Existirá um prazo de validades para
blogs não abertos? Se sim, este meu cantinho no mundo virtual já
estará expirado... na realidade já houve tempos em que cheirou
melhor, e o bom senso aconselha-me que o jogue fora para a lixeira
cibernética.. mas o coração é mais forte, e este meu espacinho é
sem dúvida um brinquedo que deixei de usar mas que não empresto a
ninguém...
Vou sacudir o pó, abrir as janelas a
ver se o cheiro sai, acender uns incensozitos, e vamos ver se a coisa
ainda se aproveita.
Mas na verdade não está esquecido.
São muitas as vezes que penso em vir aqui verborrear as coisas da
vida, mas sinto que a vida tem sido pouco interessante para merecer
ser debitada nesta caixa de pandora...
“olha a parvalhona” - dizem vocês
os dois que estão a ler isto (tu, e eu própria que irei reler, tá
claro) - “vive numa Ilha perdida e paradisíaca no fim do mundo e
diz que a vida não é interessante... haviam de lhe nascer
hemorroidas pelo rego acima“...
E vocês estariam certos – no fundo
tu e eu estaríamos certos – mas sinto-me casada, quotidiana e
tributável... Já não tenho stripers na minha vida, nem ciganos a
querer vender-me esperma...
...
Ou será que tenho?
...
Era uma vez um determinado indivíduo
de etnia cigana que me ofereceu a sua essência, que é como quem diz
esperma, para curar o meu problema de pilosidades faciais, que é
como quem diz barba
(http://memoriasdeumaqueixa.blogspot.com/2010/03/domingo.html),
depois desapareceu da minha vida, mas nunca da minha memória.
É verdade que me mudei, não foi só
de cidade, nem tampouco só de país, foi mesmo de continente e para
debaixo da axila de África para ele não me encontrar, mas... nesta
minha última visita a Sines, em passeio pelo grande Internachê com
os meus progenitores, demos de cara com o dito cujo.
M E D O.
Ele comenta “Tu já na te deves
alembrar de mim”... e eu penso cá para mim... “então não me
iria alembrar do personagem que além de dizer que eu tinha barba, se
oferece para cozinhar uma receita de esperma, vinagre e ervas para
resolver de vez os meus problemas?”... “Pois, não estou a ver
não” - digo eu, a fingir-me tímida e sem pêlos na cara, não vá
a oferta surgir outra vez... O meu pai fez questão de me relembrar
(ele não assistiu à generosa oferta), que o senhor tinha sido muito
caridoso, pois ajudou-nos a carregar mobília para Évora. Eu disse
“Ah, claro.. Então não me iria lembrar de pessoa tão generosa
como você, caro senhor, claro que me lembro”... Cumprimentamo-nos
assim meio à tia, que era para ele não sentir barba nenhuma.
E pensei cá para mim, que melhor
oportunidade para retomar este cantinho de queixiçes que depois de
reencontrar o cigano do esperma?
Só mesmo se for para falar de vaginas
e restos de parede do endométrio. E é exatamente sobre isso que
venho aqui falar hoje.
Vou re-abrir esta espelunca para falar
de copos vaginais.
Copos vaginais? - perguntas tu, porque
eu já perdi o interesse na leitura.
Sim, copos vaginais, minha criatura sem
vida que continua a vir aqui reler aquilo que escrevi há uma década
atrás.
Copos vaginais são a nova sensação
de coisas para enfiarmos na vagina. Ah e tal, é ecológico. Ah e
tal, é mais saudável. Ah e tal, é mais barato. Ah e tal, só tens
que enfiar um copo pela vagina acima.
Desafio azeite.... desculpa, aceite..
são as saudades.
Isto de morar no fim do mundo tem que
se lhe diga. É espetacular q.b....
É bonito, sim senhora, não há
ciganos que me oferecem esperma, nem strippers que dancem ao som da
spanish guitar
(http://memoriasdeumaqueixa.blogspot.com/2008/04/one-with-strip.html)…
mas, se me aparece o filho-da-puta do período sem aviso prévio, eu
não posso ir ali à Galp comprar pensos a 20€. Não há galp. Não
há pensos. Nem tampouco há euros.
Eu estou em África e há folhas de
bananeira. Já tentei e não resulta. Diz que é pouco absorvente.
Assim sendo, de cada vez que vou a
Portugal, o que acontece de 6 em 6 meses, tenho que trazer um
carregamento de pensos como se me estivesse a esvair em sangue por
todos os poros do corpo. A senhora da caixa olha sempre para mim com
uma certa pena, receito e alguma curiosidade também. Parece-me que
evita tocar-me, em caso de ser contaminoso.
E assim, tenho os armários, gavetas e
o espaço debaixo da cama cheios de embalagens de evax, para quando o
filho-da-puta visita e para o resto da minha vida, parece-me.
Eu estava bastante conformada com esta
vida. Afinal, sobre isto de nos esvairmos em sangue há pouco que se
possa fazer.
“Porque é que não usas tampões?”
- perguntas tu com a mania que sabes das coisas. “Arrumam-se
melhor, ocupam menos espaço e blá, blá, blá, wiskas saquetas”.
Porque a minha pitchuquinha não gosta
que se lhe enfiem tampões pelo colo acima. Eu pensava que ela até
era assim para tudo o que fosse de enfiar, mas parece que a magana
afinal gosta que outras coisas se enfiem por ela acima... mas
tampões... a cabrona não vai lá...
Já tentei. Em cada período tenho a
esperança que desta vez ela aceite a minha oferta generosa de lhe
enfiar um supositório de algodão que triplica de tamanho com o
fluxo, pela goela acima. Faço-lhe carinhos, falo com ela com
respeito, e explico-lhe o quão melhor é do que andar de pensos que
ensopam, sujam, e nunca ficam bem alinhados na cueca e acabam sempre
por se enfiar no rego.
Eu juro que tento. Ela não deixa.
Fecha-se em copas. Grunhe “Nã nã nã nã”, e não deixa.
Estrago tampões e nada... lá tenho que abrir a merda de uma fralda
evax e fazer-lhe a vontade.
“Então se ela não aceita tampões,
vai aceitar um copo vaginal?'”, perguntas tu a meter-te já onde
não deves, que assuntos privados são assuntos privados.
Raios-ta-partiçe...
Mas é aí que a história fica
interessante.... ou talvez não... pouco importa agora.
Uma amiga visitou-me aqui a casa e,
sentada na minha casa de banho, e com pouco com que se entreter (eu
aqui não tenho Turmas da Mónica perto do trono de cerâmica),
reparou na quantidade astronómica de pensos higiénicos que eu tinha
em armazém.
E perguntou-me “tu, que és uma moça
tão ecológica e dada às eco-cenas, ainda fazes todo este lixo em
pensos usados”?
E eu pensei, “eh lá, tu queres ver
que agora, nos países chamados desenvolvidos, voltaram ao paninho
para lavar?”
“Porque é que não usas o copo
menstrual?” - pergunta ela.
5 anos de Ilha do Príncipe faz com que
se perca um pouco dos desenvolvimentos do mundo. Estamos bem aqui.
Não precisamos de modernices. Mas por isso, quando ouvi falar em
copos vaginais senti-me membro da comunidade Hamish que ouve falar de
música pela primeira vez. Repugnei, achei absurdo e um pecado, uma
loucura diria mesmo, “quem é que inventa tal tortura?” - disse
eu... mas depois fiquei curiosa.
“Copos vaginais?” - perguntei eu,
já a parecer tu.
“Sim, é a nova moda. São
ecológicos, porque podes reutilizar e duram 10 anos. Só tens que
lavar entre cada utilização, e ferver de período para período.
São mais saudáveis, porque o vácuo que se cria no copo não deixa
que se desenvolvam bactérias. E o melhor de tudo, podes ficar com
ele 12 horas.”
Senti a pitchuquinha encolher-se. Senti
as paredes do endométrio apertarem e os lábios fecharem-se para
nunca mais abrirem (os vaginais, não os outros). Senti-a a tremer e
a pedir-me baixinho “Não, por favor, não” - numa cena em que se
encosta à parede a ouvir a Celin Dion e a soluçar baixinho.
Mas então tu não gostas ed coisas
grandes por aí acima, e de preferência que vibrem, minha grande
porcalhona? Ah, vais experimentar sim senhora, que quem manda aqui
sou eu!
(não sou, na realidade, mas são
coisas que se dizem no momento).
Assim sendo, caguei nas vontades da
pitchuquinha e comprei um copo vaginal de 30€.
E para me forçar a realmente vencer a
mimalhiçe da pitchuquinha, nem trouxe pensos desta vez. Assim, ou é
isto, ou folhas de bananeira.
Comprei o dito cujo. Todo fashion, num
saquinho roxo, de cor verde. Fiz várias perguntas à menina da
farmácia que não soube responder a nenhuma. “Não conheço
ninguém que tenham usado” - diz ela, “Mas, nunca ninguém veio
reclamar.” - completa. “Talvez porque ninguém sobreviveu” -
penso eu. “Mas que se lixe, vou levar e depois venho cá contar”,
remato eu confiante, enquanto saio toda serelepe da farmácia, de
copo vaginal na mão e sorriso na cara. Isto é que é modernidade!
Guardei na mala para a viagem e não
pensei mais no assunto.
Cheguei há 3 dias, e hoje veio visitar
o filho-da-puta, porque estava cheia de saudades (o período,
entenda-se. Eu trato-o assim que é uma brincadeira que a gente tem).
Ao pressentir que ele ia aparecer, isto porque ele gosta de se
anunciar, tirei o copo do saquinho fashion.
Durante a hora de almoço pus o copinho
a ferver e tal. Ele boia na água, por isso fiquei com a sensação
que se calhar estava mal fervido, e quando voltei do trabalho à
tarde, resolvi ferver novamente só por descargo de consciência.
Enquanto esterilizava o copito, fui
fazer exercício – sim, porque agora eu faço exercícios e sou uma
mulher cheia de energia e com menos 20 kg – esqueci-me do copo ao
lume.
Quando comecei a ouvir o som de panela
a ferver vazia, saltei da bola de pilates e corri para a cozinha. Só
havia uma bordinha de água e pensei, já fodi esta merda toda....
gaiata dum cabrão, nem sequer vai conseguir dizer que conseguiu usar
esta porcaria porque derreteu o copo ao lume... só mesmo tu Estrela
Matilde... e esbofeteei-me um bocado, só para ver se aprendo.
Mas afinal o copo estava bem. Se dura
10 anos, também dura o fogo direto, ao que parece. Nem sei do que
isto é feito, mas parece imortal e invencível... mesmo o que eu
preciso para a luta contra a pitchuquinha.
Depois de tomar banho, toda limpinha e
em toalha, resolvo experimentar, porque o período iria chegar em
breve, e convinha experimentar antes de ficar toda lambuzada em
langanhozises.
Fiquei a olhar para o copo uns bons 20
minutos. Pensei. Deixei de pensar. Pensei. “Como é que vou enfiar
isto lá dentro?”. Deixei de pensar...
Fui ver videos no youtube. Agora é
assim que se aprendem coisa, as enciclopédias menstruais ou a Drª
Susy da Sic Radical, são coisas do passado. Ignorei os vídeos que
diziam “o que não te explicam sobre o copo menstrual” e “a
minha vagina recusou o copo menstrual”, e tudo o que fossem
energias negativas de gente com passarecas mais esquisitas que a
minha. Eu queria positivismo, passarinhas felizes, contentes e com um
copo enfiado... tudo o que ajudasse na contaminação positiva da
minha pitchuquinha já era muito bom.
Aprendi, por exemplo, que se tem que
dobrar o copo. Ufa... menos mal.
É fácil dobrar um copo de silicone
médico? Não..
Mas existem 7 dobras possíveis: em S,
em C, em 7, em diamante, em o raio-que-a-parta... porque ao que
parece, cada passarita gosta do copo dobrado de maneira diferente...
são finas, as meninas.
Lá tentei uma dobra... não foi.
outra dobra... não foi.
A verdade é que o copo é tão grosso
que é difícil fazer força na dobra para ele não se abrir antes de
estar no sitio certo. Tem estar fechadinho, e depois de enfiado rodar
um bocadinho para ele se abrir, e puff.. fez-se o chocapik. Depois é
só puxar quando tiver cheio, despejar, lavar e voltar a enfiar.
Simples não é?
Não....
Tentei várias dobras.. Tentei até ao
contrário, não fosse o caso da minha pitchuquinha ter a mania de
ser alternativa.. Não foi..
Tentei deitada, nada...
Com a perna em cima da sanita enquanto
olho para trás, nada..
A fazer o pino, nada...
Quando começou a ficar dorida,
irritada – literalmente – e vermelha, desisti.
Chamei-lhe todos os nomes possíveis e
imaginários. Ameacei que não irá comer tão cedo.. mas desisti...
Hoje veio-me o período.
Pensei, vou tentar de novo. Nem que
seja pelos 30€, tenho que tentar de novo.
Tentei uma, duas vezes. Uma, duas, três
dobras diferentes. Finalmente consegui!!!
Fiquei na dúvida se abriu lá dentro.
Será que abriu? Tentei rodar para fazer não sei o quê que explicam
nos vídeos, não roda merda nenhuma, e ainda belisquei a pobre
coitada.
As especialistas do youtube disseram
que não podemos sentir o pinozito que sai do copo e que serve para
puxar, então achei que devia ir um bocadinho mais para dentro e lá
enfiei a porra do copo mais para dentro.
Merda...
Agora não consigo tirar. Tive 5
segundos de pânico em que imaginei a minha vida nesta Ilha depois de
ter que ir às urgências – que não existem – por ter um copo
enfiado na vagina. Com certeza seriam filas de “médicos” para
ajudar a puxar o copo da vagina da branca... eu deixaria de ser a
branca da biosfera para passar a ser a branca do copo na vagina..
Vivo com isso? Talvez...acho que já vivi com pior...
Estes pensamentos ocorreram todos em 5
segundos. Eu sou assim, quando quero sou rápida. Respirei fundo,
lembrei-me que a minha pitchuquinha tem músculos bem fortes, e fiz
um bocadinho de força. Lá consegui tirar o pinozinho para fora e
não mexi mais.
Tentei sentar-me, andar e dançar a ver
se sentia alguma coisa e sim.. sente-se que está ali qualquer coisa.
Não dói nem magoa, nem faz impressão, mas está lá. Pode ser
psicológico também, que o meu psicológico tem muito que se lhe
diga. Mas não está mau....
Fui para o trabalho, regressei, fiz
xixi, que essa era outra coisa que eu, apesar de saber que são dois
canais diferentes, estava-me a fazer confusão, e resolvi escrever
esta dissertação a explicar o sucedido.
E porquê? - não pergunta ninguém
porque até tu já desististe da leitura.
Porque agora que está cá dentro, não
quero tirar porque acho que já não vou conseguir pôr outra vez.
Assim sendo, e porque gosto de experimentar, estou a pensar que em
vez das 12h vou tentar os 3 dias de período, pode ser que não
transborde.
Mas, se a coisa não correr bem e eu
morrer com um copo menstrual na pitchuquinha, fica aqui o relato na
primeira pessoa desta experiência vaginal.
Se não correr mal, volto aqui para
contar.
Good Bi, minha gente. Good Bi, vaginas
do mundo.