09 novembro 2008

A Estrela da Passarela

A minha vida poderia dar um daqueles filmes mesmo maus em que nos perguntamos o porquê de nos estarmos a sujeitar a tal tortura e de ainda não termos mudado de canal, mas ao mesmo tempo não nos apetece levantar para procurar o comando e ficamos a assistir àquilo com certos e determinados gazes. Daqueles filmes em que nada faz sentido e onde de vez em quando aparece um urso polar no meio duma ilha tropical, mas cujos autores defendem que no final conseguem arranjar explicação para isso. Ora há muita coisa que eu tento explicar e não consigo, há muitos ursos que surgiram na minha vida e para os quais ainda não encontrei sentido. Mas acredito que é graças a esses mamíferos de grande porte que eu consigo escrever aqui certas e determinadas porcarias muito dignas de audiência.

Claro que de vez em quando puxo ao sentimento e saem coisas que não deveriam sair. Já disse a mim própria que esses jorros de sentimentalidades deveriam ficar retidos no papel e não publicados para com quem de hábito convivo, isto é, ter pessoas reais a ler-me o intimo pode não correr bem e a verdade é que é muito perigoso. Assim, e porque o anterior puxava muito ao interior, venho tentar dissertar sobre mais alguns ursos da minha vida para descontrair o ambiente e tentar que o público olvide que eu por vezes até sou uma rapariga de sentimentos.

Hoje em conversas de café foi-me recordado um episódio da minha vida, ou melhor, um grande urso que me fez levar um grande melão. Esta é uma história de champôs, iogurtes e muita realidade.

Era eu um reles bicho e muito imundo que acabara de entrar na muy nobre y digníssima Universidade de Évora, quando de repente tudo é novidade e eu sou novidade para tudo. Foi por ser carne nova no pedaço que comecei a ouvir muitos elogios à minha pessoa: Ah! És tão gira! Ah! És tão fofa! Ah! Tens um cabelo tão bonito! Ah! E se te calasses?... Coisas do género, bem bonitas.

Ora eu, Sineense de toda uma vida, não estava habituada a tanto elogio. Normalmente por estas bandas, quando até tens um certo apresso por alguém, o máximo que pode acontecer é não lhe fazeres tanto mal no próximo assalto, agora elogios nunca… isso é mariquice!

Inchada de tanta consideração por uma pessoa que eu até achava que era bem feinha e parvinha, levou-me a criar grandes expectativas não só de um possível papel naquilo que é o bonito processo da procriação, mas também no mundo do espectáculo. E foi assim que ao ver o anúncio “Se tens um cabelo bonito, forte e saudável, vem concorrer aos cabelos Pantene!”, me enchi de coragem e fui testar o meu factor X.

Depois de muito ponderar, tentada a acartar que as pessoas tinham razão quando me diziam que eu era tão fofa como um foca bebé, e acreditando que realmente possuía um cabelo forte, bonito e saudável e nada pressionada pelo prémio de 5000€, resolvi mandar as minhas fotos de corpo inteiro com o fundo do Corcunda de Notre Dam para o dito programa. “Bom, não perco nada. Se não me chamarem, pelo menos não podem dizer que não tentei, né?....

Não… Os filhos daquela que não tem culpa chamaram-me. O que é que isto cria? A expectativa que eu até poderia ser mais gira que a Penélope Cruz e que o problema sempre foi os meus olhos e os espelhos em que me via… “afinal eu mandei fotos”… e na altura não sabia trabalhar com o Photoshop….

Ora, já não bastava a barriga de aluguer e o rabo de petroleiro, ainda fiquei mais inchada porque tinha sido convocada para o Casting. Cá para mim, eles nem olharam para a puta das fotos e o que queriam era povo, gente, carne…e provocar o suicídio colectivo às baleias que lá apareceram achando que tinham o cabelo bonito.

Lá fui eu arrastar a dona mãe para a grande capital com o fim a ir ao casting da filhota que afinal até era gira… Ela realmente custou a acreditar que me tivessem chamado…. As mães têm sempre razão…

Quando lá cheguei a primeira bolacha na cara ocorreu quando percebi que aqueles senhores feios, porcos e maus iriam estar a fazer a mesma parvoíce em Évora no fim-de-semana seguinte, e que eu fui gastar dinheiro a Lisboa só porque me apeteceu… “é melhor mesmo ganhar a merda dos 5000€ ou rodo a baiana já aqui!”.

Quando lá cheguei foi notório o meu embaraço ao olhar para raparigas que tinhas as pernas da grossura do meu pulso e gente que quando estavam de lado não se viam. Nunca na minha vida vi tanta gente com o claro objectivo de terem a curvatura dum lápis nº2. Mas ainda aqui tentei não dar muita importância ao assunto já que não era a única parva que ali estava. Quantas Beauty Queens dos anos 60 como eu andavam ali com o ar aparvalhado de quem foi violado e não deu muito por isso. Via-se perfeitamente, quando as super modelos de punham de lado ficando praticamente invisíveis, que havia ali muita gente a desejar ser invisível. Eu também fui tentando escondendo-me entre os postes, mas realmente o meu rabo não me dava muitas hipóteses e fui muitas vezes olhada de cima a baixo por gente comedora de iogurtes. Tenho a dizer que nunca na minha vida me tinha sentido tão comestível como ali. Comecei a imaginar que na cabeça daquelas criaturas que nunca provaram um torresmo eu era um belo do leitão a escorrer gordura e com uma maçã na boca. Muito medo. Hoje os meus medos são esses, pandas e super modelos.

Mas continuando: Lá fui chamada para a sala de castings onde os belos, giros e magros eram levados a tirar fotos a fazer beicinho e pose de garupa de moto. A senhora quando me viu, olhou para mim como quem vê um cão num concurso de gatos e pergunta “Porque é que você está aqui?”…. Eu pensei para mim que esta seria a minha oportunidade de perguntar se ali não era a convenção dos amigos dos animais e fingir que tinha entrado na porta errada, mas não… resolvi responder o que me pareceu óbvio, mas estúpido “Bom…acho que tenho um cabelo bonito, forte e saudável” disse eu a medo e com o mesmo ar de quem está a ser violado mas não sabe muito bem por quantos…

A senhora lá me pediu para desamarrar o cabelo, só naquela de me dar um pingo de esperança e depois sorriu e disse “Realmente tem um cabelo bonito” …. “Obrigado por ter vindo, depois entraremos em contacto consigo caso precisemos de fazer um desfile XXL para pneus de camiões T.I.R.”.

Eu olhei para aquela gente à minha volta e rezei para que Deus estivesse a ver aquilo com uma arma apontada com fim a acabar com o meu sofrimento ou que houvesse algum tipo de sala colectiva onde ficavam os rejeitados e onde houvesse câmaras de gás. Mas o mundo não é como sonhamos e tive que sair da sala e encarar aquelas miúdas acabadas de sair do molde com um ar muito superior e com os mamilos a ameaçar vazar um olho a alguém.

Ainda tive direito a um penteado de graça, isto é, a uma trança mal feita por uma brasileira que realmente achou o meu cabelo bonito, forte e saudável…. Mas eu já não estava para elogios e finalmente percebi a filosofia de Sines, que nos faz rijos e duros porque a vida é assim. A vida não nos elogia e só é uma passarela para quem apenas digere diariamente um copo de água (coisa má linda!).

Agora criei um clube das rejeitadas (além do clube das solteiras e encalhadas) que obviamente tem como objectivo reuniões mensais com quatro ou cinco cabo-verdianos para nos tocarem no banho. Posso não ter o factor 20 (menos 20 kg e mais 20 cm) mas tenho senhores altos, espadaúdos, morenos e sensíveis a tocarem-me no banho!

Está bem… não tenho… mas hei-de ter C%$ra”#$%lho!!!!!! Há-de faltar carne para tanto espeto do amor, e hão-de ser poucas as pegas para tanta mão bronzeada.

Tenho dito.

1 comentário:

  1. Uhm...eu acho que não referi esse episódio da tua vida...só falamos da proposta de trabalho...Na área de ambiente o tanas! A pedirem fotografia de cara e outra de corpo, para mim aí tem gato...(bem se calhar é por isso que te disseram que tinha algo a ver com o ambiente!!! :)))

    Adorei este post...e continuo a achar que "tinhas um cabelo bonito", não o posso dizer agora, porque não o tens :)...e claro que bates a Penélope Cruz, mas isto é só a minha humilde opinião!

    Beijo gandeeeee

    Mãe África, África Minha, Minha Massagem, Massagem é minha Oferta, Oferta ministrada por um Cabo Verdiano...só faltam 3 para te tocar no banho :)))

    G

    ps- Na percebi porque tens medo de pandas...por favor, a menina da trança preta poderá explicar?

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