28 julho 2008

O post dos porquês...


Venho por este meio, até porque não tenho mais nenhum, esclarecer algumas questões relacionadas com certos comentários relacionados com certos posts, que por sua vez estão relacionados com certos sentimentos… relacionaram?

Primeiramente quero dizer que me considero ofendida… vá lá, sentida pelo comentário sobre o meu sonho de criança de casar os anos ser “uma estupidez”. Primeiro acho que nunca se deve criticar qualquer sonho de qualquer criança, muito menos chamá-lo de estúpido. A magia está aí, em sonhar e ser criança. E penso que realmente não me fiz perceber. Obviamente que na minha tenra idade de menina serelepe eu não estava ansiosa por fazer 23 anos no dia 23, a questão obviamente que não era casar os anos, mas sim ter 23 anos. Pois quando se tem 10, os 23 estão muito longínquos e parece que nunca vão chegar. Pensava eu que com a idade que agora completei as coisas seriam muito diferentes, eu seria adulta, uma mulher, teria a minha família e a minha casa, já seria muito grande… fazer 23 anos no dia 23 era apenas uma referência de ser adulta. “Eu quando casar os anos vou ser bué grande”. Fiz-me entender?

Segundo: Eu não estava triste por estar em casa no meu dia de anos. Mesmo que eu pudesse fazer o que queria e ter dado a volta ao mundo em 80 dias, esse não seria um passeio tranquilo porque a minha mente estaria em casa, com os artigos e a ansiedade tomaria conta de qualquer outro sentimento, assim o melhor foi realmente ficar aqui a fazer aquilo que a cabeça me ditava, apesar do coração querer outra coisa, estou em paz com isso.

A minha família não se lembrar que naquele dia eu fazia anos também não é algo que me afecte. Estou habituada, no sentido em que nem do próprio aniversário eles se lembram. Fazer anos não é muito importante na minha família, tal como o ano novo ou o natal não são… realmente comemorações desde género não fazem parte do nosso dia-a-dia e eu sempre vivi sem isso. São coisas que têm mais valor quando somos crianças e que agora parece que deixaram de ter sentido. Como somos muitos só os mais pequenos fazem anos e têm natal (subentenda-se prendas), porque o orçamento é limitado para a creche de sobrinhos que tenho e combinámos então que depois dos 16 já se é grande demais para festas e prendinhas... concordo!

Qualquer tipo de telefonema que me possa ter afectado mais, não foi de todo motivo para me deixar mais triste ou deprimida. Sinceramente foi um bocado a constatação de algo que já se estava à espera. Foi um estalo da realidade que apesar de doer um bocadinho não é de todo suficiente para me deitar ao chão, começo a estar em paz com isso também.

Este foi um dia que passou e que apesar de estar um bocadinho triste…. Bem, não quero usar mais esta palavra… estar um bocadinho desanimada, até se passou bem, como todos os dias desde que comecei esta jornada final. Afinal os dias têm sido iguais e estão a passar demasiado depressa, e acho que no fundo é isso que desanima.

O que me deixou triste nesse dia, e agora no verdadeiro sentido da palavra, não teve absolutamente nada a ver comigo ou com o dia dos meus anos.

Passo a tentar explicar-vos para que não me critiquem por estar mais ou menos triste quando nem sempre sabem o que vai aqui dentro. E principalmente, não me digam para não estar triste ou para me animar, porque se o meu coração não me ouve a mim não é a vocês que vai ouvir e é cansativo ouvir o mesmo de tanta gente, sempre a bater na mesma tecla… parece que a vontade de não estar triste até se perde.

Nesse mesmo dia, que calhou ser no dia dos meus anos, o meu pai arrancou-me de casa para ir ao café do meu irmão comer caracóis. Quando aí estava o telefone tocou, era uma fiel leitora deste blog, mais conhecido por mãe cigana, que me estava a dar os parabéns com a boca cheia de comida (estava a lanchar). Depois de falar com mãe voltei para o café para junto do meu pai.

Quando lá cheguei estava uma mulher sentada ao pé do meu dele, eu disse boa tarde, sem reconhecer, e o meu pai e o meu irmão olharam para mim com um ar aflito de quem me quer explicar alguma coisa com os olhos. Eu depois de olhar outra vez para a tal senhora é que percebi quem era, e as lágrimas vieram-me aos olhos. Era a Patrícia.

A Patrícia é uma amiga da nossa família desde que eu me considero por gente, tem a idade dos meus irmãos e sempre foi uma porreiraça. Foi com ela que fui pela primeira vez ao cinema ver o Aladino. Com ela e com a filha vi todos os filmes da Disney e cantei as músicas a plenos pulmões.

Ela é daquelas pessoas que erradia alegria. Cada vez que entrava no café do meu irmão com um sorriso contagiante era pôr toda a gente a rir e na brincadeira. Mesmo depois do marido se matar e de ficar com duas filhas para criar eu nunca vi aquela mulher sem um sorriso na boca, o que não que dizer que não tivesse lágrimas nos olhos. Sempre foi uma pessoa positiva e muito enérgica. Foi com ela que passei parte da minha infância e é a ela que agradeço muitos bons momentos.

Aqui à coisa de 2 anos a Patrícia teve um acidente vascular enquanto estava no ginásio, rebentou-lhe uma veia no cérebro. Esteve em coma, esteve muito mal, perdeu todas as capacidades físicas e motoras, perdeu as capacidades mentais. Teve que recomeçar tudo do zero, teve que aprender tudo de novo, teve que depender de outras pessoas.

Eu nunca mais a tinha visto. O meu pai admitiu-me não ter tido coragem de a ir visitar porque ela realmente não estava bem. A Patrícia que nós conhecíamos não se tinha safado.

E o destino, ou o que quer que seja, decidiu que eu a visse nesse dia, no dia dos meus anos.

Foi um choque não conhecer a Patrícia à primeira, foi um aperto no coração ver aquela mulher a chorar nos meus braços e foi uma dor enorme ver o passado num presente tão mal tratado.

Não imaginam o que é ver aquela força de mulher que eu conhecida ter dificuldade em articular as palavras, em manter uma conversa, em se lembrar das coisas.

Não imaginam o que é ver a figura vaidosa e bonita que era a Patrícia agora transformada noutra pessoa que não a que ela era. Outro corpo, outro rosto irreconhecível.

Foi por isso, foi por ter enfrentado uma realidade tão dura como a de ver uma grande mulher transformada noutra coisa. Foi o choque de ver pela primeira vez uma amiga num estado em que não merecia estar, em que não devia estar. É ver a dificuldade nos olhos de quem gostas e não poderes fazer nada para ajudar, é querer que o tempo volte atrás e que as coisas não fossem assim, é querer mudar o presente sem ter forças para isso.

É realmente enfrentar que os teus problemas não são nada comparados com o que se passa no mundo. É admitires o egoísmo que te vai no coração quando choras por coisas fúteis e mundanas. É realmente sentir-te inútil por não poder ajudar quem precisa.

O dia 23 de Julho de 2008, deixou de ser o dia em que eu casei os anos, ou sequer que fiz aniversário. Este passou a ser o dia em que eu revi a Patrícia, e sofri por ela.

E volto a apelar para que não me critiquem por estar triste, nem me digam para não estar. Perguntem o porquê de estar triste e talvez aí possam ajudar.

1 comentário:

  1. Foi bom ter lido este teu post. Escreves o que viste e o que sentiste e é como se eu conseguisse ver e encaixar o que se passou. A descrição que fizeste da vida que teve, tem e terá a Patrícia. O que tu viste e o que vês agora. E que te faz pensar. E é este o momento em que vejo uma beleza tamanha que não posso explicar. Agradeço teres escrito. Sobretudo por teres partilhado o que sentiste e o que sentes. No meio da tua escrita sempre falas das tuas ideias, valores e crenças, mostras uma personalidade cheia.

    Acho bonito a nova ideia para os 23 (não é que não achasse interessante a ideia do casamento dos dois 23´s)

    Maria

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