23 março 2007

A primeira vez...

A primeira vez não correu lá muito bem, diga-se de passagem! Se doeu? Um bocadinho… na alma e, vá lá, no rabo também! Ai, ai, ai, pequenos carocinhos de azeitona, não levem já isto para o lado da cueca, que eu sou muito pura e casta e estou-me a referir obviamente ao meu primeiro exame aqui, à minha primeira oral…
Eu, tal inócua filhó, dirigi-me para o bloco 4, a tremer que nem canas de açúcar, porque uma oral, é sempre uma oral, e quando não é na nossa língua, ai senhores, deixa de ser uma oral e passa a ser uma oralona!! Medo, muito medo.
Ora bem, chegada ao destino, dirigindo me à multidão Italiana perguntei se era ali o exame de Biologia Molecular, tendo obtido resposta positiva, entrei e sentei-me onde calhou. Esperei, esperei, esperei… e ao fim de 1 hora a professora chegou! Mas o que é isto? Como é que um professor chega 1 hora atrasado a um exame quando sabe que tem 250 alunos para fazerem oral numa manhã?? Bom, não querendo de maneira nenhuma perder tempo a tentar perceber este modo peculiar de funcionar, deixei ver como as coisas corriam. Nisto uma rapariga perguntou me que número eu era, o que causou uma taquicardia porque eu não tinha merda de número nenhum, isto é, eu devia ter-me inscrito na Internet para a ordem da oral, ora como eu não sabia, ninguém me explicou e por enquanto os meus poderes não dão para adivinhas, não me inscrevi! Moral da História: “São quantos alunos? 250? Então a Eramus é a 250ª. MERDA! Eu aqui sou a Ragazza de Erasmus, isto porque ninguém consegue pronunciar o meu nome. Podem me chamar de Matilde, cá em casa sou Stella, para os Espanhóis sou Estrella, mas o sotaque ninguém acerta, e quando vi a professora a olhar para o meu nome, que fui eu que escrevi porque ela não percebeu, e disse “Er…. la ragazza de Eramus” percebi que era desperdício tentar dizer o meu nome.
A senhora, como tinha uma outra oral de outra cadeira á tarde, dividiu as pessoas todas. Ora 20 nesse dia, 20 no dia a seguir, mais uns quantos para Abril, eu como era a desgraçada fiquei para o último dia, 12 de Abril, ora, tendo eu estudado duas semanas para esta porcaria, não podendo mais eu olhar para o ciclo de vida dos retrovírus e pensando eu que tinha a oral de Calculo diferencial dia 2 e depois quero ir passear a Sicília com as meninas de Turim, porque estar em casa encafuada a estudar está-me a dar cabo dos nervos, fui falar com a professora e perguntar se poderia fazer nesse mesmo dia, ao que ela assentiu. A senhora, rodeada de gente a revoltar-se com os dias e a querer limpar o sebo á mulher, mandou chamar a primeira da lista, a rapariga sentou-se ao lado da professora e ela diz-lhe, “desenha aí a estrutura química da Adenina”, eu pensei “já está, estou completamente lixada da minha vida”, mas pronto lá fiquei na sala esperando a minha vez. Cada vez que chegava alguém ia ter com a pessoa a querer saber o que a senhora tinha perguntado, e cada vez mais a faca chegava perto dos pulsos. Entretanto fiz uma amiga Italiana, a Amélia, que me ajudou a estudar, fazia-me perguntas, dizia-me o que era importante saber e assim por diante, ela só ia fazer exame em Abril, mas ficou ali para saber as perguntas. Este meu dia foi muito interessante, resume-se a 10 horas numa sala com o ar condicionado no máximo á espera de ser chamada, com aos nervos e ansiedade à flor da pele. Entretanto a Amélia foi-se embora, lá fiquei eu esperando, esperando. Fizemos 20min de pausa para comermos, lá fui eu ás pizas deliciosas e nada salgadas que fazem aqui, e depois lá retornei ao horror.
Só fui chamada ás 8 da noite, é claro que estava a ter 3 taquicardias por minuto derivado dos nervos, e para ajudar a senhora diz “DNA polimerase”. Tanta merda para perguntar e tinha que escolher o lado da violência…porque não falou de código genético, de retrovirus, de técnicas de PCR, ela que pedisse para eu desenhar a estrutura química de todos os nucleótidos que eu saberia, agora eu saberia, mas teve que abordar assuntos que, vamos lá, não tiveram toda a minha atenção. Portanto, quando me perguntou quantas haviam e eu disse 3, ela disse que não, eram 5, “já tá”, nem valia a pena continuar, mas pronto, a senhora lá continuou a tentar ajudar-me, “explique-me a replicação com todos os intervenientes e todos os passos” – não está a ajudar senhora, não está a ajudar – “Pronto, diga-me como é composta a DNA polimerase III”- mas isso é importante?? Saber só para que serve não é suficiente?? Bom, eu ouvi os italianos a dizerem que tinha a forma duma mão, lá foi o que eu disse, “certo, e as subunidades?”, as quem? Oh amiga, está a ir por caminhos nunca dantes navegados…. Bom, final da história, ela disse que se via que eu tinhas as bases, dei-lhe certos dados que ela disse dar muito valor ao facto de eu saber, mas que se me desse nota ia ser baixa, eu disse que então preferia não ter nota. Eles têm outra época, tipo recurso, em Julho, mas eu tenho avião de volta dia 3, por isso agora não sei como fazer, se a senhora não me der outra oportunidade, noutro dia, lá vou ter que ir ver a Solange em Setembro. Solange, Solanginha, tu nunca me irias obrigar a saber o nome, função, família, NIB de todas as enzimas presentes em todos os processos que ocorrem no nosso organismo, quando por exemplo, comemos uma maça, certo?
Saí dali, com o céu a desabar na minha cabeça, e eu que para variar nunca tenho guarda-chuva apanhei uma chuvada de todo o tamanho, e uma granizada também que aqui só falta chover pedra! Moral final disto tudo, estou doente com o cu quente, tenho a garganta toda lixada e estou com febre! Está a nevar, mas como supostamente vim na primavera não trouxe a minha roupa de sky, ou seja, é ver-me todos os dias enrolada no saco de cama térmico a tremer de fredo!
Descobri que tenho que fazer 8 cadeiras no próximo trimestre, em 3 meses, para equivaler ás 4 que me faltam em Portugal, e tenho a oral de matemática dentro duns dias e não sei que merda é uma oral de matemática… Mas pronto, como a vida até me está a correr bem, vou encharcar-me de gasolina e servir de tocha que isto o frio está agreste!


2 comentários:

  1. Estou amplamente solidária contigo, esta mania de nos perguntarem o número de telefone, NIF, NIB, etc...das enzimas e de todos os outros intervenientes na replicação dessa grande mólecula a quem carinhosamente chamamos DNA tem que se lhe diga. Não me interpretes mal, até eu já sou fã incondicional destas pequenas "criaturas" que habitam as nossas células, mas sinto que ainda tenho um longo caminho a percorrer e isso...isso deixa-me doente :(!
    Hasta la vista DNA!
    Baci Stella.

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  2. Pois é....Se tds os enigmas do DNA fossem decifráveis...Há csas, ditas impossiveis, até para a Irmandade do plasmídeo...Kem sabe se nao estará na altura de oferecermos sociedade á DNA Polimerase III??
    Ah pois é...
    Mille baci

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