19 março 2010

Domingo

Alguns de vocês, aqueles cujo nome não vou pronunciar porque não merecem o ar que respiram já que pouco sabem a meu respeito, devem achar que muitas das coisas que para aqui venho alvitrar são pura tanguice e que tenho uma imaginação muito fértil... demasiado fértil.

Mas enganam-se meus tubérculos violetas, eu não tenho imaginação suficiente para escrever metade daquilo que vocês lêem - na diagonal, que eu sei. A vida é que se encarrega de me apresentar as situações mais caricatas, improváveis e na maioria das vezes, estúpidas… eu só as relato, e acrescentam vocês - mal e porcamente.

Pst… calem-se que não vos perguntei nada...

Um dos obstáculos que tive que ultrapassar recentemente esteve ligado às obras e mudanças para a minha mais recente morada fiscal. Para trazer todos os móveis, coisinhas e coisonas acumuladas durante anos no doce lar dos meus pais, tive que calcorrear o mundo que é Évora e Sines à procura de uma carrinha de transporte, já que o samurai, por muito espectacular que seja, não consegue levar com 3 camas, 4 cómodas, 2 roupeiros, etc., mesmo com a boa vontade que tem.

Depois de encontrar a solução óbvia - um cigano, e depois de passar todo um dia a tentar contactar com o dito senhor que andava a palmilhar as feiras e mercados a vender sabe-se lá o quê, conseguimos encontrar o acampamento, marcar o dia D (das dores que tivemos depois de levar com a moviflor na espinha), e sair de lá sem comprar nada.

No dia seguinte correu tudo bem ao carregar a carrinha e tudo correu razoavelmente bem na viajem para Évora - tirando a minha Relíquia que veio doentinha.

Ao chegarmos à minha roulotte presidencial e ao nos apercebermos de que aquelas escadas não foram feitas para a espécie humana actual, mas sim para hominídeos mais primitivos e de mais baixa estatura cujo mobiliário era constituído por pedras rolantes, chegamos à conclusão que não seria fácil levar todo o conteúdo do cigano-mobil através de 32 degraus íngremes e vertiginosos até ao meu ninho do amor.

Tentámos fazê-lo através da força do pensamento, mas como não deu resultado o cigano foi tentar encontrar alguém pela praça que estivesse interessado em ganhar uma ou duas hérnias a carregar móveis alheios por apenas 5€... Mas como hoje em dia já ninguém quer trabalhar, as pessoas querem é empregos, lá tivemos nós que arregaçar as mangas, tentar não esvaziar os intestinos com a força, e fomos levando o chumbo pelas escadas acima, sempre tentando não despenhar dos degraus abaixo correndo o risco de ficar em paralelo com o asfalto, e aos poucos o material foi chegando ao destino.

Quase no final da meta, e enquanto eu cá em baixo ficava com um olho no burro e outro no cigano… quer dizer… ficava atenta para ver se alguém de passagem levava um tampo de cozinha debaixo do braço e saía a correr, o senhor de etnia começou a meter conversa comigo, e deduzo que deve ter sido muito pensada antes de vomitada…

Nota - Para melhor compreensão do diálogo que se segue, pede-se a interpretação dos diálogos do cigano com o dito sotaque, e dos meus com a dita estupidez associada.

Cigano - Então tu já tens namorado, nei?

Eu - já esperando alguma referência à minha eterna gravidez - Não… ainda não - ocultando o facto de namorar sim senhora e com a mulher mais linda do mundo, não fosse o perigo de ser apedrejada com facas dado encontrar-me numa contra-ordenação grave para com a sua religião.

Cigano - Ah… pois, mas aqui arranjas depressa com tanto estudante e tali.

Eu - A temer o desenrolar do tema, e sempre muito explícita - Pois…

Cigano - Sei de uma mesinha que te tira essa barba.

Eu - tentando encontrar a via por onde a conversa enveredou para os lados da pilosidade - Ai sim?

Nota: Que fique assente que eu não tenho barba, mas sim pilosidades suaves e sedosas de cor descoloradas, que ao revés de danificarem a minha beleza natural, dão-me um ar totalmente exótico e apetecível. Não interessa se não gostam. A verdade é esta e acabou. E acabaram também as notas só por causa das coisas.

Cigano - É uma receita muito antiga, tira-te isso tudo num instante.

Eu - A desconversar - Pois… dizem que estou grávida, sabe? Acho que foi milagre…

Cigano - A ignorar-me - É uma coisa muito antiga, não podes contar a ninguém, hã!

Eu - já a tomar notas para escrever no meu diário super secreto que é o blog - Esteja descansado que eu sou óptima a guardar segredos, mas funciona mesmo? - Esperançosa de ter encontrado aquilo que o mundo ignorava e que estava em anonimato na comunidade cigana durante séculos, e que é por isso que nenhum deles tem barba….

Cigano - Funciona, pois. Uma vizinha minha fez e nunca mais teve. Ela até tinha vergonha de sair à rua e tudo, era assim como tu.

Eu - a olhar para os lados - Ah…

Cigano - Eu tenho a receita e depois dou-te, leva assim uma erva que se apanha no mato e prontos…. Aquilo das relações…

Eu - Parafraseando a minha relíquia - Aquilo das relações? … Amor?

Cigano - Prontos… esperma, nei… aquilo das relações, e outras coisas que agora não me lembro.

Eu - sem batimentos - Espe… quê?

Cigano - Pois, o esperma e assim, mistura-se tudo e espalha-se nos sítios onde tenhas os cabelos…

Eu - branca como a cal - Na cabeça??

Cigano - Não. Onde queiras tirar os cabelos, no peito e na cara e assim.

Eu - a espumar - ….

Nota excepcional: Será que é por isso que gosto tanto de gorilas, será que me assemelho a eles na camada pilosa e não me apercebi?

Cigano - Depois dás-me o teu número que eu arranjo-te os ingredientes e explico-te como se faz.

Eu - morta - T-t-tá b-bem…

….

Depois apareceu um anjo que interrompeu a que foi a melhor conversa de toda a minha vida, batendo o recorde dos médicos que me queriam convencer do poder voador dos espermatozóides, sendo que começo a ficar preocupada com as tendências testiculares dos assuntos que me rodeiam, e olhem que eu até nem sou para aí virada…

Claro que o Cigano não me deixou ir embora sem o meu número de telefone, e eu fui estúpida o suficiente para lhe dar e não soube inventar sequer um número falso.

Mais tarde, nesse mesmo dia, o telefone toca.

Cigano - Olha, já tenho a erva, e agora arranjas 3 camisas-de-vénus, e quando for aí a Évora posso te ajudar nisso.

Eu - A tentar não vomitar - Deixe lá estar, eu até gosto de ter barba… já me convidaram para o circo e tudo, posso ganhar dinheiro e ser feliz, e no fundo os pêlos nunca me fizeram mal… são herança…

Cigano - Mas não é preciso haver relações nem nada, eu vou aí a Évora, faço o serviço e depois tu pões, é só um bocadinho que é preciso, e depois pões 3 vezes.

Eu - Ah não é preciso relações, então está bem… olhe que simpático que o senhor é, já não se encontra pessoas assim altruístas hoje em dia, vem de tão longe para me ajudar a tirar a barba com esperma?.. há prostitutas em Sines que ficam mais baratas…

Cigano - No domingo devo ir a Évora e a gente trata disso, pode ser?

Eu - Em pânico ao aperceber-me de que ele sabe onde moro - Não…. Não é preciso, não tenho tempo, não tenho vagar, não tenho disponibilidade, não tenho capacidade para isso agora…. Não, não, não, não, não… não tenho pêlos… aquilo foi de não tomar muito banho…

Cigano - Prontos, tu é que sabes, fazemos assim, eu ligo-te no domingo e combinamos isso..

Eu - Não… não é preciso… deixe estar…. Não quero mesmo…

Cigano - Prontos, então depois eu ligo-te.

Tu…tu….tu…tu…tu

Tenho medo do dia de amanhã. Já mudei de número. Pus a casa à venda.

Das duas uma, ou o cigano não descansa enquanto não me esfrega a própria nhanha por todos os lados onde haja pêlo, isto é, onde quer que eu tenha pele… ou … sou acarinhada com muita força pela comunidade cigana por desvendar um segredo milenar pela fibra óptica até vocês.

De qualquer das maneiras o fim não é bonito….

Nota final: Sim é mesmo a final, minhas beringelas…

Nota final 2: … afinal não era…

Nota final 3: Esta é que é.

Nota final final: Desculpem o texto longo, mas os meus dias também são longos… demasiado longos dando azo a estes episódios…

6 comentários:

  1. Minha querida... nada me ocorre para te dizer neste momento. Nenhuma palavra de conforto mas achei que não podia ler isto e ficar calada.É forte demais para me permitir ficar calada.

    Um conselho? tranca bem essa portinha amanhã, leva uns quantos amigos grandes aí para casa e tem o número da policía em marcação automática no tlm. Mas não faças frente ao cigano! Finge que "num" tás em casa!!! Xiuuu caladinha... é como vais passar o dia de Amanha o tempo todo na tua casa!

    Drica

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  2. Foi sem dúvida um dos acontecimentos mais duvidosos e nojentos que te acontenceu.
    Ai do homem que te incomode, ele não sabe a fúria que a etnia ruiva carrega.
    Esperma...toda a gente sabe que essa nhanha serve para duas coisas: 1- fazer filhos 2- emagrecer (caso seja engolido, claro) Essa é outra estupidez valente... fazer filhos...tst..tst...tst... quem é que acredita nisto?

    Ele que se arme em parvo contigo e vai ver os efeitos da mestruação que quando misturado com umas certas ervas, é levada da breca.

    beijo com ervinhas
    ai lelooooooo....andas a querer enganar queimmmmmm???

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  3. Surreal...é a única coisa que me ocorre!! Eu e o meu "exponso" chorámos a rir!! O menino tem a sensibilidade de uma pedra!! é só o que te digo...
    Depois vem cá contar se ele te procurou outra vez :S ...

    Zade

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  4. Então...o que aconteceu? Sempre tiveste a visita domiciliária???

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  5. sinceramente, eu ainda não consigo acreditar que esta história seja real... tu escreves demasiado bem para me permitir achar que é a tua escrita criativa em alta! desculpa, não consigo ahahahah

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  6. Atao pah???
    Já hoje é quinta e ainda não temos notícias tuas!!! Queremos saber se o homem sempre teve tomates para te telefonar.

    (percebes, se teve tomates, se produziu esperma e quis partilhar contigo...lol)

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