Há duas coisas importantes na minha vida actualmente.
A primeira, e claramente a mais importante, é a dieta que me propus a fazer. A minha lógica para iniciar a dieta exactamente nesta data comelícia, é acreditar no mote que diz que uma empresa que nasça durante a época de crise e se safe aguenta tudo e qualquer coisa. Assim sendo, achei que o natal era a época apropriada para iniciar uma dieta a sério. Se conseguir fazer dieta enquanto os meus sobrinhos se passeiam à minha frente com bombocas de morango no nariz e vianetta nos bolsos, consigo qualquer coisa.
Assim sendo cá estou eu, no meio de bacalhaus em banho de natas e azeite, frangos recheados de gordura e muitos doces encharcados necessariamente de óleo e açúcar, a tentar contentar-me com vegetais cozidos e frango sem tempero.
A verdade é que nem está a ser assim tão complicado. Comer muitas vezes, coisas controladas e saudáveis e ajudar com aqueles medicamente naturais que ajudam a coisa a ir melhor, até se faz bem… ver o The biggest loser ajuda a manter os objectivos. Muitos litros de água diariamente e esquecer que doces e salgados existem está a ser mais fácil do que pensei, talvez porque também a vida me está a tirar o apetite.
Estou a conseguir com algumas irregularidades não graves, que se devem sobretudo a acordar ao meio dia durante as férias e por isso faltar as refeições matinais. Mas penso que não será grave…. A nutricionista lá dirá na próxima consulta.
E quanto passo o meu natal assim, pouco doce e pouco gorduroso. A minha vida também está mais ou menos assim… com pouco tempero e até com um picozinho ao azedo.
Apesar de não parecer à primeira vista e até para mim, a minha vinda para casa foi um tanto ou quanto nervosa, ansiosa pela reacção da família à minha pessoa, à presença de um acontecimento que tinha sido apenas por telefone.
O orgulho que sinto do meu pai e irmãos não poderia ser mais inabalável. Receberam-me e trataram-me como se eu fosse a mesma pessoa que sou, sem tirar nem pôr, sem a doença temível e contagiosa que a minha mãe acha que se apoderou de mim.
Ela, sendo a única que acha ter o direito de reagir face à minha vida e às minhas escolhas como se fossem suas por direito, continua a comportar-se como se eu estivesse muito errada e tivesse cometido um crime impagável.
Não me fala. Não existo na mesma divisória que ela, e penso que se não tivesse tanto nojo de me tocar, até passava por cima de mim só naquela de se armar em autista. Já estou aqui há uma semana e as primeiras palavras que me dirigiu foram hoje: “não falo com bichas” disse… eu ri-me… haverá coisa mais ridícula que esta? Não pude deixar de me imaginar de plumas à volta do pescoço e pestanas cravejadas de diamantes. A verdade é que se eu fosse assim, talvez fosse mais fácil de perceber e aceitar.
Diz que a vergonha é muita e nem consegue falar com as pessoas e sair à rua… a verdade é fala falsamente como se o mundo fosse maravilhoso, e vai em excursões como se nada tivesse acontecido, a vergonha só acontece na minha direcção, porque afinal os outros não sabem… ainda… tenho vontade de cada vez que me perguntem como estou, dizer que estou bem e vivo com uma mulher, só naquela de criar os boatos.
Sei que a intenção é magoar-me, fazer sentir-me envergonhada e arrependida… tão errada que ela está…
Como é que é possível achar que alguém se pode arrepender de estar tão feliz e ter encontrado a pessoa que quer que esteja ao seu lado para sempre. Envergonhada de quê?... Não creio que as minhas atitudes sejam erradas, não acredito que esteja a cometer nenhum crime, e por isso a única coisa vergonhosa aqui no meio disto tudo é a atitude preconceituosa e maldosa da minha mãe.
Mas eu já sabia que ia ser assim. As mães são cruéis, e a minha é particularmente má quando quer. A minha relíquia diz que se eu fosse eu talvez fizesse a mesma coisa… somos muito parecidas e por isso sempre faiscámos muito… mas também já tivemos tantos momentos bons, e é isso que me deita mais abaixo…
Lembrar-me das conversas, dos passeios, das pequenas e estúpidas discussões e pensar que talvez não venha a ter nada disso nunca mais…. É pensar que a mãe que eu conhecia morreu e é essa sensação e pensamento que realmente me entristecem.
Já tivemos estes momentos de não nos falarmos, de amuar… realmente não é novidade para ninguém… mas pensar que será sempre assim realmente entristece-me.
Tento acreditar que realmente o tempo cura tudo e isto lhe passa… mas e se não passar?
Se não passar e ela não mudar, não fui eu que perdi a minha mãe… foi ela que perdeu a filha… e só espero que não se aperceba disso demasiado tarde.
E aqui continuo, a ignorar quem me ignora. A ignorar que existem doces no mundo. A aproveitar a restante família e o meu Puffy que realmente me amam incondicionalmente.
Um santo natal a todos e que 2011 seja realmente o ano das boas mudanças.
Façam o favor de ser felizes… eu estou a tentar.