30 dezembro 2009

Águas passadas e engomadas.

Eu sou do tipo de pessoa que é sempre a última a saber de tudo. Sou sempre a última a saber das noticias, das coscuvilhices e das coisas importantes que a mim me dizem respeito.

Sou aquela que pergunta a alguém por Beltrano, quando esta já está com Sicrano, tem três filhos e meio, um cão, três periquitos e uma hipoteca.

Eu - a tremer - Ah! já não namoram? … Ah! terminaram abruptamente e ele partiu-te o coração quando fugiu com o meu vizinho do lado que era aspirante a padre? …. Não sabia não…. Sabes como é… não estou muito por cá.

Obviamente que as pessoas já se habituaram a ver-me com cara de tacho de quem comeu e não gostou, porque o mundo inteiro sabia menos eu. Habituaram-se tanto a isso que já não se apercebem que não estou a acompanhar a conversa quando me contam supostamente, águas passadas.

Alguém - olá! Então como estás? Melhor?

Eu - curiosa - Melhor?

Alguém - com peninha - Pois, não deve ter sido fácil saberes que aquele teu ente querido sofreu um grave acidente e por isso morreu de uma morte súbita mas muito dolorosa….

Eu - pânico - O quê? Quem?

Alguém - ignorando a minha expressão super expressiva… e bonita - Pois… devias estar preocupada com o facto da tua casa se ter incendiado com todos os teus pertences de uma vida e recordações de tempos vividos…

Eu - a chorar - O quê?

Alguém - a ignorar as lágrimas de sangue a escorrer-me da cara - Gostavas muito dos teus animais não era?…. Pena que não se safaram… mas realmente era complicado ir salvá-los quando a tua avó se atirou da janela em cima do teu carro e matou por isso 20 bombeiros…

Eu - com palpitações - os meus animais…o quê?

Alguém - a cagar-me na cabeça - Mas não te preocupes que eu estarei aqui a teu lado na tua recuperação, já começaste a quimioterapia?

Eu - sem pingo de sangue - Quimio quê? Recuperação de quê?

Alguém - surpreendido pela primeira vez - Não sabias que tens um tumor em estado terminal e tens aproximadamente 5 minutos de vida pelo que, talvez esta conversa excepcional seja a última coisa que fazes em vida?

Eu - horizontal ao pavimento, sem pulsação e com sangue a jorrar dos ouvidos - nhiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Alguém - A ver uma sms ao mesmo tempo que me esvaio em sangue - Sim, encontrei o teu médico no ginásio e ele contou-me, pensei que já soubesses Soraia, até me sinto mal de ser eu a dar-te a noticia…

Eu - morta - …..

Alguém - A olhar pela primeira vez para mim - Soraia? Soraia?.... Estás diferente, Soraia… Mais gordita e tal... deve ser inchaço dos medicamentos…. Também me lembro de seres loira… e não eras muito mais alta?... Soraia… Soraia… Ups…. Acho que me enganei na pessoa…

….

Enquanto a pessoa se afasta em marcha atrás enquanto olha para os lados para evitar ter testemunhas, só me resta ficar colada ao asfalto e lamentar uma vez mais ser confundida com a Soraia Chaves.

Isto tudo para quê?

Para me desejar um grande 2010, que o próximo ano me traga tudo o que sonhei e já agora não era mau pensado ganhar o primeiro prémio no Euromilhões.

Pronto… para vocês também.

E já agora, estou a começar uma nova tradição / superstição de ano novo: Deve-se levar um ovo cru para a noite de réveillon e colocá-lo dentro das cuecas azuis. Quando for a meia-noite devemos nos sentar em cima do ovo e pedir o desejo de ter as cuecas limpas. Se o ovo se partir e forem para casa mudar-se, o desejo vai-se realizar.

É estúpido?

Subir a uma cadeira com notas na mão também.

Feliz 2010, pessoas!

22 dezembro 2009

As Guerreiras Amarelas


Estava aqui a reparar que já vi este episódio dos Simpsons e que se calhar podia ir para o meu cantinho animado escrever sobre algo interessante… ou pelo menos tentar. Então sobre o quê poderia eu alvitrar neste espaço espacinho tão cultural e especialmente nesta altura do ano tão dedicada a temas pascoais?

Depois de uma breve passagem pela casa de banho do modelo em que tive o privilégio de molhar a mão com algo que não água, resolvi escrever sobre a ida das mulheres à casa de banho.
Sim… é verdade que já muita gente escreveu sobre isto e até parece que os homens não vão às casas de banho e optam pelo belo do arbusto… mas nada me impede de me tornar repetitiva e escrever sobre temas batidos e talvez com pouca piada…. São vocês que me impedem?... Querem me agredir, é?.... Podem vir quentes, que eu estou fervendo…..
Por acaso não… por acaso até estou com um friozinho e à conta disso tenho o rabiosque sentado em cima do aquecedor a óleo só naquela de queimar calorias…
Voltando à vaca grelhada…. Por acaso sou daquelas que consegue ir à casa de banho sozinha porque realmente tenho uns belos duns quadris roliços e fortes que aguentam qualquer tipo de tranca, especialmente a minha, sem tremer nem hesitar. Graças a muito trabalho de bola e um ginásio regular que me garante um ponteiro firme e hirto que nunca desce, consigo aguentar a passareca no ar enquanto esta colabora para o dilúvio na cerâmica e consigo abanar violentamente a mesma na ausência de papel. Mas sei que isto não é para qualquer uma.
Na realidade a coisa é muito mais complicada para a mulher comum que não tem as minhas ancas de sonho, e que regulamente vai a casas de banho públicas com malas cheias de tralhas e sacos de compras… mas já fui assim, gaja…
Na maior parte das vezes as casas de banho públicas estão num estado que só consigo adjectivar como, uma grande noja e por tal, só a hipótese de tocar com as nádegas cor de pesseguinho em tampos nunca antes lavados e com excedentes de dilúvios alheios, faz com que seja preferível uma infecção urinária por aguentar a bexiga em ponto bomba-relógio durante a hora de ponta até chegar a casa.
Mas caso não seja possível aguentar, porque ainda dá muito nas vistas andar por aí de perna cruzada enquanto se aperta a saída óbvia do xixi, não temos outra opção se não entrar nestas cabines dos maus odores.
Quando o fazemos várias coisas são certas: a porta não fecha, os cabides para o casado, para a mala e para os sacos não existem e o chão tem uma textura húmida e amarela que nos faz arregaçar as calças com receio de tocar nos líquidos estranhos.
Quando conseguimos arregaçar as calças, segurar o casaco debaixo do braço e pendurar a mala com três meses de bugigangas no pescoço, baixamos as calças, rezamos para que os quadris aguentem na posição da marcha atrás e fazemos a tão aguardada mijinha (sempre com uma mão na porta porque o trinco não funciona e há uma fila de mulheres grávidas, idosas e crianças de fralda a querer passar à frente).
Quando, aliviadas, acabamos de esvaziar o saco bexilical, apercebemo-nos de que não há papel e tentamos, com a mão que não está a segurar a porta, tirar algum lenço da mala que está ao pescoço e por isso percorremos meses de constante acumulação de porcaria inútil, e no meu caso, a possibilidade é encontrar um lenço ranhoso e tentar encontrar uma ponta sem muco que sirva para o efeito. Obviamente que a ponta que utilizamos não é o suficiente e por isso acabamos por usar a mãozinha que a mãezinha nos deu para limpar o restante, ficamos por isso com uma mão ocupada com a porta e outra mijada.
A solução passa por abanar a selva e tentar desumidificar a coisa, enquanto encostamos o rabo à porta para impedir a mulher que nos torceu o pulso quando forçou a porta porque não viu o sinal ocupado volte e, desesperada, ache que temos cara de tampo sanitário. Depois de puxar o autoclismo e a roupa com a única mão limpa enquanto o rabo prende a porta, acabamos por nos esquecer do casaco debaixo do braço e este, inevitavelmente, cai em pleno holocausto que é o pavimento da casa de banho. Quando apanhamos o casaco com a mão mijada porque a outra está a apertar a braguilha, e tiramos o rabo por três segundos da porta para nos baixarmos, alguém força a entrada e faz-nos dar uma cabeçada no autoclismo metálico e sem pensarmos, apoiamos as mãos onde evitámos sentarmo-nos e a mala cai dentro da “água” sanitária. Enquanto a senhora pede desculpas (ou não, se for portuguesa), repetimos o rol de palavras torpes que conhecemos em direcção a quem esteja nas imediações do cubículo do nojo, e tentamos recompormo-nos da situação enquanto lançamos para os confins do subconsciente o facto de termos estado a chafurdar na urina alheia (dia bom, se for só urina). Quando saímos do cubo amarelo levamos com olhares assassinos de conespecíficas que acham que demoramos muito tempo e ainda por cima sujámos tudo e só nos apetece espetar na sanita a cabeça da miúda de 7 anos que entra a seguir e faz queixinhas à mãe que o tampo está pingado, enquanto nós, no cúmulo da humilhação, escorremos suor e limpamos a testa com as mãos ainda não lavadas.
Quando pousamos a mala e o casaco no lavatório, acertamos numa poça de água e por um lado ficamos aliviadas por apenas haver restos de cabelos, cuspo e papel ensopado nessa poça, lavamos as mãos, a cara e tentamos a todo o custo recuperar a postura. Quem tem, utiliza a maquilhagem para esconder o sofrimento, e saímos para a civilização exaustas, humilhadas, urinadas, mas com a bexiga vazia e o ódio comum pelos homens, pelos seus urinóis elevados, por não utilizarem malas e por só precisarem duma mão para sacudir a cobra-zarolha.
O porquê de irmos aos pares? Ter alguém que nos segure nas coisas enquanto despejamos a dita cuja, alguém que nos forneça papel caso não haja, e alguém que proteja a porta de possíveis intrusas. No fundo, na guerra dos sanitários convém sempre ter aliadas, porque uma vez sozinhas o certo é chafurdarmos.
Eu, além dos quadris espectaculares, tenho sempre três pacotes de lenços na mala, penduro a mala e o casaco nas dobradiças da porta (ou em cima) e enquanto urino falo sozinha e represento sintomas de esquizofrenia, para o caso de alguém tentar entrar ou tocar nas minhas coisas. É certo e sabido que ninguém tenta entrar e os olhares que recebo têm muito de medo.
Sim. Eu mijo sozinha.

17 dezembro 2009

E o Natal tremeu



Ora boas tardes.
Se estão à espera de um “feliz natal” ou de um “próspero ano novo” podem já dar meia-volta que não há nada para ninguém…
Ei… calma… voltem aqui… deixem-me explicar….
É que a banda sonora da cidade de Évora nesta altura do ano faz-me sempre vomitar cada vez que algum comerciante simpático, daqueles raros aqui nas redondezas, me deseja festas felizes depois de me esvaziar a carteira, enquanto se lamentam que este ano as coisas estão muito difíceis e não vendem nada, apesar de já não terem papel de embrulho…. Foi para forrar as prateleiras da cozinha com certeza.
Mas como é que podem ser felizes? Como…                           
Já estou a antecipar o meu sofrimento quando não conseguir resistir aos ferrero rochê ou aos after eigh e a tudo aquilo que seja langanhoso e mortalmente doce. É que se não posso lanchar pão com azeite caseiro, então não sei qual é o objectivo do Natal e para que serve tanto alarido.
Mas não… não vou falar do espírito natalício, nem fazer piadas estúpidas sobre o Rodolfo a reinar… já basta o resto do mundo… desejo-vos antes um feliz dia do canhoto, só por causa das coisas.
Felizmente houve um sismo hoje só para mudarmos de assunto. É preciso a terra abanar para repararmos que há coisas muito mais importantes que comprar prendas, tais como placas tectónicas e erupções vulcânicas.
Não sei se sabem, mas há gente a fazer greve de fome enquanto nos empanturramos de farófias e azevias (sempre a-d-o-r-e-i estes nomes…).
E esta até podia ser uma bonita conversa em que eu desfilava roles de comentários assustados sobre tal experiência traumatizante e que contava apavorada como tinha sentido o chão a tremer e tinha temido pela minha vida... mas não…. Até nisto eu sou excluída.
Então ocorre o abanar de terra mais maior grande dos últimos 40 anos e eu não sinto?
Mas que raio?!
Poderia dizer-se que estava a ressonar que nem um suíno mas não, estava acordadinha da vida a ver certas e determinadas séries em que gente formada e dotada conseguem engendrar a mente de outra gente menos formada mas mais dotada, e não dei por nada.
Não senti nadinha. Nem um abanãozinho. Nem um rodar da baiana da mãe terra. Nem um sopro feroz da mãe natureza que está f…. porque ainda é solteira… nada.
Pura e simplesmente continuei a vidinha de sempre e só dei pela burra hoje quando o mundo anuncia que a terra lusitana tremeu e o tecto do fórum Algarve ruiu.
Poderá esta ser a prova conclusiva de que a minha roulotte é blindada e por isso estou a salvo de qualquer tipo de força da natureza e catástrofe natural. Tirando, claro, se esta envolver chuva. É que se chover estou lixada, porque qualquer flacidez urinária que venha do céu entra-me logo pela casa adentro.
Não sei mas sinto-me excluída da sociedade, e até já me apetece falar da estatuetada que o Berlusconi levou só mesmo para mudar o assunto do sismo e do pânico triste dos portugueses, pois a primeira coisa que fazem depois do abalo é ligar a televisão para ver se deu nas notícias….
Mas uma coisa é certa:
A Júlia Pinheiro também não sentiu.
Ah… e para que conste…
Façam o favor de ser felizes… em qualquer altura do ano!