27 junho 2008

No sentido dos ponteiros


Cada vez que adormeço não consigo deixar de pensar que é uma noite a menos que vou ter para dormir.

Ver os ponteiros a moverem-se sem saírem do lugar é ver a minha vida a tomar o mesmo caminho, a adquirir uma movimentação circular que se prende nem sei onde e parece que só anda às voltas.

Penso no futuro, penso no passado e o pânico toma-me conta da alma. É insuportável o medo de ter perdido já uma parte da vida e ainda não ser feliz. Será que algum dia o vou ser? Será que algum dia alcançarei esse tão desejado estado? Será que alguém vai conseguir perceber que é tão fácil?

Penso que no fundo ninguém alcança, pelo menos não até ao final. Não faz sentido que assim seja. A vida é uma busca constante desse sentimento profundo de realização, da alegria de ter vivido e então…. não faz mais sentido viver, não faz mais sentido procurar algo que se encontrou, não há nada a fazer numa vida em que já alcançamos o auge e é aí, nesse brilhante momento em que sorrimos ao pensar no passado e fechamos os olhos para sempre, porque depois do final feliz não há mais nada.

É possível que ainda falte muito para esse momento, e é bem provável que não o alcance porque essa é daquelas coisas que pertence a quem realmente merece, a quem calcorreia esta vida e luta por isso.

Sinceramente não sei…. Não sei por que caminhos andei, se foram os correctos, porquê escolhi esses e se valeu a pena… não sei. Nem tampouco sei por que caminhos vou agora.

Mas pergunto-me todos os dias quando é que vou dobrar a bendita esquina em que encontre aquilo que procuro, aquilo que talvez mereça.

É nos momentos em que nos sentimos num eterno vazio que é tão grande que nos enche, é quando olhamos à volta e não vemos nada, não vemos ninguém que o futuro nos parece tão perto e tão temeroso e então…. aí então desejamos não acordar , porque cada manhã é menos uma em que acordamos.


João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drumond de Andrade

As belas e as Esferas..... para quem ansiava

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Baile de Finalistas, Universidade de Évora, 2008

14 junho 2008

Cinto de castidade


Venho por este meio explicar que ainda não morri, mas estou quase a afogar-me em baba em frente ao Excel.
Este vai ser um mês de clausura. Basicamente pus um cinto de castidade na minha vida e só saio de casa para ir enfardar aos 3 ou 4 cafés à do meu irmão.
Sim, tenho msn desligado e sim não falarei com ninguém até que o mês acabe. Peço desculpa por não responder aos "Tudo Bem", mas é porque realmente não está nada bem, vai encaminhado, mas todavia muito atrasado. Se precisarem de alguma coisa, estou offline, mas estou aqui. Arranjei ajuda genética e basicamente estou sempre rodeada da família que tem sido imprescindível a fazer-me ditados das minhas folhas de registo para me adiantar trabalho.
Indo nas quase 4000 linhas de excel, ainda me falta uns milhares e além de me sentir exausta, desmotivada, assustada .... entre muitos outros "ada", não tenho vontade de falar com ninguém, mas prometo voltar não só para preencher aquele espacinho na vossa vida, mas como para escrever muita porcaria.
Bem, a minha cabeça não anda bem, mas faz-me sentido o que escrevi... espero que entendam...

12 junho 2008

Só porque cheira a presunto, pensa que é galinha...


Não sei se por ter o casco da cabeça em sangue ou se por estar a ouvir kizombada da boa, mas a verdade é que me deu uma vontade louca … de beijar sua boca e matar meu desejo…. peço desculpa, saiu o meu Marco Paulo de dentro, às vezes não fica inconsciente o suficiente, mas como referia eu num discurso totalmente coerente e nada dado à parvoíce, deu-me uma vontade muito grande de vestir um top que me tape apenas os poros, (vou pôr a música outra vez, que Safri Duo nunca terá o mesmo efeito duma Kizomba.. sim… a minha playlist tem muita variedade artística…)com a barriga de fora para fazer movimentos hipnóticos, uma saínha a tender para o cinto, com andarilhas nos pés e maquilhagem cor de ferrugem e sair para a ramboiada com o distinto fim de abanar as pestanas . Agora já não posso pôr os cabelos a balançar, mas pode ser que assim desvie a atenção para onde tem que ser, eu tenho, como diz a minha mãe, rabo de preta perfeito para executar a dança, como está a cantar este senhor, que tem todo o ar de ser de origem nórdica.

E é por ter começado a sentir o bafo de cão do Puffy Manuel que acordei para a realidade do trabalho que tenho para fazer. Mas como o senhor ainda continua a mandar-me executar a dança, eu continuo aqui a aluir (adorei este sinónimo de abanar…sim, eu procuro sinónimos quando escrevo… ) o rabinho na cadeira movível da secretária enquanto abano aqueles músculos que naturalmente não se movem, a não ser claro, para castigar a porcelana (yeeee, consegui usar esta magnifica piada…. Posso morrer em paz…).

E agora, continuando ao timbre deste som, que impressionantemente não nos entra nos ouvidos mas sim nas ancas, eu não consigo parar de me abanar…e relendo as peças de arte anteriores noto o quanto eu falo de merda e de sangue. Realmente tenho uma tendência para a falta de nível e para a conversa da treta.

Mas acredito que isto tudo tenha a ver com a minha vida passada, da qual estou a preparar uma teoria muito bonita que envolve prostituição, tartes humanas e falta de higiene. Mas essa é uma história que fica para outra oportunidade porque o senhor já se calou e safri duo é totalmente música para trabalhar e não para escrever porcaria (sim, já estou no jambé a abanar a careca!).

04 junho 2008

Grunhidos

Devido às minhas actuais visitas ao dentista, há uma série de perguntas que me ficam no ar, ou melhor, me ficam na cabeça, mas no fundo vai dar ao mesmo já que ando com a cabeça no ar (… esta é, sem dúvida, das melhores piadas do século… vou até apontar, para não me esquecer).

Todo este monopólio dental começou à aproximadamente 2 anos quando me surgiu uma cárie num dente, dente este que deve ter jogado sueca na mesa da Última Ceia porque lhe aconteceu de tudo. Devido à tão odiada cárie o bichinho teve que ser sacrificado e foi castrado (subentenda-se que foi desvitalizado, o que no fundo é tirar a essência ao pequenino). Foram umas horas complicadas passadas numa dentista Eborense, em que a senhora me fez vir as lágrimas aos olhos sem precisar dizer muita coisa bonita. Nesse mesmo dia, ia eu toda serelepe para casa, quando sou atingida por um bombardeamento de balões de água, vindos não se sabe de onde e não se sabe por quem (mas com certeza de uns filhos da Puta, fora a mãe que não tem culpa). Sim, eu com esta idade ainda levo com balões de água, e para quem não acredita no destino: éramos um grupo de meia dúzia de pessoas, só eu fui atingida e mesmo no dente acabadinho de ser sangrado. Sim, era para ser. Não sei por que razões superiores, mas alguém queria que eu andasse por aí com a cara inchada e o olho roxo. Bom, de certeza que se divertiu imenso com as minhas desculpas ao porquê da cara naquele estado. Momentaneamente eu preferia admitir ter levado porrada do namorado a ter dito que tinha levado com um balão de água… de repente tornou-se uma desculpa tão ridícula e absurda, que não estranhei nada a cara das senhoras da universidade, quando abanavam a cabeça em tom de pena à minha história do balão. Se eu tivesse dito que tinha sido numa maçaneta da porta, se calhar, apesar de cliché, tinha sido mais eficaz que a verdade.

Andava eu de cara inchada, com um súbito medo de andar na rua porque imaginava sempre balões de água a vir na minha direcção. Aquele bendito balão, além de não ter rebentado quando bateu na minha cara, ficou basicamente a rir-se de mim no chão, inchado e molhado, e nunca descobrimos de onde veio nem de quem, mas foi uma moda que durou algum tempo. Fiquei inesperadamente a morar num campo de guerra, em que não conhecíamos os guerreiros nem a causa… a não ser claro, que fosse a minha humilhação, aí sim, objectivo cumprido!

O dente ainda sofreu um bocadinho com uma desvitalização mal feita, sentindo-se uma casa apenas segura pelos alicerçares, sem ter base nem segurança.

(quando eu digo que o dente sofreu ou jogou pedras na cruz refiro-me certamente à minha pessoa, afinal o sistema nervoso é meu e a carteira também, assim aquele bocado de porcelana por quem eu nutria um carinho muito especial, não tem protagonismo nenhum na história, é só uma personificação da minha essência dental. Que fique bem claro a minha suprema importância na história…. Este é o meu super Eu a falar, peço desculpa, às vezes não a consigo calar!)

Mas lá se passou o tempo, o dente aqui ficou, tal cadáver imponente que não deixa a morte vencer, até ao dia em que eu comi uma goma… tã…tã…tã…tã…

Estava eu em Barcelona, passado quase 2 anos, o survivor já tinha aguentado muita pasta e pomodoro em Itália, quando o meu pequeno dentinho foi vencido por uma goma. Sim, foi uma amora. Vestia um traje avermelhado com pequenas pérolas encarnadas que, enquanto eram degustadas por todo o meu sistema gulatório, acertaram em cheio no alicerce mestre de toda a casa e o dente desabou, ou melhor, partiu-se ao meio e ficou ali, cada alicerce a pender para seu lado, e a necessitar muita ginástica no dom de mastigar. Eu não queria derrubar a casa enquanto não estivesse em terras lusas, já que na terra de Gaudi me cobravam 2000€ pelo amanho do prejuízo, e eu disse logo à senhora que tal não seria possível, enquanto eu não prostituísse este corpinho que a genética me deu.

E assim foi, chegada a Portugal nas minhas férias de Natal, a primeira coisa que eu fiz foi ir à procura de um Dentista nesta cidade. Primeiro, encontrar um que não fosse brasileiro era pouco provável, e encontrar um que fosse brasileiro mas estivesse em Portugal nas férias de Natal era impossível. Mas lá consegui. Instruída pelo meu irmão, lá descobri uma doutora que não só é brasileira, como também é japonesa. A coisa parecia estar encaminhada.

Assim, lá levei nas orelhas por ter comido a dita amora e por ter deixado os escombros na boca durante os 2 meses que antecederam o acontecimento e a vinda para Portugal. Tiraram-me o pobre Pérola Branca (nome carinhosamente dado por mim, dada o historial que temos juntos) e puseram-me um pivô muito para o feio, que nem sabe apresentar telejornais. Agora tenho-o aqui, a cair de vez em quando, e lá vou eu com ele na carteira, para a dentista me fazer sangrar a gengiva com força até conseguir encaixar o Amarelinho onde tem que ser.

Mas agora sinto que vou ter vida outra vez, este mês não há propinas e assim o dinheiro da prostituição dá para pagar o tratamento. Lá comecei eu as consultas de rotina para tirar as medidas e fazer moldes, (até parece que vou fazer algum vestido de finalista), e um destes dias vou ter um dentinho de verdade. Bom, na realidade está tão morto como este que tenho agora, mas sempre é duma estirpe melhor, já que é feito de porcelana e não de resina (não que tenha algo contra a resina, mas cheira mal) e ficará para sempre na minha boquinha, apetrechado com parafusos e porcas que me farão apitar nos aeroportos, mas vai ser giro dar nas vistas.

Bom, e as perguntas que me ficam na cabeça voaram mesmo no ar, porque me pus aqui a contar a história da minha boca e já não há paciência para mais. Mas deixo aqui uma, para não dizerem que eu não faço aquilo a que me proponho (posso me desviar um bocadinho, mas chego lá):

Porque é que os dentistas nos fazem tanta pergunta quando temos 23 aparelhos enfiados na boca e um desejo constante que a broca nos fure as veias para acabar com o sofrimento? …

As nossas respostas são grunhidos, bastante semelhantes a que crianças de 2 meses responderiam… e eles normalmente parecem satisfeitos com as respostas. O que é que isto quer dizer?... Tenho medo!

03 junho 2008

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

01 junho 2008

Olá cinco

Uma vez mais sou excluída da sociedade. Uma vez mais sinto que me escarram na rua e me abrem feridas grandes à pedrada. Mais uma vez estou segura que não tenho direito a um céu com 23 virgens nem parreiras suculentas.

Tudo isto porque não tenho Hi5. Sim, admito…. Não mereço o ar que respiro nem tampouco o chão que piso. E é verdade que há mais gente a fazer parte desta seita, que com incontinência.

O hi5 para mim, (e agora aproveito para pedir desculpa, ajoelhada em grão, a quem de bem pertence a esta seita por pressão da sociedade), é prostituição online.

Sim, é forte. Sim, provavelmente é estúpido. Mas se pensarmos bem, quem expõe fotos próprias a espremer os peitos, a fazer de garupa de moto apenas como veio ao mundo não está à procura dum ombro amigo, por sua vez, oferece a quem possa interessar, 2 peitos, seguramente muito amigáveis.

Este programa, grupo, ou o que quer que se intitule transformou-se num catálogo online, onde os rapazitos, atletas manuais, vão em busca de quem possa estar disponível para futuras amizades, e as meninas, que apertam os peitos para parecerem maiores, vão publicar ao mundo que já são menstruadas.

Não me venham com conversas: “Ah e tal, vi uma foto tua no HI5 com as tuas amigas e pareces mesmo amigável… vamos travar uma amizade profunda e nada dolorosa?”.

Sim, pelo que andei a vasculhar, há realmente gente com amigas muito interessantes e acredito que o que elas travem seja mesmo profundo e nada doloroso.

A intenção de quem “pesquisa” no Hi5 é tão clara, como a de quem tira fotos premeditadamente sem roupa para as publicar. E o mais estúpido disto é que anda gente a receber milhões para fazer o mesmo, com um bocadinho mais de classe admite-se, e estas criaturas que andam por esta vida com a piriquita aos saltos, até alguém lhes meter uma pressão de ar bem metida, são capazes de pagar para pôr fotos suas nuas, na internet. Amigas, se acham que têm bom material, cobrem por isso, porque andam a fazer servicinhos de graça, e a vida não está para isso.

Queres conhecer pessoas vai a festas. Sai à rua, vai ao café… desde quando ficar em casa, vidrado num ecrã tornou-se a melhor forma de fazer amigos? Desde quando as pessoas realmente crêem em gente cuja única coisa que sabem é que escrevem em Times New Roman, e mesmo assim não se pode ter a certeza do tamanho da letra? É impressionante em como eu à frente do computador consigo ser quem eu quiser, consigo ser uma modelo internacional, de bunda proeminente, ter a conta bancária do Figo, estar a escrever da Argentina e ainda ser óptima cozinheira. Consigo ser de qualquer parte do mundo, ser de qualquer tamanho, ser do sexo que quero ou mesmo de nenhum, consigo ser toda a gente e consigo ser ninguém. E acho que é mesmo isto. As pessoas têm tanto medo de quem são, têm tanta vergonha do que se tornaram que já não conseguem ter relações pessoais com alguém que tenha batimentos cardíacos. Só conseguem conversar, só conseguem se expressar se estiverem protegidos pela distância, se estiverem protegidos pela ausência dum olhar, dum toque, dum tom que os pode denunciar, que os pode revelar. As pessoas têm tanto medo de se mostrar, que não se preocupam que a pessoa com quem se deitam, seja a mesma com que acordam. E o que mais me impressiona é o facto de as pessoas acreditarem, de se apaixonarem não por pessoas mas por personagens, não pela realidade, mas pelo virtual.

O que triste no meio disto tudo, é que o objectivo claro que diminuir a distância entre as pessoas no mundo inteiro, está a conseguir aumentar a distância a pessoas que vivem no mesmo bairro.