12 maio 2017

Ciganos e vaginas temperamentais.

Existirá um prazo de validades para blogs não abertos? Se sim, este meu cantinho no mundo virtual já estará expirado... na realidade já houve tempos em que cheirou melhor, e o bom senso aconselha-me que o jogue fora para a lixeira cibernética.. mas o coração é mais forte, e este meu espacinho é sem dúvida um brinquedo que deixei de usar mas que não empresto a ninguém...

Vou sacudir o pó, abrir as janelas a ver se o cheiro sai, acender uns incensozitos, e vamos ver se a coisa ainda se aproveita.

Mas na verdade não está esquecido. São muitas as vezes que penso em vir aqui verborrear as coisas da vida, mas sinto que a vida tem sido pouco interessante para merecer ser debitada nesta caixa de pandora...

“olha a parvalhona” - dizem vocês os dois que estão a ler isto (tu, e eu própria que irei reler, tá claro) - “vive numa Ilha perdida e paradisíaca no fim do mundo e diz que a vida não é interessante... haviam de lhe nascer hemorroidas pelo rego acima“...

E vocês estariam certos – no fundo tu e eu estaríamos certos – mas sinto-me casada, quotidiana e tributável... Já não tenho stripers na minha vida, nem ciganos a querer vender-me esperma...

...

Ou será que tenho?

...

Era uma vez um determinado indivíduo de etnia cigana que me ofereceu a sua essência, que é como quem diz esperma, para curar o meu problema de pilosidades faciais, que é como quem diz barba (http://memoriasdeumaqueixa.blogspot.com/2010/03/domingo.html), depois desapareceu da minha vida, mas nunca da minha memória.

É verdade que me mudei, não foi só de cidade, nem tampouco só de país, foi mesmo de continente e para debaixo da axila de África para ele não me encontrar, mas... nesta minha última visita a Sines, em passeio pelo grande Internachê com os meus progenitores, demos de cara com o dito cujo.

M E D O.

Ele comenta “Tu já na te deves alembrar de mim”... e eu penso cá para mim... “então não me iria alembrar do personagem que além de dizer que eu tinha barba, se oferece para cozinhar uma receita de esperma, vinagre e ervas para resolver de vez os meus problemas?”... “Pois, não estou a ver não” - digo eu, a fingir-me tímida e sem pêlos na cara, não vá a oferta surgir outra vez... O meu pai fez questão de me relembrar (ele não assistiu à generosa oferta), que o senhor tinha sido muito caridoso, pois ajudou-nos a carregar mobília para Évora. Eu disse “Ah, claro.. Então não me iria lembrar de pessoa tão generosa como você, caro senhor, claro que me lembro”... Cumprimentamo-nos assim meio à tia, que era para ele não sentir barba nenhuma.

E pensei cá para mim, que melhor oportunidade para retomar este cantinho de queixiçes que depois de reencontrar o cigano do esperma?

Só mesmo se for para falar de vaginas e restos de parede do endométrio. E é exatamente sobre isso que venho aqui falar hoje.

Vou re-abrir esta espelunca para falar de copos vaginais.

Copos vaginais? - perguntas tu, porque eu já perdi o interesse na leitura.

Sim, copos vaginais, minha criatura sem vida que continua a vir aqui reler aquilo que escrevi há uma década atrás.

Copos vaginais são a nova sensação de coisas para enfiarmos na vagina. Ah e tal, é ecológico. Ah e tal, é mais saudável. Ah e tal, é mais barato. Ah e tal, só tens que enfiar um copo pela vagina acima.

Desafio azeite.... desculpa, aceite.. são as saudades.

Isto de morar no fim do mundo tem que se lhe diga. É espetacular q.b....

É bonito, sim senhora, não há ciganos que me oferecem esperma, nem strippers que dancem ao som da spanish guitar (http://memoriasdeumaqueixa.blogspot.com/2008/04/one-with-strip.html)… mas, se me aparece o filho-da-puta do período sem aviso prévio, eu não posso ir ali à Galp comprar pensos a 20€. Não há galp. Não há pensos. Nem tampouco há euros.

Eu estou em África e há folhas de bananeira. Já tentei e não resulta. Diz que é pouco absorvente.

Assim sendo, de cada vez que vou a Portugal, o que acontece de 6 em 6 meses, tenho que trazer um carregamento de pensos como se me estivesse a esvair em sangue por todos os poros do corpo. A senhora da caixa olha sempre para mim com uma certa pena, receito e alguma curiosidade também. Parece-me que evita tocar-me, em caso de ser contaminoso.

E assim, tenho os armários, gavetas e o espaço debaixo da cama cheios de embalagens de evax, para quando o filho-da-puta visita e para o resto da minha vida, parece-me.

Eu estava bastante conformada com esta vida. Afinal, sobre isto de nos esvairmos em sangue há pouco que se possa fazer.

“Porque é que não usas tampões?” - perguntas tu com a mania que sabes das coisas. “Arrumam-se melhor, ocupam menos espaço e blá, blá, blá, wiskas saquetas”.

Porque a minha pitchuquinha não gosta que se lhe enfiem tampões pelo colo acima. Eu pensava que ela até era assim para tudo o que fosse de enfiar, mas parece que a magana afinal gosta que outras coisas se enfiem por ela acima... mas tampões... a cabrona não vai lá...

Já tentei. Em cada período tenho a esperança que desta vez ela aceite a minha oferta generosa de lhe enfiar um supositório de algodão que triplica de tamanho com o fluxo, pela goela acima. Faço-lhe carinhos, falo com ela com respeito, e explico-lhe o quão melhor é do que andar de pensos que ensopam, sujam, e nunca ficam bem alinhados na cueca e acabam sempre por se enfiar no rego.

Eu juro que tento. Ela não deixa. Fecha-se em copas. Grunhe “Nã nã nã nã”, e não deixa. Estrago tampões e nada... lá tenho que abrir a merda de uma fralda evax e fazer-lhe a vontade.

“Então se ela não aceita tampões, vai aceitar um copo vaginal?'”, perguntas tu a meter-te já onde não deves, que assuntos privados são assuntos privados. Raios-ta-partiçe...

Mas é aí que a história fica interessante.... ou talvez não... pouco importa agora.

Uma amiga visitou-me aqui a casa e, sentada na minha casa de banho, e com pouco com que se entreter (eu aqui não tenho Turmas da Mónica perto do trono de cerâmica), reparou na quantidade astronómica de pensos higiénicos que eu tinha em armazém.

E perguntou-me “tu, que és uma moça tão ecológica e dada às eco-cenas, ainda fazes todo este lixo em pensos usados”?

E eu pensei, “eh lá, tu queres ver que agora, nos países chamados desenvolvidos, voltaram ao paninho para lavar?”

“Porque é que não usas o copo menstrual?” - pergunta ela.

5 anos de Ilha do Príncipe faz com que se perca um pouco dos desenvolvimentos do mundo. Estamos bem aqui. Não precisamos de modernices. Mas por isso, quando ouvi falar em copos vaginais senti-me membro da comunidade Hamish que ouve falar de música pela primeira vez. Repugnei, achei absurdo e um pecado, uma loucura diria mesmo, “quem é que inventa tal tortura?” - disse eu... mas depois fiquei curiosa.

“Copos vaginais?” - perguntei eu, já a parecer tu.

“Sim, é a nova moda. São ecológicos, porque podes reutilizar e duram 10 anos. Só tens que lavar entre cada utilização, e ferver de período para período. São mais saudáveis, porque o vácuo que se cria no copo não deixa que se desenvolvam bactérias. E o melhor de tudo, podes ficar com ele 12 horas.”

Senti a pitchuquinha encolher-se. Senti as paredes do endométrio apertarem e os lábios fecharem-se para nunca mais abrirem (os vaginais, não os outros). Senti-a a tremer e a pedir-me baixinho “Não, por favor, não” - numa cena em que se encosta à parede a ouvir a Celin Dion e a soluçar baixinho.

Mas então tu não gostas ed coisas grandes por aí acima, e de preferência que vibrem, minha grande porcalhona? Ah, vais experimentar sim senhora, que quem manda aqui sou eu!

(não sou, na realidade, mas são coisas que se dizem no momento).

Assim sendo, caguei nas vontades da pitchuquinha e comprei um copo vaginal de 30€.

E para me forçar a realmente vencer a mimalhiçe da pitchuquinha, nem trouxe pensos desta vez. Assim, ou é isto, ou folhas de bananeira.

Comprei o dito cujo. Todo fashion, num saquinho roxo, de cor verde. Fiz várias perguntas à menina da farmácia que não soube responder a nenhuma. “Não conheço ninguém que tenham usado” - diz ela, “Mas, nunca ninguém veio reclamar.” - completa. “Talvez porque ninguém sobreviveu” - penso eu. “Mas que se lixe, vou levar e depois venho cá contar”, remato eu confiante, enquanto saio toda serelepe da farmácia, de copo vaginal na mão e sorriso na cara. Isto é que é modernidade!

Guardei na mala para a viagem e não pensei mais no assunto.

Cheguei há 3 dias, e hoje veio visitar o filho-da-puta, porque estava cheia de saudades (o período, entenda-se. Eu trato-o assim que é uma brincadeira que a gente tem). Ao pressentir que ele ia aparecer, isto porque ele gosta de se anunciar, tirei o copo do saquinho fashion.

Durante a hora de almoço pus o copinho a ferver e tal. Ele boia na água, por isso fiquei com a sensação que se calhar estava mal fervido, e quando voltei do trabalho à tarde, resolvi ferver novamente só por descargo de consciência.

Enquanto esterilizava o copito, fui fazer exercício – sim, porque agora eu faço exercícios e sou uma mulher cheia de energia e com menos 20 kg – esqueci-me do copo ao lume.

Quando comecei a ouvir o som de panela a ferver vazia, saltei da bola de pilates e corri para a cozinha. Só havia uma bordinha de água e pensei, já fodi esta merda toda.... gaiata dum cabrão, nem sequer vai conseguir dizer que conseguiu usar esta porcaria porque derreteu o copo ao lume... só mesmo tu Estrela Matilde... e esbofeteei-me um bocado, só para ver se aprendo.

Mas afinal o copo estava bem. Se dura 10 anos, também dura o fogo direto, ao que parece. Nem sei do que isto é feito, mas parece imortal e invencível... mesmo o que eu preciso para a luta contra a pitchuquinha.

Depois de tomar banho, toda limpinha e em toalha, resolvo experimentar, porque o período iria chegar em breve, e convinha experimentar antes de ficar toda lambuzada em langanhozises.

Fiquei a olhar para o copo uns bons 20 minutos. Pensei. Deixei de pensar. Pensei. “Como é que vou enfiar isto lá dentro?”. Deixei de pensar...

Fui ver videos no youtube. Agora é assim que se aprendem coisa, as enciclopédias menstruais ou a Drª Susy da Sic Radical, são coisas do passado. Ignorei os vídeos que diziam “o que não te explicam sobre o copo menstrual” e “a minha vagina recusou o copo menstrual”, e tudo o que fossem energias negativas de gente com passarecas mais esquisitas que a minha. Eu queria positivismo, passarinhas felizes, contentes e com um copo enfiado... tudo o que ajudasse na contaminação positiva da minha pitchuquinha já era muito bom.

Aprendi, por exemplo, que se tem que dobrar o copo. Ufa... menos mal.

É fácil dobrar um copo de silicone médico? Não..

Mas existem 7 dobras possíveis: em S, em C, em 7, em diamante, em o raio-que-a-parta... porque ao que parece, cada passarita gosta do copo dobrado de maneira diferente... são finas, as meninas.

Lá tentei uma dobra... não foi.

outra dobra... não foi.

A verdade é que o copo é tão grosso que é difícil fazer força na dobra para ele não se abrir antes de estar no sitio certo. Tem estar fechadinho, e depois de enfiado rodar um bocadinho para ele se abrir, e puff.. fez-se o chocapik. Depois é só puxar quando tiver cheio, despejar, lavar e voltar a enfiar.

Simples não é?

Não....

Tentei várias dobras.. Tentei até ao contrário, não fosse o caso da minha pitchuquinha ter a mania de ser alternativa.. Não foi..

Tentei deitada, nada...

Com a perna em cima da sanita enquanto olho para trás, nada..

A fazer o pino, nada...

Quando começou a ficar dorida, irritada – literalmente – e vermelha, desisti.

Chamei-lhe todos os nomes possíveis e imaginários. Ameacei que não irá comer tão cedo.. mas desisti...

Hoje veio-me o período.

Pensei, vou tentar de novo. Nem que seja pelos 30€, tenho que tentar de novo.

Tentei uma, duas vezes. Uma, duas, três dobras diferentes. Finalmente consegui!!!

Fiquei na dúvida se abriu lá dentro. Será que abriu? Tentei rodar para fazer não sei o quê que explicam nos vídeos, não roda merda nenhuma, e ainda belisquei a pobre coitada.

As especialistas do youtube disseram que não podemos sentir o pinozito que sai do copo e que serve para puxar, então achei que devia ir um bocadinho mais para dentro e lá enfiei a porra do copo mais para dentro.

Merda...

Agora não consigo tirar. Tive 5 segundos de pânico em que imaginei a minha vida nesta Ilha depois de ter que ir às urgências – que não existem – por ter um copo enfiado na vagina. Com certeza seriam filas de “médicos” para ajudar a puxar o copo da vagina da branca... eu deixaria de ser a branca da biosfera para passar a ser a branca do copo na vagina.. Vivo com isso? Talvez...acho que já vivi com pior...

Estes pensamentos ocorreram todos em 5 segundos. Eu sou assim, quando quero sou rápida. Respirei fundo, lembrei-me que a minha pitchuquinha tem músculos bem fortes, e fiz um bocadinho de força. Lá consegui tirar o pinozinho para fora e não mexi mais.

Tentei sentar-me, andar e dançar a ver se sentia alguma coisa e sim.. sente-se que está ali qualquer coisa. Não dói nem magoa, nem faz impressão, mas está lá. Pode ser psicológico também, que o meu psicológico tem muito que se lhe diga. Mas não está mau....

Fui para o trabalho, regressei, fiz xixi, que essa era outra coisa que eu, apesar de saber que são dois canais diferentes, estava-me a fazer confusão, e resolvi escrever esta dissertação a explicar o sucedido.

E porquê? - não pergunta ninguém porque até tu já desististe da leitura.

Porque agora que está cá dentro, não quero tirar porque acho que já não vou conseguir pôr outra vez. Assim sendo, e porque gosto de experimentar, estou a pensar que em vez das 12h vou tentar os 3 dias de período, pode ser que não transborde.

Mas, se a coisa não correr bem e eu morrer com um copo menstrual na pitchuquinha, fica aqui o relato na primeira pessoa desta experiência vaginal.

Se não correr mal, volto aqui para contar.


Good Bi, minha gente. Good Bi, vaginas do mundo.


1 comentário:

  1. e blá, blá, blá, whiskas saquetas”...By ZM :P

    Welcome back! Nao demores mais um ano a publicar outro post please! Quanto ao copo, a mim nao me convences!

    ResponderEliminar