13 abril 2007

Sicília - 3ºCapítulo

Durante a madrugada chegaram imensas pessoas ao quarto vindas não sei bem donde, mas num estado que vocês bem sabem qual, sempre a fazer imenso barulho por todo o hostelo. Eu não sabia bem quem era a pessoa que estava a dormir por cima de mim, no beliche claro, mas estava a pensar que era um rapaz, porém quando “este” chegou ao quarto e se despiu á frente daquela gente toda eu percebi que realmente não era um rapaz, ou se era estava ali 1 par de coisas que não deveriam estar, pelo menos não tão desenvolvidas.
Acordei de manhã cedinho, tomei o pequeno-almoço lá no hostelo e saí para levantar dinheiro para pagar a excursão e tentar encontrar o McDonalds, local de encontro para a viagem. Domingo é dia de mercado e as ruelas estavam cheias de animais pendurados com as tripas de fora, peixes em cima de jornais no meio da rua e diga-se um cheiro insuportável a lixo, esgoto e comida podre. Isto de manhãzinha é do melhor para animar o estômago para uma viajem até ao Etna. Lá consegui levantar dinheiro e encontrar o MacCoiso e aí fiquei á espera que aparecesse o senhor do jipe e uma rapariga Americana que também estava no mesmo hostelo e que iria fazer a mesma viajem.
A mocinha chegou, lá nos apresentamos e começamos a conversar, disse-me que estava a estudar psicologia em Roma, mas já estava quase a acabar e dentro dumas semanas iria voltar para Filadélfia. O senhor do jipe também nos deu a graça da sua visita e lá entramos nós num daqueles jipes da tropa em que é só dar cabeçadas no tecto porque não tens onde te agarrar. No jipe já estava um casal escocês de meia-idade, demos depois a volta á cidade para apanhar 2 raparigas espanholas e 1 italiana que falavam entre elas em francês porque moravam todas na Bélgica, uma confusão de línguas que só visto. Por último fomos a um hotel de estrelas ao cubo buscar uma senhora inglesa, de Oxford! Depois do jipe cheio e tudo pronto lá iniciamos a nossa excursão por uma quinta que fazia produtos típicos do Etna, como mel, azeite, óleos e rebuçados. Era tipo uma fábrica onde nos explicaram como faziam as coisas, pudemos provar as suas deliciosas iguarias, como por exemplo mel de frutas que são deliciosos! Comprei um de frutos do bosque, que é 90% mel, 10% fruta, uma perdição! Fomos á casa de banho, a última oportunidade de esvaziar a bexiga, segundo o senhor, e retomamos a nossa viagem.
Fomos também a um santuário que foi construído onde a lava parou na última erupção, se não me engano em 2002. O que de facto é muito estranho, porque a lava parou mesmo á entrada da cidade e numa descida. Tinha a força da gravidade para continuar, mas parou! O povo diz que é milagre e eu não digo que não, lá que é estranho ninguém pode negar. Dá para ver perfeitamente o caminho que a lava fez por entre a floresta destruindo tudo á volta, agora é só um corredor enorme de pedras que desce a encosta e se detém à porta da cidade. O senhor geólogo também nos deu uma aula sobre uma planta que só existe ali e que é a única coisa a crescer depois da lava passar, vimos uns quantos répteis que estavam ao sol a bronzearem-se e ainda deu para tirar umas fotos fixes.
Continuando a nossa viagem pelo vulcão acima parámos num sitio onde estavam imensos carros parados com todos a fotografar, o que percebi depois, um raposa que estava sentadinha a pousar para as fotos. O animal esteve uns belos minutos sentadinho, olhava para uma câmara, depois para outra, depois para outra… uma autêntica vedeta. Lá continuamos a nossa viagem e a raposinha continuou sentada a apreciar a secção de fotos. Parámos numa gruta de lava e tivemos uma autêntica aula de vulcanologia. Explicou-nos como se formavam aqueles túneis e que aquele que visitamos tinha 2km de comprimento e uns 4 metros de altura, claro que em algumas zonas era muito baixo e demos bom uso aos capacetes quando pregávamos cabeçadas nas rochas. Vimos um morcego albino que estava a dormir aí a uns centímetros de nós e nem com as flashadas dos turistas se mexeu. Creio que os animais por aqui estão habituados á fama! Uma das espanholas não parava de dizer “un pipistrello, che asco”, e foi assim o caminho todo, mas o resto do pessoal achou muita piada ao bichito! A senhora escocesa não entrou, penso que tinha claustrofobia ou algo do género. Aprendemos bastante sobre as estalactites de lava, sobre as bolsas de gás que se formavam e quando chegou a parte da história de como descobriram o túnel, que metia derrocadas e afins, foi com consenso geral que se achou melhor voltar para trás.
Continuamos a subir o vulcão e quanto mais nos aproximávamos do pico, mais a neve era abundante. Chegados lá acima deparamo-nos com uma estância de sky, um centro comercial, restaurantes… lá está, o turismo e o dinheiro até na cratera de um vulcão! Demos a volta a algumas das crateras que estão “abertas” ao público, o senhor falou-nos um pouco das erupções mais recentes, onde tinham sido e como, andamos por lá a passear naquele manto negro caiado de branco. Uma imensidão de terra a perder de vista que ganha uma beleza extraordinária coberta de neve. È uma paisagem fantástica e pisar numa cratera, ter a certeza de estar em cima de uma criatura viva e com tamanha força é emocionante e assustador, adorei mesmo esta experiência! Também vimos os vestígios de uma recente erupção que tinha destruído a estância e um cafezito cuja lava parou á porta, (há gente com muita sorte) e claro que agora cobraram dinheiro para o povo ver o milagre, isto há gente…
Lá comemos qualquer coisa e retomamos a Catania, passando primeiro por Taormina para deixar o casal escocês que estava lá hospedado, depois deixamos a inglesa e de seguida fomos nós entregues. A italiana enlouqueceu no carro e só cantava, as amigas riam que nem umas perdidas, o casal rezava para que ela se calasse e a inglesa não se pronunciava… aquilo foi um pagode que só visto, ela apresentava-se a si mesma em inglês, cantava em italiano e comentava com as amigas em francês, aqueles que me acham louca deviam ter conhecido esta criatura!
Bom, chegadas de novo ao hostelo eu e a Sara fomos passear por Catania. Foi muito giro porque conversamos imenso, desde o Bush, aos protestantes, passando pelo Sozinho em Casa, foi mesmo muito bom. Conhecemos a cidade toda até não sabermos mais onde estávamos, andámos pelos jardins, falámos, falámos, falámos até de noite, quando eu fui apanhar outro comboio para Siracusa e ela ficou no hostelo mais uma noite porque de manhã iria apanhar o comboio para Roma.
Apanhei o comboio para Siracura e foi mais uma vez uma viagem curta, não muito bonita porque como era de noite estava tudo escuro lá fora, mas claro que se fez dormindo que nem uma bela porca!
Chegada a Siracusa deparo-me com uma zona não muito agradável e de aspecto um tanto ou quanto duvidoso. Fui conversar com os senhores taxistas que apesar de cobrarem balúrdios pelos serviços, compreenderam o meu papel de turista/estudante sem dinheiro e indicaram-me uma pensão que não era muito cara e lá fui eu andando com a mala às costas e às tantas da noite e desta vez com um ligeiro problema intestinal que me fazia ter muita, mas mesmo muita pressa de encontrar a dita pensão. Com o cansaço dos dias, o peso da mala e a revolução intestinal o caminho foi o mais longo de sempre e quando tudo parecia perdido (tudo, entenda-se eu), resolvi entrar no primeiro hotel rasca que encontrasse. Lá entrei no Hotel Milano de aspecto não muito agradável e com um senhor muito mau encarado a fumar ao lado de uma placa que dizia ser estritamente proibido fumar. O quarto era 20€ e os intestinos aceitaram, naquele momento dava o meu reino por uma casa de banho. Enquanto o senhor preenchia os dados com o meu passaporte eu suava por todos os lados e rezava para que ele se despachasse, quando subi para o quarto e percebi que possivelmente teria que escolher entre ir eu de elevador ou a mala porque não cabíamos as duas, pensei logo que aquilo não deveria ter muito luxo. Subi até ao primeiro andar e deparei-me com um quarto do tamanho duma despensa, cujo aspecto não era nada limpo e que para meu terror intestinal não tinha casa de banho, mas caguei para o assunto (ainda não literalmente) e fui á procura da casa de banho, encontrei uma não muito agradável e claro que como belo filme que é a minha vida, sem papel higiénico. Mas pronto, lá consegui fazer aquilo por que rezava e voltei para o quarto. Pensei seriamente eu sair dali e rodar a baiana que aquele quarto não tinha condições nenhumas, mas eu não sou de muitos escândalos e estava tão cansada que resolvi ficar. Para tomar banho foi noutra casa de banho também muito nojenta, quase sem água e sem água quente, só me apetecia chorar por estar ali no meio daquilo e quando pensava que tinha pago 20€ por um quarto fantástico, limpinho com tudo só tinha vontade de voltar a Giardini Naxos para abraçar o senhor e dizer-lhe que ele era um fofo!
O meu telemóvel ficou sem bateria logo não tinha a mínima ideia de que horas eram, não consegui encontrar um telefone para avisar a minha mãe que tinha sobrevivido e nem para mandar uma mensagem rápida ao meu irmão aquilo se ligava. Mas tentando esquecer as minhas mágoas lá adormeci tentando-me imaginar na minha cama e tentando não ouvir a televisão no volume máximo que vinha doutro quarto!



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