22 dezembro 2009

As Guerreiras Amarelas


Estava aqui a reparar que já vi este episódio dos Simpsons e que se calhar podia ir para o meu cantinho animado escrever sobre algo interessante… ou pelo menos tentar. Então sobre o quê poderia eu alvitrar neste espaço espacinho tão cultural e especialmente nesta altura do ano tão dedicada a temas pascoais?

Depois de uma breve passagem pela casa de banho do modelo em que tive o privilégio de molhar a mão com algo que não água, resolvi escrever sobre a ida das mulheres à casa de banho.
Sim… é verdade que já muita gente escreveu sobre isto e até parece que os homens não vão às casas de banho e optam pelo belo do arbusto… mas nada me impede de me tornar repetitiva e escrever sobre temas batidos e talvez com pouca piada…. São vocês que me impedem?... Querem me agredir, é?.... Podem vir quentes, que eu estou fervendo…..
Por acaso não… por acaso até estou com um friozinho e à conta disso tenho o rabiosque sentado em cima do aquecedor a óleo só naquela de queimar calorias…
Voltando à vaca grelhada…. Por acaso sou daquelas que consegue ir à casa de banho sozinha porque realmente tenho uns belos duns quadris roliços e fortes que aguentam qualquer tipo de tranca, especialmente a minha, sem tremer nem hesitar. Graças a muito trabalho de bola e um ginásio regular que me garante um ponteiro firme e hirto que nunca desce, consigo aguentar a passareca no ar enquanto esta colabora para o dilúvio na cerâmica e consigo abanar violentamente a mesma na ausência de papel. Mas sei que isto não é para qualquer uma.
Na realidade a coisa é muito mais complicada para a mulher comum que não tem as minhas ancas de sonho, e que regulamente vai a casas de banho públicas com malas cheias de tralhas e sacos de compras… mas já fui assim, gaja…
Na maior parte das vezes as casas de banho públicas estão num estado que só consigo adjectivar como, uma grande noja e por tal, só a hipótese de tocar com as nádegas cor de pesseguinho em tampos nunca antes lavados e com excedentes de dilúvios alheios, faz com que seja preferível uma infecção urinária por aguentar a bexiga em ponto bomba-relógio durante a hora de ponta até chegar a casa.
Mas caso não seja possível aguentar, porque ainda dá muito nas vistas andar por aí de perna cruzada enquanto se aperta a saída óbvia do xixi, não temos outra opção se não entrar nestas cabines dos maus odores.
Quando o fazemos várias coisas são certas: a porta não fecha, os cabides para o casado, para a mala e para os sacos não existem e o chão tem uma textura húmida e amarela que nos faz arregaçar as calças com receio de tocar nos líquidos estranhos.
Quando conseguimos arregaçar as calças, segurar o casaco debaixo do braço e pendurar a mala com três meses de bugigangas no pescoço, baixamos as calças, rezamos para que os quadris aguentem na posição da marcha atrás e fazemos a tão aguardada mijinha (sempre com uma mão na porta porque o trinco não funciona e há uma fila de mulheres grávidas, idosas e crianças de fralda a querer passar à frente).
Quando, aliviadas, acabamos de esvaziar o saco bexilical, apercebemo-nos de que não há papel e tentamos, com a mão que não está a segurar a porta, tirar algum lenço da mala que está ao pescoço e por isso percorremos meses de constante acumulação de porcaria inútil, e no meu caso, a possibilidade é encontrar um lenço ranhoso e tentar encontrar uma ponta sem muco que sirva para o efeito. Obviamente que a ponta que utilizamos não é o suficiente e por isso acabamos por usar a mãozinha que a mãezinha nos deu para limpar o restante, ficamos por isso com uma mão ocupada com a porta e outra mijada.
A solução passa por abanar a selva e tentar desumidificar a coisa, enquanto encostamos o rabo à porta para impedir a mulher que nos torceu o pulso quando forçou a porta porque não viu o sinal ocupado volte e, desesperada, ache que temos cara de tampo sanitário. Depois de puxar o autoclismo e a roupa com a única mão limpa enquanto o rabo prende a porta, acabamos por nos esquecer do casaco debaixo do braço e este, inevitavelmente, cai em pleno holocausto que é o pavimento da casa de banho. Quando apanhamos o casaco com a mão mijada porque a outra está a apertar a braguilha, e tiramos o rabo por três segundos da porta para nos baixarmos, alguém força a entrada e faz-nos dar uma cabeçada no autoclismo metálico e sem pensarmos, apoiamos as mãos onde evitámos sentarmo-nos e a mala cai dentro da “água” sanitária. Enquanto a senhora pede desculpas (ou não, se for portuguesa), repetimos o rol de palavras torpes que conhecemos em direcção a quem esteja nas imediações do cubículo do nojo, e tentamos recompormo-nos da situação enquanto lançamos para os confins do subconsciente o facto de termos estado a chafurdar na urina alheia (dia bom, se for só urina). Quando saímos do cubo amarelo levamos com olhares assassinos de conespecíficas que acham que demoramos muito tempo e ainda por cima sujámos tudo e só nos apetece espetar na sanita a cabeça da miúda de 7 anos que entra a seguir e faz queixinhas à mãe que o tampo está pingado, enquanto nós, no cúmulo da humilhação, escorremos suor e limpamos a testa com as mãos ainda não lavadas.
Quando pousamos a mala e o casaco no lavatório, acertamos numa poça de água e por um lado ficamos aliviadas por apenas haver restos de cabelos, cuspo e papel ensopado nessa poça, lavamos as mãos, a cara e tentamos a todo o custo recuperar a postura. Quem tem, utiliza a maquilhagem para esconder o sofrimento, e saímos para a civilização exaustas, humilhadas, urinadas, mas com a bexiga vazia e o ódio comum pelos homens, pelos seus urinóis elevados, por não utilizarem malas e por só precisarem duma mão para sacudir a cobra-zarolha.
O porquê de irmos aos pares? Ter alguém que nos segure nas coisas enquanto despejamos a dita cuja, alguém que nos forneça papel caso não haja, e alguém que proteja a porta de possíveis intrusas. No fundo, na guerra dos sanitários convém sempre ter aliadas, porque uma vez sozinhas o certo é chafurdarmos.
Eu, além dos quadris espectaculares, tenho sempre três pacotes de lenços na mala, penduro a mala e o casaco nas dobradiças da porta (ou em cima) e enquanto urino falo sozinha e represento sintomas de esquizofrenia, para o caso de alguém tentar entrar ou tocar nas minhas coisas. É certo e sabido que ninguém tenta entrar e os olhares que recebo têm muito de medo.
Sim. Eu mijo sozinha.

5 comentários:

  1. Eu também mijo sozinha!...e ai de quem tentar ir comigo!!!
    Beijo
    *Ecopista*

    ResponderEliminar
  2. Eu tb sempre mijei sozinha, e concordo com tudo o que disses-te menos na parte da esquizofrenia, eu deixo-me ficar com a mãozinha na porta

    ResponderEliminar
  3. gosto de saber que já usas a bonita palavra...cobra zarolha. Adorei o teu relato sobre mijinhas femininas. Adoro ler-te!
    comentário está a ser escrito num telemóvel xpto de 200 euros cujo dono é o meu primo de 16 anos. Devo dizer que como mulher, é com toda a certeza que afirmo: mijar é mais complicado que usar este teclado táctil. Beijo xpto

    ResponderEliminar
  4. I'm appreciate your writing skill.Please keep on working hard.^^

    ResponderEliminar
  5. Epá que odisseia fantástica... Ainda fiquei preocupada se aquilo seria um relato de um incidente verídico vivido por ti... fico satisfeita em saber que usas a esquizofrenia para evitar alguns desagrados!

    As minhas idas às WC públicas não são assim essa animação, apesar de agora serem mais frequentes dado que nos últimos dias já fiz mais kms do que a minha bexiga aguenta!

    A minha experiência diz me que as pessoas andam com mais cuidado em manter WC's de estabelecimentos em melhor estado... eu cá não toco em nada com a mãozinha, empurro portas com o ombro ou com o braço, utilizo mangas de camisola para rodar maçanetas, utilizo sempre lenços de papel meus e por fim feita badalhoca saio da casa-de-banho sem lavar as mãos, desinfectando-as depois com toalhitas minhas! Eu cá só toco naquelas torneiras porcas com uma pistola apontada à cabeça!!! a menos que tenham sensor claro... mas se estas têm... o gel das mãos nunca tem... ora vai dar ao mesmo!

    Realmente as idas aos pares trazem as vantagens que dizes... eu cá vou na maioria das vezes sozinha... mas se te tivesse a ti para segurar mala, casaco, dar papel ou ajudar me a fechar a porta... tanto melhor!!!

    ResponderEliminar