27 junho 2010

a minha circunstância disparou


Contar….

Este é um daqueles passos que nos mói por dentro e nos faz querer voltar atrás… Será que faz?

Mas tem que ser. Um dia tem que se contar. Um dia a coisa tem que acontecer.

Esse dia chegou…. Pelo menos para uma das partes, pelo menos metade do problema já se foi. Metade do medo já se foi… Mas será que é medo?

Nunca é como se sonha. Nunca é como se deseja. Mas a verdade é que é quase sempre como mais se receia.

Para os pais é complicado compreenderem que podemos ser feliz mesmo não optando pelos padrões que eles desejam. Podemos ser felizes não sendo os médicos e enfermeiros que queriam que fossemos. Podemos ser felizes não casando com o filho daquele vizinho que viram crescer, e podemos mesmo ser felizes vivendo com uma pessoa do mesmo sexo.

O pior, para nós e para eles, é o sentido de desilusão, de desgosto. Eles desiludem-se por tomarmos certas escolhas que na cabeça deles é por opção, é por birra, é por vontade de ser diferente… e muitas vezes esquecem-se que também nos desiludem quando escolhem que a nossa felicidade afinal não é suficiente… a nossa felicidade só é válida quando é da maneira que eles querem… da maneira que eles sonharam… e essa sim é uma escolha.

Poucos são os pais que percebem que nós somos diferentes, outras pessoas, somos o conjunto deles próprios com uma personalidade única e diferente. Somos outras vontades, somos outros sonhos, outros gostos, outras ambições… não somos uma segunda vida onde eles pensam poder viver as escolhas que outrora não tiveram coragem de tomar, não somos parte deles, não… somos eles e mais qualquer coisa, mais a educação que nos deram, mais o que vida nos ofereceu, nos tirou e nos voltou a dar… somos tão diferentes deles… e no fundo somos tão iguais.

Achamos sempre que eles sabem, que desconfiam, que até aceitam porque não nos dizem nada…. Mas a verdade é que nunca estão à espera, nunca sonharam tal coisa e sentem-se sempre ofendidos, denegridos e magoados porque acham que estas “escolhas” são feitas para apenas e somente os ferir.

É demasiado perceberem que a única escolha que fizemos, a única coisa que optamos foi ser feliz... foi ser feliz apesar de não ser como até nós próprios sonhamos… foi ser feliz apesar de saber que vai ser sofrido… foi ser feliz e viver o amor apesar de não ser como a sociedade nos diz que deveria ser. Mas é errado por isso? É assim tão errado optarmos e escolhermos ser felizes?

Se os nossos pais, que na teoria só querem a nossa felicidade, acham errado, acham anormal… então sim… afinal não é a nossa felicidade que eles querem… é a deles.

A mim não me tira o sono este desafio, esta conversa que terá que acontecer… não me tira o sono as criticas e os insultos que me poderão dirigir… sinceramente, a ignorância e o preconceito não me tiram o sono porque se tirassem… era na minha felicidade que estavam a interferir, era na minha paz e tranquilidade que estavam a mexer, e eu optei por não deixar, optei por não me incomodar, se não, nunca conseguiria ser realmente feliz.

Eu sou eu e a minha circunstância, e eu decidi que no raio da minha circunstância vai haver apenas gente que interessa, gente que fica feliz pela minha felicidade, gente que acredita que o amor não tem barreiras, não tem género, e não tem preconceitos… gente que de facto fica feliz se eu estiver feliz.

Se aqueles que nos criam e supostamente só querem a nossa felicidade são os primeiros a achar que não é suficiente a coragem e a determinação de optarmos pelo amor independentemente de todo e qualquer tipo de preconceito, se acham que ainda precisamos de ouvir o quanto os desgostamos, o quanto os desiludimos por escolhermos ser assim, diferentes dos filhos dos vizinhos…. Se são esses que optam e escolhem não participar na felicidade dos filhos e não aceitar o que acham precisar de aceitação, e acreditam que vamos mudar de ideias se disserem dois ou três insultos e se desembarcarem a quantidade absurda de ideias conservadoras que têm na cabeça e que tentavam esconder….

… então que se fodam….

Nós não precisamos nem pedimos aceitação. Não há nada para aceitar ou deixar de aceitar. Não há nada que possam mudar na nossa relação… o que mudam, e isso por opção vossa, é a nossa (nós vs. Pais) relação… é a vossa hipótese de participar na nossa felicidade, é a vossa hipótese de participar na nossa vida… e tenho a certeza que isso é que vos mói, vos faz ter medo, vos faz sofrer….

Então… a matemática parece-me tão simples neste caso… vocês optam por ser infelizes, pelo medo e sofrimento de não participarem na nossa vida, porque acham errado sermos felizes… enquanto nós optamos pelo amor e pela felicidade e apenas queremos que isso seja compreendido, que seja respeitado… parece-me óbvio quem está errado…

Os meus serão os próximos… possivelmente será pior, a idade também é diferente… Mas a esperança está aqui, a esperança de que todas as milhentas novelas tenham de facto mudado mentalidades, mudado ideais… esperança de que realmente estavam à espera e que respeitam, ou que pelo menos não optem pela matemática errada… vamos ver…

Ainda não será hoje, talvez nem amanhã… será quando tiver que ser e isso, só o destino o dirá.

Independentemente, a nossa escolha está feita… restam eles fazer a deles…

24 junho 2010

Olhem.... olhem.... olhem.... olhem....

Olá felpudos.

Venho por este meio informar que a minha ruiva concorreu com uns desenhos para umas t-shirts da marca trotleman. Peço então, que por devoção a esta vossa saramagra (mais para o gorda), que votem nos desenhos que gostem mais, os dela obviamente.

Assim sendo, e porque sei que não têm nada de importante para fazer daí estarem aqui, passem em http://www.mundofunny.com/concurso_desenho.php?op=list, registem-se (apenas e uma só vez) e votem nos desenhos "Anjo?" e "Aquário" da página 5 da galeria do concurso, podem votar noutros se quiserem que eu deixo... mas os dela são os mais giros...

Acho que é só... fico à espera... sei onde moram...

Depois digam lá se o meu amor não tem o talento do tamanho do mundo?....



18 junho 2010

O Príncipe Encantado

Ontem foi um daqueles dias para esquecer. Daqueles em que mal metemos os pés fora da cama sabemos que a coisa não vai correr bem e há uma qualquer realidade mágica a mandar-nos ficar um bocadinho mais, porque não é por 5 minutos que nos vamos atrasar.

A verdade é que 5 minutos nunca são 5 minutos, e acabamos por nos atrasar.

Isto é o que me acontece normalmente… não foi o caso de ontem. Ontem acordei às 7h disposta a calcorrear as curvas do Alentejo somente para entregar uma garrafa de litro e meio cheia de chichi e ir fazer um raio-x à cabeça, já que na bela cidade de Évora não tenho o direito de o fazer. Diz-se que as receitas dos médicos de Sines, passadas especialmente para mim, não podem se aceites em capitais de distrito… algo do género…

Pois bem, depois de tentar enfiar uma cama desmontada no meu samurai nu, que a minha mãe insistia em ter porque apesar de estar toda abananada pode ser útil para lenha por exemplo, e quando ninguém acreditava ser possível tal 20 pessoas no mini, lá conseguimos a proeza de levar uma cama, malas, e dois belos rabos para Sines… não esquecendo a garrafa de urina que tem o seu papel no factor volume.

Chegadas ao hospital, e porque a sexta-feira é um dia bonito para se ir lá passear e se diz por aí que receber radiações pelo cocuruto até faz bem ao sistema, eu tinha apenas a módica quantia de 60 pessoas à minha frente para scanar alguma coisa.

Depois de muita hesitação, típica de português, resolvi que daria tempo suficiente para ir entregar a garrafinha amarela à clínica, descarregar a cama a casa, e ainda comer uma fatia de melão.

Chegada à clínica, e apesar de ser coisa natural receberem-se ali encomendas de fezes e urinas e outros fluidos menos agradáveis, não deixei de me sentir ridícula ao entrar numa sala apinhada com uma garrafa de chichi no braço.

Perguntei à senhora se a urina que tinha na bexiga naquele momento faria falta e se podia ir encher um bocadinho mais a garrafa, e a senhora perguntou-me com ar de pânico:

Senhora Chichi (Pânico)- Você urinou directamente para a garrafa?

Eu (orgulhosa) - Sim! Mijei directamente pó gargalo! (nisto faço uma voz de garanhão, que conquistou a égua).

Senhora Chichi (determinação) - Não posso aceitar esta urina!

Eu (a pensar - fôda-se, vim de Évora só para entregar esta merda e agora não aceitam?) - Mas porquê, senhora chichi?

Senhora Chichi - Não lhe explicaram como é que se faz? Tem que urinar para um recipiente e depois pôr tudo na garrafa, não pode haver desperdícios nenhuns.

Eu - Mas esforcei-me tanto para acertar na garrafa! Fosga….se

No final de contas, e depois de me controlar muito por não dar um banho amarelado na cabeça da dita senhora, acabei por sair dali com vontade não de urinar, mas de bater em alguém.

Voltei então para o hospital, ansiosa para saber se já tinha passado as 60 pessoas ou não, e deixei o chichi na clínica, só por causa das coisas.

Chegadas novamente para mais uma voltinha ao sítio que faz as pessoas ficarem doentes, lá me apercebi que não só tinham passado as 60 pessoas, como mais 4…. e a tolerância era de 3 pessoas…. Ou seja… toca a tirar novamente a senha e ficar à espera de mais 30 à minha frente, porque a história da minha vida vinda de Évora só para fazer aquilo e cujo chichi foi renegado, não convenceu ninguém a atender-me…

Assim sendo, e só porque a vida é mesmo bonita, fiquei desde as 10h30 da manhã até às 16h30 à espera de receber com radiações na pinha.

Sim… Fiquei 6 horas à espera…. Capaz de comer um texugo… capaz de matar todas aquelas urgências que chegavam e passavam à frente de pobres e desesperadas donas, não de casas, mas de hormonas descontroladas como eu…

Não percebo... então as criaturas já estão deitadinhas nas macas, descansadinhas da vida, possivelmente já enfardaram peixe cozido e puré de alguma coisa pelo bucho acima, e ainda por cima têm prioridade em relação aos outros? Em relação a mim? Porque é que não me acham grávida quando me convém?

…. Se bem que assinei um papel em como declarava não estar grávida, e por isso não podia usar essa desculpa… nunca pensei chegar a este ponto… ter que assinar declarações em como não estou mesmo grávida... as pessoas acham tão óbvio que só lá vão com papéis assinados. Agora cada vez que me perguntarem se é para Outubro, espeto com a declaração na cara das pessoas só por causa das coisas…

Mas pronto… foi positivo o saldo no meio disto tudo… 6 horas para 1 minuto de raio-x… ao menos ofereciam uns canapés, ou conversavam com a gente naquela de compensar o tempo….

Esta é a mesma sensação de estar toda a vida à espera do príncipe encantado e quando o encontramos percebemos que afinal também se peida.

E ficam assim com esta conclusão maravilhosa só para não reclamarem que não escrevo coisas bonitas…


06 junho 2010

Reuniões de condomínio

Neste momento posso aventar o facto de estar vazia por dentro… não só porque estou alarvada de fome, mas porque me sinto esvaída em sangue já que me andam a sacar aos litros só naquela de aproveitar a rebaixa.

Ao que parece, o meu corpinho que é tão belo e roliço, tem dúvidas existenciais sobre a que género pertence, e parece-me a mim que, só por vias das dúvidas, me encharca com as piores qualidades dos dois só para ver se eu me calo.

Mas não me calo, é o calavas! Mando a parvinha da tiróide para o raio que a parta, que afinal quem manda nestas curvas acidentadas ainda sou eu!

Calminha… Já passo a explicar o que raio estou a cuspir, mas do comecinho que, como diria a minha mãezinha, às cadelas apressadas nascem os cães cegos… bonito né?

Pois bem. A tiróide é uma coisa esverdeada (pelo menos a minha) que vive algures na zona encefálica do pescoço, isto é, quase que faz parte do cérebro, mas não chegou lá... tipo Portugal na Europa... E esta bela senhora é responsável por enviar uma série de bichinhos - as hormonas - pelo nosso corpito afora, e no fundo só tem a básica tarefa de nos diferenciar sexualmente.

A minha tiróide, ando eu desconfiada, é uma maluca de primeira que se mete a fumar umas coisas estranhas e confunde os frascos de hormonas que tem que largar, e é por isso mesmo que toda eu sou uma confusão hormonal que anda a subir às paredes.

Mas atenção que não há dúvidas absolutamente nenhumas que sou gaja, daquelas bem giras e jeitosas, mas o problema é que há aqui uma data de pormenores que estão a mais…

Olhem a ignorância, pá… levam tudo para a cueca, pecaminosos…

É claro para as três pessoas mais cultas que caiem aqui acidentalmente, que me estou a referir ao factor hormonal da coisa. Não sei se sabem, mas a velha TPM, isto é, a tensão pré menstrual ou para o povo em geral “tem a puta da mania”, é causada essencialmente por uma reunião de condomínio das hormonas femininas que se põem a coscuvilhar sobre a vida alheia e discutir sobre a quem pertence o padeiro, o que nos faz ficar maldispostas, de mal com a vida, e com a bonita vontade de matar alguém…

Mas não é só isso que as aprazíveis hormonas nos causam. A mim por exemplo, ainda me fazem esvair em sangue todos os meses, às vezes muitas vezes no mesmo mês, e com muitas dorezinhas que fazem ficar de cama, mas não dolorosas o suficiente para ter baixa médica ou não fazer educação física…

E essas amigas hormonas chamam-se progesterona. E o facto de terem assim um nome ranhoso destes só faz com que se queiram vingar nas pobres mulheres que as carregam no bucho.

Até aqui tudo bem. Afinal nasci mulher, cuspi na mesa da santa ceia, e diz-se que merecemos sofrer todos os meses por causa duma vaca qualquer que andou a lavar os pezinhos ao Jesus… àquele que não era treinador, note-se… mas pronto, o normal… ela é que fez o serviço, ele é que lhe devia ter pago, mas não sei porquê a divida foi herdada pelas mulheres… ela não tinha troco, era?

Mas de qualquer maneira aposto que há muitas outras teorias e é bem possível eu ter inventado esta e no fundo a culpa é da Eva e não da Madalena, mas olhem, a verdade é que me dá igual ao litro e por isso fico-me pela teoria da puta que me parece bem mais plausível.

Além de todas as progesteronas que me amolam a pinha, ainda tenho que levar com as testosteronas, umas bichas malucas que no fundo são homens mas gostam do drama, do salto alto e da mão na cintura.

Então as minhas hormonas da testosterona, que deviam estar caladinhas que nem uma ratas já que habitam solo inimigo, acham que têm o rei na barriga e andam sempre às bocas às outras, com a mania de retaliar os bombeamentos hormonais, só para verem se me sai um ou outro entrefolho pelas pernas…

E no que é que isto resulta? Em pilosidades por tudo o que seja superfície epidérmica, na chamada barriga de cerveja quando eu nem sequer gosto desse liquido amarelo (o leva invariavelmente à minha eterna gravidez), em peitos mais pequenos do que o rabo desproporcionalmente maior, e a toda uma loucura temperamental em que num momento choro com o festival da canção e no outro estou a cuspir no chão, a coçar a micose e mandar o árbitro provar a própria mãezinha….

Isto dá cabo de mim, a sério… ao contrário de me sentir cheia de tantas hormonas em luta constante por um lugar de destaque na minha corrente sanguínea, sinto-me vazia de género e uma mistura de tudo…

Mas agora, depois de me terem perguntado demasiadas vezes se eu queria uma consulta para o planeamento familiar, já me extraíram carregadas hormonais para verem a proporção da coisa, já me fizeram uma fotografia à cabeça para ver o estado drogado da tiróide, e penso que, depois de mijar durante 24h para uma garrafa, vou poder saber afinal de contas o que se passa comigo.

Demasiado cheia? Demasiado vazia?

Pelo aspecto já arroto hormonas…