10 agosto 2010

Samurai 1273

Estes foram os kms que o meu samurai nu percorreu num única semana. Eh campeão!

Decidida a passar uma semana de férias como manda a tradição, isto é, ir para o Algarve, mudei que ideias e não fui (resultado do meu bipolarismo acentuado)… Resolvi que não sou uma gaja de tradições e por isso, só naquela de não me esquecer dos 50 graus à sombra que aqui se fazem, fui percorrer o sul da Andaluzia com o cu alapado ao meu suzuki, coisa mái linda da mãe, para ver se estava fresquinho!

Fui então, eu, a minha relíquia e o grande Nu, fazer uma viajem super confortável por este mundo fora e arredores, de perna fora da janela, sandes de atum na geleira e a inevitável rádio espanhola ligada porque nos olvidamos dos ditos cd’s.

Partimos do Algarve, e para lhes mostrar que cheiram mal da boca, fomos cavalgando no samurai até à fronteira, onde fomos recebidas com muita ponta e circunstância por senhores grandes e armados, não só em parvos, como com grandes armas que fazem dói-dóis e aqueles tapetes de pregos para furar pneus mesmo a ameaçar à cara podre o meu pobre samurai.

Instintivamente escondemos a geleira, não fossem achar que andávamos a contrabandear a bela da pêra rocha, e rezámos para que não reparassem que estávamos com medo de ser deportadas 5 metros atrás de onde estávamos. Olhando para todos os lados e suando a pique, pensando que talvez pudessem achar que as suaves pilosidades que compõem o meu buço fossem uma espécie de disfarce, lá conseguimos passar entre os senhores grandes e a máquina de furar pneus sem termos sido interceptadas.

Como achamos piada à coisa, resolvemos perdermo-nos no caminho para as bombas (português que é português atesta o carro em Espanha), e tivemos que passar outra vez pela fronteira humana que agora já escarrava no chão com ares de quem começa a desconfiar que ali, na grande bagageira do meu samurai, se encontrava um ou outro bandido torpe.

Lá se passou a entrada triunfal para o país vizinho, e fomos então devagar devagarinho (que são as mudanças do meu menino) até à bela da cidade das ciganas do terror que nos oferecem ramos de orégãos para nos agarrarem as mãos com as unhas assassinas e aí fazer previsões do nosso futuro, que começam a ser cada vez mais sangrentas e dolorosas até pagarmos uma nota de 500… Sevilha, portanto.

Fomos aí para buscar a chave da casita onde íamos ficar em Granada, nosso objectivo final. Mas para podermos ficar num apartamento com piscina na base da Serra Nevada, absolutamente de graça, tivemos que passar uma noite em Sevilha… ena pá… que sacrifício…. Aí ficamos, numa super mega pensão naquelas ruas duvidosas, deixamos as nossas coisinhas e fomos passear. Comemos a comida tradicional no Mac, já que as tapas ali são caríssimas e a minha relíquia não parava de dizer o quão baratas e melhores eram em Granada, resolvemos então guardar as papilas gustativas para lá… mas fica a nota que no Mac de Espanha há umas batatas boas de dar dor que nós aqui não temos…. Mas temos sopas… olha que felizes e saudáveis somos…

Fomos ao Starbucks, à Fnac (apenas porque estava fresquinho) e portanto conhecemos muito da vida tradicional Andaluza…

Mas claro que a melhor recordação que me fica dessa grande cidade foi a multa que recebi por ter passado o tempo do parquímetro…. E digo eu mal dos senhores da citees… ali foram logo 30€ só porque o meu samurai era o carro mái lindo que ali estava, e no fundo foi tudo inveja, que eu sei! Desgraciádos… O facto de ter ficado mais 3 horas do que podia no parque foi só uma desculpa. Mas, só naquela de experimentar o sistema de cancelamento da multa pagando a módica quantia de 4€ (não temos cá dessas modernices), resolvi que seria interessante não ficar com cadastro no país vizinho, e poder voltar sem ser algemada, porque a multa não a pagava eu de certeza… Depois de tentar perceber todo o sistema de levantar envelope, carregar no botão, enfiar moedas, receber talão, colocar talão no envelope, e colocar envelope no parquímetro…. Lá completei a tarefa dentro do tempo limite e fiquei limpa de cadastro.

E assim, depois desta bonita aventura parquímitrica, dormimos com uma ventoinha decapitadora a fazer muito barulho (estou armada em Mia Couto e a inventar palavras…. Não…. Não são erros de ortografia… é arte, estúpidos…), e o som dos cascos dos cavalos e das carroças, que insistem em achar que há turistas que pagam 50€ por andar uma rua de carroça e fingir que estão no século passado… o pior é que há!

No dia seguinte, depois de um desayuno espectacular que incluiu pão com tomate e azeite, fizemos a boa figura de português que é enrolar o resto da sandes num guardanapo, guardar tudo o que sobra e todos os pacotinhos na mala para outra ocasião, e pagar coma com ar de quem vai fazer escândalo mas depois não faz porque está de barriga cheia. A minha relíquia ainda castigou a cerâmica no café cujo autoclismo não funcionava e por tal, achámos melhor sair dali sem muito escarcéu…

Recebemos a sofrida chave, as indicações, e fomos por mais 3 horas de carro até à bela da Granada, esperando que houvesse neve na serra nevada e que isso refrescasse as coisas… pois… claro….

No caminho vimos um carro virado do avesso, vimos olivais a perder de vista e pronto… nada mais até chegar a uma povoação, que nunca sabíamos qual era porque não existem placas a dizer “Bem-vindo a” ou “nome da terra”, que por muito que seja só uma rua nós aqui podemos dizer: “Olha, entramos em Deixa-o-resto, olha, saímos de Deixa-o-resto”… porquê?.... PORQUE HÁ PLACAS! (note-se qiue esta aldeia realmente existe).

Mas pronto, lá chegamos à aldeia onde íamos ficar, corremos a rua inteira à procura do apartamento, sabíamos que era no inicio da aldeia, mas como não havia placas não sabíamos onde raio começava uma e acabava outra, e por sorte, encontrámos um policia que pelos vistos conhece o mundo, e que nos disse que estamos na entrada da aldeia sim, mas na errada... para variar… eu estou sempre a entrar na saída errada…

Chegamos ao local, ainda deu para ver um gato a se atropelado só para não desanimar, e naquela de ser mesmo uma imagem que ficasse …. Não era um daqueles remelentos e maus, com unhas afiada… não… tinha que ser um gato bebé e fofo para me ficar na memória para todo o sempre…

Encontramos um apartamento espectacular, com piscina no prédio, com vista para a serra nevada, totalmente equipado, com vizinhos cuja profissão é arrastar móveis a todas as horas do dia e da noite, com mais crianças por apartamento que cães vadios na rua, e portanto, um prédio muito silencioso.

Mas a verdade é que “Lo passamos de putra madre”, passeamos imenso, fumamos o nagrilé, ou raio o que se chama aquilo…nunca tinha experimentado, foi uma das minha prendas de aniversário…Fumar coisas…senti-me mesmo uma adolescente! Calcorreamos todas as ruas que a minha relíquia calcorreou quando ali esteve a erasmear (olha eu a inventar palavras outra vez), fomos a verdadeiros bares espanhóis onde pedes uma bebida e trazem-te tapas gratuitamente que nunca são menos de um pão de quilo recheado de salmão fumado e três abacates por pessoa… não sei como é que não perdem dinheiro com aquilo… é por amor à camisola se calhar… fomos a pé até Alcabaicin (não se chama assim, mas como nunca acertei como nome daquilo, achei melhor rebaptizá-lo), vimos árabes espanhóis a vender coisas em ruas que descem a pique e com chão escorregadio, fomos a Allambra ver como viviam os senhores antigamente no tempo da pedra, vi gente a morar em grutas escavadas em ravinas… impressionante… comemos bem… fizemos as ditas sestas depois de banhos na piscina… isto quando os vizinhos estavam na pausa de arrastar móveis… e assim se passou a semaninha de férias… com a melhor companhia que podia ter, com a cabeça livre de tudo e apenas a aproveitar os momentos, a comida, os marroquinos que nos obrigam a comprar coisas e observar cenas de rusgas policiais enquanto estamos a ver um chavalo no último andar a pular da janela para o telhado vizinho (contamos? Não contamos?... não contámos)…

Voltámos então ao samurai nu, depois de passar em Sevilha para deixar a chave, fomos direitinhas a Portugal sem parar. Chegamos ao belo do Alentejo, mais precisamente a Serpa, e a viagem não poderia ter acabado sem antes matar alguma coisa, assim atropelei um belo exemplar de mocho galego… pobrezinho… estava no meio da faixa, de coitas… é o que dá ser camuflado… às vezes lixam-se… ainda estava vivo quando voltámos atrás e a minha relíquia o levou nas mãos para o centro de recuperação… mas batida deve ter sido forte e o estrago grande e o pobrezinho não se aguentou… digamos que a viagem não acabou da melhor forma…

Mas em Granada salvámos um morcego anão que estava a morrer de calor ao pé da piscina, ainda fiz o papel de bióloga e expliquei à população local não era perigoso, como se alimentava e coisa e tal, e foi bonito vê-lo voar depois de o termos posto numa árvores cheia de formigas apetitosas… Ainda tivemos um episódio com um andorinhão, em que depois de horas a fazer bolas de formigas e dar-lhe na boca, a jogá-lo na ar a ver se voava, encontramos um grupo de amigos dos animais que acharam que seria boa ideia mandá-lo da Allambra porque precisava de mais altura para voar… por isso… salvámos dois… matamos um… saldo positivo, portanto…

O texto já vai longo, e possivelmente metade já desistiu, mas percebam que preciso de desculpas para não trabalhar e que, ao menos ao relembrar estas belas férias esqueço do facto de ter o endométrio a desfazer-se enquanto o cu suado está colado ao assento da cadeira e toda eu perco fluidos.

Mas para os sobreviventes aqui fica: Granada significa Romã (nada agressivo, portanto) e este foi o primeiro texto que escrevi sobre “uma grande viagem”, que realmente fala sobre uma grande viagem… estarei a chocar uma esquizofrenia?... é capaz….


1 comentário:

  1. Até agora, foi a melhor viagem de sempre! Muitas virão...
    Já agora, chama-se: ALBAICIN (a tal aldeia com comunidade árabe, que a Estrela Mates não decorou, se ainda fosse um nome em latim referente a alguma espécie....)

    Grande semana! :) e as tapas........tão boas..............
    beijo granadino
    maria

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