06 setembro 2010

Paninhos de algodão

Estes domingos de tanga fazem tão bem à alma… o dia inteiro a babar-me no sofá com uma almofada entre as pernas para não assar as coxas, suar a pique naquela zona estranha atrás do joelho, ver filmes na televisão portuguesa que já passaram troçentas vezes mas que continuam a fazer chorar sempre que o menino beija a menina, encher as ancas de crepes com chocolate e leite condensado, etc. etc. etc.…

Isto seria assim perfeito se este não fosse também o meu primeiro dia de menstruação…

É verdade… já há muito tempo que não falava aqui das minhas partes mais pudicas, do endométrio a desfazer-se, das dores horríveis das prestações mensais que as mulheres têm que pagar por uma dívida que nenhuma de nós contraiu e da vontade que temos em assassinar alguém com muita força nestes dias… tinham sódades, amiguinhos?

Claro que para os projectos românticos de Neandertais que me lêem hoje, o período é mais uma mariquice inventada pelas mulheres para terem desculpas para tudo… desgraciados… ai se vos visse à frente hoje… depilava-vos a óleo…

Sim criaturas peludas (eu já não sou uma criatura peluda porque estou foto-depilada), nós optamos por ter o endómetrio a morrer aos bocados enquanto os ovários largam óvulos com muita força em busca do zóide perdido e sentimos que as hormonas entram em reunião de condomínio cerrada que inclui muita violência, só para podermos comer um gelado e não nos sentirmos mal… como vocês optam por ter muitas dores quando levam uma joelhada nos tomates para fazer exercício à coluna…

Obviamente, que se nós mulheres pudéssemos escolher, optaríamos por ter as cuecas livres de apetrechos pelo menos durante a vida adulta. Já repararam que não há nenhuma fase da vida da mulher em que tenha as cuecas livres e soltas? Na infância são aquelas fraldas confortáveis que absorvem o chichi e deixam o cocó longe do rabinho… claro que no nosso tempo a coisa era de pano e eram muitas as horas que passávamos encharcados nos nossos próprios fluidos… mas pronto… antes nos nossos que no dos outros… continuando… chegamos à adolescência e somos obrigadas a usar alguma coisa que absorva não só o sangue que nos escorre pela passareca abaixo mas também todos os odores que daí advêm, ou, para as mentes mais abertas, enfiar um dito tampão pelo canal acima, sujeitas àquilo inchar mais do que a porta de saída e ao famoso cordãozito se partir para nunca mais puxar (m-e-d-o)… chegando à menopausa somos patrocinadas pela Lindor e é importante usar a velha da fralda novamente para sentirmos que nascemos outra vez, e que é importante absorver os xixizes da vida… e pronto…. Depois morremos e as cuecas são outra vez preenchidas por larvas e fugos que nos querem comer mas não no sentido bíblico.

Acham que isto é bonito? Que isto é por escolha? Fluidos para vocês…

E caso não saibam, cada mulher tem o seu tipo de menstruação, e mesmo dentro da mesma mulher há uma diversidade muito grande de períodos sanguinários, daí a dificuldade do manual de funcionamento.

Pessoalmente posso ter meses em que tenho dores que não me levanto, e sim, não são dores inventadas só para não fazer educação física… são dores que doem muito… mas posso também ter meses em que se não fosse pela troca necessária dos ditos pensinhos, nem me apercebia que estava no estado esvaído.

Este domingo em particular foi um daqueles começos de vida fértil dolorosos. Acorda-se com muitas dores na barriga e descobre-se que, uma vez mais, tudo onde tocamos durante a noite está manchado de um vermelho boi bonito… toca a lavar, enxaguar, re-lavar tudo o que esteja manchado e tentar enfraldarmo-nos para não pingar nada fora da cueca outra vez. Depois de acordar o passo seguinte é deitar no sofá para nunca mais levantar e sentir o corpo a adormecer lentamente, sem que tenhamos força para mais nada, nem para mudar o canal da televisão, nem para ir mudar o penso que encharca em minutos, nem sequer para coçar aquela zona que se situa no exacto ponto onde o braço não chega…

E assim ficamos… a vegetar enquanto o anúncio da menina que se limpa às terças, quintas e sextas nos faz chorar, enquanto achamos que este é o nosso último dia de vida e que esta é uma morte muito estúpida, e enquanto desejamos com muita força que quem quer que tenha endividado as mulheres tenha uma grandessíssima overdose nos olhos.

Finalmente, depois de um banho revitalizante onde normalmente nos saem pedaços de algo interno, os quais são ignorados por razões óbvias de stress, encontramos forças para mudar de canal, levantar o rabo para ajeitar a cueca e claro, tentar ressuscitar as pernas entorpecidas e encontrar a luz ao fundo do túnel que nos pode salvar da morte certa.

A minha luz foi vir aqui escrever estas coisas bonitas de se lerem… serão bonitas de se ler… não sei porque não as leio…

Mas acima de tudo, a minha presença neste espaço recém penteado (gostam da nova cara?) deve-se a uma exigência que nós mulheres, neste mundo ostracizado, devemos demandar: pensos higiénicos grátis para todas as mulheres, ou pelo menos marcas genéricas que realmente funcionem (as marcas dos super-mercados não absorvem, escorrem), e o IVA imposto a produtos essenciais…

É isto, ou voltamos ao paninho de algodão à volta da ceroula…. Já me faltou mais…

3 comentários:

  1. Também estou com a xica e tudo é um inferno. Mas mesmo que eu quisesse nunca conseguiria escrever certas e determinadas coisinhas badalhocas que você escreve aqui....e eu concordo! Com tudinho!

    ai...dói-me a baliga...

    Mesmo ambas com a xica, conseguimos rir! Pronto..pronto..dançar como aquelas do anúncio da evax com salto alto e cuequinha fio dental é que não...mas pronto...rimos! Valha-nos isso!
    maria

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  2. Como compreendo todos os dilemas de que falas. Depois dos 12 anos tive 27 meses de paz até hoje. Os meses de grávida dos três rebentos. E acredita, até uma barriga de 9 meses pode ser mais confortável do que tudo isso que descreves. No meu caso, aí uma semana antes já sou potencialmente perigosa, e não é de todo aconselhável alguém aproximar-se de mim, nem que seja pra dizer bom dia, ou o que é o almoço. Eu reajo...mal. Depois quando finalmente se dá o evento, fico com as lágrimas atrás das orelhas e até o Preço Certo me emociona e é assim a parvoice em que esta merdinha me deixa. Eu assino por baixo essa petição!

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  3. Dilemas de uma mulher mas que dilema! Eu por acaso nunca tive grandes problemas com ela, encarei-a sempre normalmente e o tampão sempre evita o cheiro mas como dizes, ao preço que estão e tendo em conta o nosso orçamento, ainda vamos usar toalhinhas dobradas como usavam as nossas mães. Beijinhos

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