14 abril 2008

A alma cheia de nada e o coração de coisa nenhuma

A experiência em Barcelona está quase a chegar ao fim, como também está quase a terminar uma das etapas mais importantes da minha vida. Aquela etapa pró adolescência e pré vida adulta…como é que chama? Algo a ver com bebida… noitadas... praxes e muitos, muitos recalcamentos… alcoolismo?? Hum.. deve ser, deve!
Esta fase que nos embriagou o corpo e a alma está quase, quase a terminar. Falta a derradeira prova dos vinhos, falta a grande e inesquecível Queima das Fitas. Faltam as lágrimas, a saudade antecipada de uma vida que não se terá mais, de uma irresponsabilidade que não será mais compreendida, da liberdade que nos deixa tocar no céu, uma liberdade de poder cair sempre que se queira, poder errar e voltar a errar, poder dizer o que se vai na alma… ser radical, ser extremista, ser apologista da cor azul, defender aquilo em que se acredita mesmo que não seja coisa nenhuma… ser livre, ser estupidamente livre… ser tão feliz que não se sabe… ser dolorosamente feliz!
Valeu tanto a pena, foi tão bom e tão intenso que me dói só de pensar. Tive na cidade perfeita, na universidade perfeita e com as pessoas perfeitas. Não podiam ter sido outras, foram estas que me ensinaram tudo e construíram a pessoa que sou hoje (orgulhem-se ou não!).
Cada coluna, cada calçada tem para mim uma história, tem para mim uma simbologia especial. As escadas da Sé contam tantas actuações, sapatadas, noites de conversa e muitos momentos de fotossíntese debaixo do sol Eborence! Uma universidade que tantos estudantes albergou, a universidade mais bonita do mundo. Tão grande e tão acolhedora, tão fria e tão quente, tão assustadora e tão reconfortante… a nossa universidade… a minha universidade. Uma cidade que tem em cada janela tanta história como tem o mundo, ruas que escutaram tantas e tantas serenatas, rostos que já viveram tanto a vida, uma cidade que faz brotar a poesia.
As capas ao vento, os saltos na calçada, a meia rasgada, um cavaquinho, um bicho de olhos no chão, um Doutor de óculos escuros… tudo isto me faz inchar o peito de orgulho por ter feito parte desta vida, por ter sido bicho, ter sido estudante, ter sido Tunante e agora, com muita saudade, finalista!
Penso em que cada um de vocês, desenho os vossos pormenores na minha cabeça para que fiquem para sempre, recordo cada momento: o primeiro, o segundo, o outro depois desse e todos os outros… menos o último… não vai haver um último, não pode haver um último. Tenho em cada pessoa que partilhou comigo a mesma calçada e o mesmo céu tão claro e tão escuro, tenho em cada amigo que fiz um carinho do tamanho do mundo e um orgulho imensamente grande por ter feito parte da vossa vida e uma divida de gratidão por terem feito parte da minha.
Tenho a alma cheia de todos e o coração de tudo! Sinto-me a explodir de tantos sentimentos de tantas emoções. Sinto que é demasiada a ansiedade de vos ver e demasiado dolorosa a aproximação do fim.
Está-se a avizinhar a fase pior das nossas vidas. A fase em que perder a compostura é algo inaceitável e dizer o que se pensa pode ferir a liberdade do próximo. Temos que ser politicamente correctos, politicamente adultos. Agora sim, temos que inevitavelmente crescer, temos que sair da nossa casa de uma vida e encontrar a nossa casa para a vida. Temos que deixar a nossa família e formar uma família. Temos que deixar de aprender para passar a ensinar, temos que deixar de viver para passar a sobreviver num mundo que se rege por regras que não são as nossas, regras que reivindicamos mas que agora temos que aceitar, temos que cumprir e temos que fazer cumprir. Vamos deixar de viver para sobreviver num mundo em que não se sabe a cor do céu, nem se conhece o fundo do mar. Um mundo em que se deixa de falar com os animais e se passa a conversar com Animais. Um mundo em que deixa de conhecer as pessoas pelo sinais, e se esquece o dialecto da Terra. Um mundo em que se esquece as texturas, as cores, os cheiros, os sabores para se conhecer apenas o NIB. Um mundo em que eu não quero viver, que eu não quero fazer parte. Não me quero esquecer do cheiro do meu Puffy, do sabor do chão quando se cai a jogar à bola, da textura da areia e do cheiro da sangria. Não me quero esquecer de todos os momentos que vivi, de todas as pessoas que conheci, de tudo o que experimentei, não quero deixar de andar na rua e sentir que a minha vida tem banda sonora, tem cor, tem cheiro próprio e tem a textura da felicidade. Não quero ficar com a alma cheia de nada e o coração de coisa nenhuma.

2 comentários:

  1. Sniff, sniff....
    Tanto talento para fazer rir e tanto talento para também fazer chorar...é isso tudo...eu senti o mesmo, só não fui capaz de o colocar por palavras...

    Um Bem Haja a ti, a todos os Bichos que foram da UÉ, em particular aos BioBichos, a todas as Tunantes, aos "vizinhos" (tu sabes quem são: Bom dia Vizinho!), às Tytos e aos Puzzolas e ao Meu, Teu e de todos os UBCianos: Monfurado...

    Sniff, Sniff...
    Beijos
    Gypsy

    PS-Devo acrescentar que o lado de cá também não é mau, com o NIB recheado pode viajar-se para qualquer destino...Só se fica é menos vezes alcoolicamente bem disposta... :), o que geralmente acontece quando se retorna a casa (= Manel dos Potes) de visita...

    ResponderEliminar
  2. :'D



    Palavras perfeitas!
    Beijo recheado de saudade e pleno de orgulho por te ter como amiga,
    da sempre tua,
    Ecopista da madrugada

    ResponderEliminar