14 abril 2007

Sicília – última partida


Acordei, infelizmente, no mesmo quarto onde me tinha deitado, sem ter a mínima noção das horas que eram, o que é uma sensação horrível. Ouvi a senhora da limpeza (limpeza?!?) lá fora e fui perguntar-lhe as horas, para meu grande espanto ainda era 8 da manhã, resolvi então deitar-me mais um bocado para esquecer a vida, por fim quando resolvi acordar a sério e despachar-me já eram 10 da manhã. Vesti-me, arrumei as coisas e desci para a recepção onde lá estava o senhor a fumar ao pé da placa que dizia ser estritamente proibido fazê-lo. Pedi um mapa da cidade e pedi para deixar a mala na recepção enquanto conhecia a cidade. O senhor não se importou e lá fui eu conhecer Siracusa.
A primeira coisa que fiz foi ir a uma loja chinesa comprar um relógio para me inteirar de às quantas andava o mundo e por quatro euros (só porque era para mim) lá comprei um relógio todo fashion e comecei o meu passeio. O tempo estava belíssimo, um calor agradável para passeios e um sol que aquecia a alma. Depois de analisar o mapa percebi que eu estava mesmo numa ponta da cidade e que a ponte que tinha á minha frente dava directamente para uma ilhota, Ortigia, com muita história e onde estavam os principais monumentos. É incrível como as coisas são tão diferentes de dia, a ideia com que fiquei da cidade na noite anterior não tinha sido nada agradável, escura, suja, perigosa… mas muito pelo contrário, é super agradável e como é atravessada pelo mar tem uma cor viva e profunda e felizmente não me aconteceu nada para a conotar de perigosa.
Comecei o meu passeio á procura dos principais monumentos que estavam descritos no meu guia e apreciando a paisagem fantástica que se estendia á minha volta. Como eu adoro o mar! Transmite-me uma calma tão grande, uma paz tão relaxante! Podia ficar horas simplesmente a contemplar aquele azul…. A cidade é muito bonita, ruelas pequeninas que vão todas dar ao mar, praças enormes e igrejas imponentes, fui visitar o duomo e uns túneis que atravessam a cidade e vão dar ao mar, muito interessantes. Fui ao teatro grego e ao romano que ficam no outro lado da cidade, ruínas imponentíssimas com jardins fantásticos, muito bonitos mesmo. Fui ás Catacumbas, mas estavam fechadas e tinha que esperar muito tempo para abrir e pelo guia, porque não podíamos ir sozinhos já que aquilo eram labirintos e podíamos nos perder para todo o sempre… mas encontrei lá a senhora de Oxford. Muito simpática, chamava-se Kim e era geneticista, tinha vindo a Sicília para uma conferência qualquer de genética. Deu-me o contacto dela caso quisesse boleia para uma cidade onde ela ia, e posso dizer que agora já tenho grandes cunhas em Oxford, pode ser que no futuro venha a seguir a via da bata… nunca sabemos o que o futuro nos reserva.
Creio ter conhecido a cidade toda umas 2 ou 3 vezes. Fui á estação para saber os horários dos comboios para Ragusa ou para Palermo, e quando fui perguntar o caminho, porque como vocês já adivinham estava perdida, uma senhora que estava de carro deu-me boleia. A senhora muito simpática, já tinha estado em Portugal e gostava imenso, disse que se eu quisesse me ia levar ao hotel para buscar a mala e depois á estação outra vez, mas isto quando a esmola é demais o santo desconfia então não quis abusar da senhora e lá fui ver dos comboios. Bom, estamos na Itália, é Páscoa logo é obvio que não há comboios! Quer eu fosse para que cidade fosse de Sicília não havia comboios, só para voltar para trás, para Roma e Veneza. Voltei então para o hotel para buscar a mala, agradeci ao senhor que estava a dormir e estive 2 horas á espera dum autocarro para Ragusa que supostamente haveria nesse dia, mas lá está… Páscoa… Itália… não há autocarros, não há nada! Decididamente não iria pagar mais 20€ por um quarto numa cidade que eu já conhecia toda, além do mais tinha que estar na universidade porque iriam recomeçar as aulas de italiano. Voltei para a estação de comboios e mais uma vez quando fui perguntar o caminho, porque me tinha perdido pela milésima vez, uma senhora disse que estava de carro e que me levava lá. Eu pensei que o destino queria mesmo que eu voltasse para casa, porque cada vez que era para ir para a estação até carro eu tinha, mas para ir para as outras cidades não havia nenhum transporte, a não ser, um senhor de terno, óculos escuros e desdentado que disse que se eu quisesse íamos no carro dele até Ragusa … hum… é melhor não, obrigado! Lá comprei um bilhete de volta para Calabria, uma viajem de 5 horas até casa!
Já tinham passado 4 dias, estava cansada, não queria gastar mais dinheiro porque queria poupar para a viagem a Tropeia, tinha classes de italiano e convinha não faltar, e ainda tinha que fazer o meu horário para o próximo trimestre e ver que cadeiras iria fazer… o melhor é mesmo voltar, hei-de ter oportunidade de voltar com certeza, penso que já foi uma viagem muito positiva e agradável.
No comboio conheci mais uma italiana que estudava em Catania e uma outra que ia para Veneza. No comboio eram só gritos pois segundo a rapariga, o pessoal de Siracusa apanha o comboio para ir para os bares em Giardini Naxos, onde eu dormi, e ficam lá até à manhã seguinte. Assim, pelo menos 2 horas foram passadas com os gritos das pitas tresloucadas com as piriquitas aos saltos e dos rapazes com excessos hormonais.
Mas lá se fez a viajem até Paola, sempre dormindo, que já sabem o efeito que os comboios têm na minha pessoa. Cheguei por volta das 2h da manhã e como é Páscoa só tinha comboio para a universidade ás 7 da manhã, obviamente não ia pagar um quarto em Paola que é uma cidade de praia, logo caríssima. Assim, fui adoptada pelo senhor que controla os comboios, que me levou para a cabine de controlo e sentou-me numa cadeirinha bem confortável. Lá fiquei aquelas horas todas, conversando com os senhores, dormitando até que se fez horas de abalar. O senhor foi mesmo impecável comigo e quando o turno dele acabou por volta das 6 horas, fez questão de garantir que eu tinha um cantinho para dormir no bar, muito simpático mesmo. Chegada a hora lá apanhei o comboio para 4Miglia, a terra mais próxima da universidade e quando lá cheguei é claro que não havia autocarros, assim fui a pé até á universidade, por caminhos nunca antes navegados por mim, ou seja, eu sabia que havia um caminho a pé, que ficava aí uns 20 minutos da universidade, mas eu sempre tinha ido de autocarro e assim não sabia o caminho, como era manhã cedo não havia ninguém na rua, mas lá fui eu andando com a mala ás costas, cansadíssima e tentando a minha sorte pelo meio dos matagais. Por fim lá encontrei a universidade e quando cheguei a casa dou pelo meu quarto trancado. Pensei que talvez a Ying tivesse dormido fora de casa o que até era bom, porque podia arrumar as coisas sem preocupar-me em não acordá-la, mas quando tento abrir a porta com a chave percebo que tem uma outra chave por dentro, eu só rezava para que ela não tivesse com ninguém se não era uma vergonha do caraças e eu odeio ser empata coisas, e pelo estado da sala poderia dizer que realmente houve uma grande festa ali, mas ela lá abriu a porta muito assustada por ver alguém a tentar entrar, mas felizmente para mim (se calhar não para ela) estava sozinha. Lá tomei um precioso banho e dormi, dormi, dormi….finalmente em casa!









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