25 março 2009

Mines

Odeio, odeio, odeio, odeio… mas odeio mesmo com aquele sentimento… como é que se chama?? …. Aquele que nos faz odiar muito?... Aquele que parece que coiso….é pá…. Começa com A acho eu… o ódio, é isso…. Odeio mesmo com muito ódio todos os homens-das-obras-que-pensam-ser-boa-ideia-rebentar-paredes-às-oito-da-manhã. E vou escrever isto numa t-shirt para que vejam como estou convicta.

Odeio esses senhores… mesmo muito. Odeio mais do que a visão da Manuela Moura Guedes de frente.

Mas será possível, meu Deus do céu, que não haja nenhuma tarefa mais ligeira e silenciosa que se possa fazer nas primeiras horas do dia? Será que não há arestas para lixar? Será que não há tijolos para contar? Não há unhas para limar? Não há minis para beber? Mas que é feito do trolha de antigamente que assentava 1 tijolo e bebia um grade? Onde estás, meu bom e velho amigo, que elevavas não só prédios mas também o ego daquelas cujos cus cagam bombons?

É assim tão extremamente necessário começar a rebentar paredes aos pontapés às 8 da manha, quando eu só entro no trabalho às 10 e podia ainda dormir aquelas últimas 2 horinhas que sabem tão bem e eu mereço tanto?

Será assim tão imprescindível começar a arrebentar com coisas mal o sol se eleve?? Será?? Será do guaraná?

E afinal quantas paredes de merda é que a casa tem para andarem a rebentar com elas à coisa de um mês?

Não me quero meter no trabalho de ninguém, até porque rebentar o que quer que seja não é a minha área de domínio, por isso não me levem a mal, mas acredito piamente que eu em dois ou três dias rebentava com as paredes todas! Não percebo como é que andam a demorar tanto tempo se começam o serviço logo pelo nascer do dia….

O mais grave, ultrajante, e muito preocupante no meio disto tudo é o facto de quando me estou a levantar para tomar banhinho, comer e sair para o trabalho, não sei por alma de que servente, o barulho pára!

Então era só isto? As paredes têm um horário próprio para serem rebentadas (entre as 8 e as 9h) se não ganham bichos? Como é que a arte de rebentar betão funciona afinal de contas?

São estas e uma parafernália de outras questões que se debatem dentro da minha pobre e bela cabecinha enquanto tentam em vão escapar por cada bocejo que se me foge galopando de dentro da garganta. São estas, portanto, as coisas importantes e interessantes que me fazem ter vontade de erguer a t-shirt estampada com frases de impacto, enquanto caminho pelas ruas desta cidade apedrejando cada homem das obras que esteja a assentar tijolos e não a beber uma mini.

23 março 2009

Vicks vaporub

É possível que os leitores assíduos deste blog não sejam na realidade tão assíduos e até é bem provável que não haja leitores absolutamente nenhuns e vocês os três sejam produtos da minha imaginação. Até é bem plausível que toda esta realidade que me abrange seja na verdade produto de um complô governamental para me enlouquecer e não me fazer perceber que a verdade anda por aí!

Hoje vejo que tudo isto são possibilidades e ando a espreitar por cima do ombro, desconfio de ti, dele, dela e da máquina do café. Isto porquê? … Porque estou entupida e farta de me assoar!

Pode parecer que não tem nada a ver, pode parecer que hoje estou mais estúpida que nos outros dias e que devia estar a fazer algo de útil neste que é o meu posto de trabalho… mas não…. Não dormi nada esta noite graças a duas narinas que não desentopem por nada, até sonhei com vicks por amor de Deus…. E nada… não mexe… nada sai nem nada entra das minhas cavidades mucosas… já estive bem mais longe de espetar soda caustica pelos pulmões a dentro a ver se há alguma frecha…

E é por estas e por outras que o meu cérebro hoje não funciona (nos outros dias deve haver outra razão… hoje é a falta de oxigénio), é por estas e por outras que estou numa folha do Word a escrever sobre entupimentos nasais enquanto deveria estar a ter ideias para entreter e ensinar as pobres criancinhas, é por estas e por outras que agradeço estar numa sala vazia já que estou também cheia de gazes.

É verdade que já não escrevo neste blog-que-é-tão-belo-e-amarelo há algum tempo e até agora só tenho escrito porcaria. É verdade também que desde a última inscrição muita coisa mudou: já estou a morar no anexo-que-parece-que-é-casa-mas-que-tem-os-metros-quadrados-duma-despensa e já comecei a trabalhar.

Hoje, além do meu cérebro não funcionar, sou oficialmente uma técnica de Educação Ambiental mais conhecida entre as pequenas pessoas por “Chamas-te mesmo Estrela? O meu avô tem uma vaca que se chama Estrela”…. e é nesse momento que eu tenho pensamentos torpes e ilegais em relação à dita criança e percebo que este estágio não deve ser longo!

E Sim… continuo entupida.

09 março 2009

anexo-que-parece-que-é-casa-mas-que-tem-os-metros-quadrados-duma-despensa

Finalmente vou conseguir realizar um grande desejo que tenho desde há algum tempo que é partilhar uma habitação com e somente a minha pessoa, até que não me suporte mais.

Já há muito que tinha essa vontade: De ver loiça suja que eu sujei; de ver o chão enlameado que eu enlameei; de ver o champô gasto que eu gastei; de ver pensos ensanguentados que eu ensanguentei… sim… esta era desnecessária… mas acho que perceberam a ideia. Quero ter as minhas coisas, saber que não vão sujar o que eu limpei, que não vão desarrumar o que eu arrumei e saber que posso andar desnuda quando me apetece. Sim, é mesmo disso que eu preciso, do meu espaço….

Assim que depois de algumas buscas pela muy nobre y ilustre cidade de Évora, depois de ver casas em que a cozinha consistia num frigorífico no canto a sala e um fogão à porta da casa de banho; de ver loftes acabadinhos de sair dum catálogo do IKEA… entre quartos e quartinhos para dividir com gente pecaminosa, acabei por escolher uma casita que foi recuperada e onde caibo apenas eu e penso que por ter que deixar o rabo lá fora vou começar a chamá-la de “anexo-que-parece-que-é-casa-mas-que-tem-os-metros-quadrados-duma-despensa”.

Sim é bem pequenina, mas acho que além de ser suficiente para mim, poderá ser um bom motivo para começar a perder a barriga… passar nas portas sempre foi um empurrão para qualquer um, o meu é conseguir ficar de lado na cozinha.

Não se assustem… obviamente que a hipérbole é o meu nome do meio, e o anexo-que-parece-que-é-casa-mas-que-tem-os-metros-quadrados-duma-despensa até é bem jeitosinho, tanto que fiquei logo com ele.

Para que tenham uma imagem mental, e para aqueles que conhecem a muy nobre cidade de Évora, o meu espaço reduzido fica mesmo no centro da cidade, numa travessazita em frente ao Eborim, o que significa que estou muito próxima do posto de trabalho, tendo apenas que atravessar o jardim público duma ponta à outra saltando por entre pavões e pavoas.

Como é um anexo os senhorios moram na parte de cima. Deixarei de os chamar de senhorios porque é um nome feio e eles devem ter pouco mais da minha idade e são muito porreiros. São a Inês e o Afonso e o rebento pequenito deles, o Afonso Júnior. São super simpáticos e atenciosos, tendo-me disponibilizado o mundo se eu precisasse.

A casita começa com um pequeno quintal da antiga Évora, com a calçada antiga, um poço de 15m e um limoeiro. Logo por aqui fiquei rendida ao encanto deste espaço que parece que ficou no passado. Um espaço que é bem apetecível para churrascadas e leituras ao sol.

Na entrada encontramos logo a casa de banho, que quando vista pela primeira vez assusta um bocadinho já que não tem porta e a sanita tem uma bela vista directa para a cozinha. Porém explicaram-me que iria ser colocada uma daquelas portas que encolhem e que só estava à espera de ser montada. Apesar de ser pequena e de eu ter que cagar de pé, esta divisória tem tudo o necessário e para uma pessoa é excelente. Apesar de não poder fazer o amor dentro duma banheira com espuma e jacuzzi como experimentei ontem, o polibã na vertical vai ter que servir perfeitamente para o efeito.

A cozinha consiste basicamente num corredor. Tem um lava-loiça e um frigorifico pequenino da mesma altura, que terá que servir de bancada e uma daquelas mesas que descem da parede. No anexo-que-parece-que-é-casa-mas-que-tem-os-metros-quadrados-duma-despensa não há gás e por isso é tudo eléctrico. A água quente funciona por termoacumulador (não é que vos interesse, mas acho por bem escrever as palavras novas que aprendo) e o fogão é uma placa eléctrica que acabei de comprar no Intermachê por 24,90€ já que a casa só tinha um forno pequenino. Estou agora a recuperar uns móveis velhos que encontrámos no lixo e que servirão para pôr debaixo do lava-loiça para pôr tachos e afins.

O quarto até não é muito pequeno. Tem uma porta bem antiga com uma janelinha pequenina. Tudo muito recuperado com muito gosto e cuidado. Tem uma cama de casal daquelas antigas de metal, mas tivemos a ver e nem abana muito. Tem um armário do IKEA que fica a matar na decoração antiga, e tem uma camilha de madeira antiga, bem bonita.

Agora ando a colectar tudo aquilo que faz falta e tenho que levar para Évora no próximo fim-de-semana. Já comprei o fogão, já arranjei os móveis. Já ganhei um DVD. Agora é angariar coisas velhas aqui de casa e percorrer os irmãos em busca de material que já não é querido. Penso gastar o mínimo indispensável com a casa e de resto ir buscar o que puder à melhor loja do mundo que é o lixo.

Posso lavar a roupa na casa da Inês e de resto vou-me arranjando. Acho que vou gostar de morar ali. Acho que vou ser feliz ali no meu cantinho.

Volto para Évora no próximo fim-de-semana e começo a trabalhar dia 16. Uma nova fase se avizinha. Uma vida nova vai começar…felizmente não estou sozinha.