o sorriso estúpido na cara.

Os gritos também se vão controlando com a prática e a técnica, pois apesar de excitar a outra pessoa, acaba por dificultar a localização dos actos sexuais e sempre se perde muito tempo à procura de matagais.

É esta a minha condição actual de enamorada pela vida e pelo prazer, enamorada por quem me mostrou que sou apetecível e tenho muito porque que gostar. Estou assustadoramente a ansiar o próximo encontro, o próximo beijo e as próximas palavras.

Ah, e a propósito. Vou começar amanha no Badoca. Mas não se excitem demasiado que é apenas um trabalho temporário e mais ou menos voluntariado. Não me vão contratar ainda pois ainda não há possibilidades dentro do parque, mas como vão chegar os chimpanzés vou estar presente desde o inicio da chegada dos animais a aprender como tudo funciona, e vão-me dar uma ajuda porreira para me ir aguentando enquanto espero outras coisas. Sempre vou aprender e conhecer o funcionamento do parque e tenho algum dinheiro ao fim do mês, por muito pouco que seja. Parar é morrer… e eu já tive mais longe…

A sério… não perguntem….