06 março 2007

Terminal de aeroporto

Qual Tom Hanks qual quê!! Eu queria ver se a sua vidinha tinha sido tão fácil se tivesse no aeroporto de Malpensa, onde não há amigos, a comida não presta e a mala não cabe na casa de banho, Ah e tal! vivi num aeroporto 20 anos, sou tão triste...
Posso dizer que eu sim, já vivi intensamente num aeroporto. Ora bem, a primeira coisa que me passou pela cabeça quando percebi que ia passar mais que 24h ali foi, que era estranho as hospedeiras usarem pensos rapidos nos pés, no sentido em que já deviam estar habituadas aos saltos, mas depois disso, pensei "Mas que merda vou eu fazer aqui?!" Primeiramente foi necessário uma averiguação do terreno, então andei a sondar a área, é de notar que sempre com o malão atrás, para tentar arranjar um poiso agradável para viver, colocar a minha caixa de cartão e o jornal para dormir. É certo que sempre que arranjava um sitio agradável logo me fartava dele, assim era mudar de poiso e tentar retomar a vida errante. Não me lembro de muitas coisas dessas horas tão pouco lúcidas, o meu subconsciente fez questão de absorver todos os sentimentos não muito agradáveis que por mim passaram, como belo sistema imunitário da alma que é, claro que daqui a uns anos me vou perguntar donde surgiu o tumor, mas essa é outra história. Lembro-me de sentir que as pessoas olhavam muito para mim e que a policia passava por mim demasiadas vezes. O certo é que não podia andar muito de um lado para outro porque tinha a mala de 30kg (a partir de agora vou chamá-la de farrusca, para facilitar) atrás, porque se a deixasse algures o mais certo era rebentarem com aquilo, que isto em aeroportos nunca se sabe.
Assim, as horas mais fantásticas da minha vida foram passadas a tentar arranjar o que fazer. Joguei solitário no computador,que durou pouco por causa da bateria, mas o que me deu outra tarefa para me entreter que era tentar arranjar uma tomada compatível para a ficha do computador, assim era ver-me com a farrusca atrás, de cú para o ar em todos os postes a tentar experimentar as tomadas... se o meu subconsciente não tivesse apagado estas cenas, com certesa já teria cortado os calcanhares... bom, adiante! Li o Equador, mas é claro que uma pessoa não consegue tar 24h a ler, muito perto tive eu de começar a recitar alto as falas para os traseuntes e começar a representar a história com a ajuda da farrusca, faltou mesmo muito pouco...
De vez em quando ia ao café beber um capuchino, fazer desenhos nos guardanapos e imaginar as pessoas despidas. Tentava aceder aos postes de internet de cobravam 1€ por 5min, mas que encravava e não me deixavam fazer nada, e era só ver o tempo a passar e o dinheiro a sumir. Houve uma altura em que a caixa multibanco não funcionava, a única daquele aeroporto, então fiquei a desesperar sem dinheiro, porque acontece-me sempre isto, deixo acabar o último tostão até ir levantar,depois fico a salivar. Pensei que além daquilo tudo ia morrer de fome porque não tinha dinheiro para comer, e não podia embarcar no dia seguinte porque não podia pagar o excesso de bagagem pois não aceitam cartões. Assim depois de imaginar todos os cenários possiveis, como por exemplo, explodirem me a mim por estar abandonada no aeroporto, lá fiz uma dança da chuva à máquina e ela deu-me o bendito dinheirinho.
De vez em quando ia á casa de banho aperaltar-me, tentava enfiar a farrusca naquelas portas onde mal cabia eu, desarmava-a para tirar o material, lá lavava os dentes, penteava-me, mudava de roupa, bom,lá está, vivi mesmo ali.
Tentava dormir naqueles bancos tão confortáveis e com a calmaria que é um aeroporto, tentava distrair me com o que se passava á minha volta, tentava dizer mal dos outros a mim própria, posso dizer que estava literalmente farta da minha pessoa e já não me podia ver mais á frente!
A noite até se passou depressa, porque afinal não sou a única a viver no aeroporto e durante a noite o pessoal começou a acampar por ali e ficou tudo silencioso, e até dormi razoavelmente, com a famelga a telefonar de vez em quando a ver se eu ainda estava viva. No dia seguinte foi acordar, fazer o banco/cama, e ir com a farrusca á casa de banho lavar as ramelas e acordar para vida. Encontrei a minha amiga italiana, que disse que andou á minha procura e que espalhou pelos italinos todos que eu tinha dormido ali sozinha,assim, o resto da viajem, até chegarmos, fui adoptada pelos passageiros italianos que nunca me deixavam sozinha e era sempre "andiamo" e a dizer o que tinha que fazer e a tentarem me explicar tudo, eu era a pequena farrusca deles. Finalmente lá embarquei, desta vez consegui ficar á janela e mais uma vez á frente dos hospedeiros que desta vez eram um casalzinho.
Finalmente cheguei a Napóles, das cidades mais loucas que já vi na minha vida...
Ciao Calabria!


2 comentários:

  1. És a minha Heroina!!!!!!

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  2. Tens mesmo que escrever um livro um dia destes!!!!:)
    Tens mm jeito...e piada!!!

    xará

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