A primeira

Muito recentemente levei a cabo a minha primeira experiência prática profissional. Mais concretamente, tive o primeiro contacto frio e duro com o meu tema de trabalho… as criancinhas…

Não se preocupem, pais e encarregados sempre zelosos pelos seus, porque desta vez não magoei ninguém e apesar da vontade, todas os pequenos ditadores voltaram para a escola mais felizes do que tinham chegado.

O processo em si de preparar actividades não é nada fácil. Pensar em entretenimento educacional para crianças de variadas idades, sobre variados temas, em variados sítios e de variadas maneiras, tem muito que se lhe diga.

Sendo que esta actividade se debruçava sobre o dia da biodiversidade e sendo que a zona em si se situa numa área protegida, achei por bem falar da biodiversidade do montado.

Assim, e porque sou uma pessoa extremamente talentosa, escrevi um conto sobre os animais do montado criando personagens cativantes e enternecedoras tais como a águia Marta Rapina, a toupeira Rita Peira e o coelho Caolho e com ilustrações fantásticas duma tal de Relíquia.

A chegada das 80 crianças (40 de manhã e 40 à tarde) não foi atribulada e até conseguiram ir tranquilamente até ao terreiro onde se iam iniciar as actividades. Começamos por falar um bocadinho do dia:

Eu - Sabem que dia é hoje?

Crianças - Dia 22!

Eu - Sim, mas é um dia muito especial… é do dia do autor português e da biodiversidade …. (explicações bonitas sobre o que é um autor e o que é a biodiversidade).

Eu - Então que dia é hoje?

Crianças - Dia 22!

….. desisto….

Depois da conversa inicial seguiu-se o dito relato do conto, com muitas expressões e teatro de sombras à mistura. Alguma atenção… podiam estar mais atentos… mas também podiam estar menos….

Depois, fomos iniciar o nosso jogo dos Bioexploradores, em que fizemos equipas e fomos fazer uma caça ao tesouro por todo o edifício onde tivemos que descobrir as pistas, identificar de que animal se tratava e encontrar o animal e o vestígio que ele deixou. Enquanto isto, a outra parte da turma ficou a construir através da expressão plástica, os seus animais preferidos com material reutilizado.

O meu primeiro grupo não era fácil. Não sabiam andar… só correr!

Eu - Mas vocês não sabem o significado da palavra devagar?

Eu - Mas onde é que vocês vão, senhores?

Eu - Mas querem que eu volte para trás e já não fazemos nada?

Entre tantos outros suspiros saídos da alma, muito contida para não os arrastar pelas orelhas…

Miúdos com ar de frete, de quem tem 6 anos mas a mentalidade dos morangos com açúcar, mas que depois sabem as respostas todas e as dizem com o ar de quem está a dizer a coisa mais lógica do mundo, quando os colegas nem sabem o que quer dizer a palavra lógica…. Miúdos de todos os tamanhos e feitios. De todas as personalidades e gostos… miúdos para todo o rol de paciência.

Mas também tive grupos porreiros, aqueles em que havia maioritariamente raparigas. Esses corriam menos, já andavam. Escutavam. Aprendiam. E os olhos brilhavam mesmo quando olhavam para um dejecto ou uma regurgitação cheia de ossinhos.

Foi boa a experiência. Depois de acordar às 5 da manhã, conduzir até à Amareleja, estar 8 horas com crianças de primeiro ciclo que acham piada dizer que tudo é merda, tentar que tomem atenção àquilo que demorei semanas a preparar e que aprendam alguma coisa para a posteridade…. Acho que posso dizer que foi bom… um dia que parecia que nunca mais chegava e que depois voou…

Para a semana tenho outra. Mais 80 crianças… desta vez maiores, isto é, mais resposta, mais esperteza, mais ganas de lhes bater…

Ainda tenho que preparar a actividade para o dia do Ambiente. Não tenho ideias, não sei o que vou fazer. O tempo está a voar e dia 5 tenho que ter alguma coisa pronta.

Vamos a ver como a coisa corre.