11 abril 2008

Cursos para mães

As mães são criaturas concebidas para o efeito de fazerem o melhor por nós parecendo sempre que não é bem esse o objectivo.
Para tal talento e muitos outros tiveram que passar um longo e duro curso almejando ser uma mãe de verdade. E ser uma mãe de verdade nem é a que pare, pode até não ser a que cuida... Se a vossa vizinha vos disser "leva o casaquinho menina, que está frio na rua", essa, surpreendam-se, é a vossa mãe!
Mãe que é mãe gosta obrigatoriamente de músicas sobre emigrantes e a Nossa Senhora e tem no Marco Paulo, Emanuel e Tony Carreira os ídolos de toda uma vida. Mãe que é mãe não gosta de amigos nossos que usem brinco e tenham rastas, mas que podem fazer parte da Associação municipal de ajuda a pessoas da 4ºidade, mas apreciam com muito carinho que levemos amigos de cabelinho arranjado, roupinha de marca (que nem sabe pronunciar), e que normalmente são os que se espetam com seringas nos olhos.
As mães teimam em nos avisar antecipadamente dos nossos erros. Não interessa o que vamos fazer, será sempre a coisa errada. Sair de casa, chegar tarde e não levar agasalho são aqueles erros mais comuns que normalmente alcançam o dito "Eu avisei", que tanta comichão nos dá. E é por estas e por outras que anda muita boa gente com tiques nervosos e com vontade de cortar o tendão de Aquiles.
Estas senhoras têm a elasticidade suficiente do pulso para fazer o gesto do "já levavas uma chapada" sempre que fala connosco, nem que seja um assunto ao qual não estamos relacionados. O gesto ameaçador está sempre lá, o mesmo gesto que acompanha o "sai já da minha cozinha", "vai limpar o teu quarto" entre tantos outros que todos vocês já conhecem.
Para a nossa mãe (menos a minha), nunca comemos o suficiente. Podes arrebatar um tacho inteiro de arrozinho, mas a verdade é que ainda assim estás cada vez mais magro, pálido e comes cada vez menos. Aqui, tenho a dizer que a minha muda radicalmente o seu discurso para o oposto. "Estás cada vez mais gorda", "olha lá essa barriga" e o tão famoso "não percas esse cu que não é preciso". É naquelas conversas do tipo "olha ontem vi a tua prima, está tão gorda, parece um camião TIR. Quando a vi nem a reconheci, parecias mesmo tu, pá!" que tu duvidas claramente do objectivo de fazer o melhor para nós e começas e desenvolver tiques estereotipados que claramente é o recalcamento de toda a gama de amor maternal deste tipo, e que normalmente acaba no desenvolvimento de uma neoplastia que grita contente nos confins do teu cérebro “I’m a Tumor, i’m a tumor, i’m a tumar”. Aqui fica o meu conselho, não recalquem tudo o que mãe diz, respondam à letra, vão ver que levam um estalo... mas eu acredito no fim terapêutico dos estalos, que independentemente da idade que se tem são sempre como uma viagem à infância e é isso que falta aos jovens de hoje… pontapés na cabeça a ver se a educação lhes salta dos poros… mas penso que as mães de hoje, claramente não passaram no curso, e a prova é que evidentemente preferem o Mickael Carrera… não… isso não é coisa de mãe… isso é coisa de pita!
Mãe que é mãe terá que ter dificuldades em dizer certas palavras e o inglês só é bonito na boca do Elvis. Os filmes de cowboys têm um brilho especial e o Bonanza é o herói de serviço.
Mãe que é mãe tenta sempre ser fixe para os nossos amigos o que normalmente acaba com o nosso embaraço total. Nunca lhes sabe os nomes, nunca se lembra quem são por mais vezes que vão à vossa casa e independentemente se os conhecem à 10 anos, serão sempre pessoas novas na vossa vida, e cada vez que falas neles terás que explicar quem são os pais, o que fazem e se têm boas notas e se portam bem na escola.
Tu e os teus amigos terão sempre menos de 15 anos. Por muito que insistas em crescer todos os anos, a mãe aprendeu no curso que os miúdos depois dos 15 não avançam mais e serão para sempre assim.
Não tentem ter conversas sobre sexo, bebedeiras, acidentes de carro, amigas que engravidaram e os que têm problemas de droga, porque elas não vão entender. Para elas vocês serão sempre crianças e a droga presente na vossa vida só poderá ser o açúcar. Se a vossa mãe for moderna e participar nestas conversar acreditem… essa não é a vossa mãe, provavelmente é alguém disfarçado… ou poderá também estar a tentar perceber a juventude, mas a verdade é que quando ouve tudo com muita atenção na realidade estará a recalcar e a criar tumores porque no seu tempo isto não era assim, e claro, não foi isso que aprendeu no curso. Não tentem trocar os papéis. A amiga ouve e compreende, a mãe é e será sempre quem nos deu a vida e quem dava a vida por nós. Não queiram trocar experiências sexuais com a pessoa que vos mudou as fraldas porque lhe estão a criar graves problemas psicológicos. Não esperem que vos entendam ou que vos apoiem quando querem ir para a discoteca até à hora de comprar o pão, mãe que é mãe acha isso uma má ideia, é esse o papel dela, é para isso que lhe pagam… não tentem de maneira nenhuma trocar a vossa mãe por uma amiga, porque a amiga não vos vai dar os estalos que vão precisar de levar.
Mas mãe não é só isto. Mãe é tudo e na realidade, não é nada. É tudo o que nos faz feliz, nos faz confortáveis, nos faz seguros, nos faz secar muitas lágrimas. Mãe também é nada, é o nada que nos faz falta, é o nada que sendo o nada acaba por ser tudo, acaba por ser o pormenor que nos alimenta e nos faz florescer. Mãe é o nada que nos faz ser tudo!
Esta a uma homenagem à minha mãe, que por muito que diga mánica, será sempre a melhor mãe do mundo.




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