15 novembro 2008

Natal

Há realmente uma altura em que os filhos têm que sair de casa. Não faz sentido continuarmos no quarto que nos viu crescer e que já não tem nenhuma novidade. Não faz sentido querer crescer numa casa onde sempre serás uma criança e não tens voto na matéria. Viver com os pais, depois de uma certa idade, torna-se ridículo. Estar em casa dos pais a parasitar é o cúmulo. Mas o que é que eu estou a fazer aqui?

Para mim não há pior tarefa do que não ter absolutamente nada para fazer. Prefiro a pressão do mundo em cima de mim e ter que mil coisas para fazer, do que não querer acordar por não ter nada que fazer.

Os meus dias têm sido de uma inutilidade estonteante. Deito-me às 3 da manhã e acordo às 3 da tarde. As 12 horas que estou acordada são de tão grande proveito como aquelas em que estou a dormir. Não tenho nada para fazer, não vejo futuro de ter alguma coisa que fazer e a vontade é nem me levantar porque não tenho por que o fazer.

Já mandei mais de 100 currículos e nem uma resposta. Nem positiva, nem negativa. A ignorância tem sido o principal feedback que tenho tido dos meus emails. Será que escrevo alguma coisa que ofenda e choque?

Não tenho dinheiro para poder sair daqui, não tenho dinheiro para poder ir tirar um mestrado que está tão na moda, não tenho dinheiro para nada, não tenho nada para ter dinheiro.

Sinceramente não me apetece levar a chapada na cara de ir sentar-me atrás de uma caixa de supermercado ou por o avental para servir à mesa. Não tenho qualquer problema de o fazer, desde os meus tenros 14 anos que aprendi que se quero ter dinheiro para gastar tenho que trabalhar para o ter, e sempre o fiz. Mas agora não… não depois de me ter esforçado tanto para tirar um curso… não depois de todo este investimento financeiro e pessoal… não depois de realmente ter um diploma.

Estou a odiar esta fase da minha vida, estou-me a odiar a mim própria, estou a odiar o mundo por não me responderem. Odeio não ter nada de útil para fazer, de não saber como vai ser a minha vida, de não saber o meu futuro, de não ter dinheiro para sequer comprar o jornal do dia, odeio isto…

Estou uma pior pessoa por estar assim, não falo, não converso, não me rio, não choro, não penso….

Só me apetece sair daqui para onde quer que seja, qualquer inferno será melhor que isto. Quero chegar a outro sítio novo, quero conhecer gente, quero ter planos, quero ter vontade de acordar.

Quero reclamar porque tenho que me levantar para trabalhar, quero chegar a casa cansada, quero sentir-me exausta, quero querer férias, quero poder comprar o que me apetecer, quero viver….

Não estou a viver, estou a sobreviver, simplesmente respiro e isso permite-me que as horas passem e eu ainda aqui esteja.

O desespero toma-me conta da cabeça e nem consigo escrever coisas extremamente estúpidas como gosto de fazer. Não consigo falar com pessoas, não me apetece sair de casa para que me perguntem o que estou a fazer, só me apetece adormecer e realmente não acordar.

Este ano não há Natal.

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