09 setembro 2006

29/07/06 8:48h A caminho de Brasov

A Grécia desiludiu-me muito, quer dizer, eu já estava um bocado à espera, mas mesmo assim temos sempre a esperança de encontrar uma terra de sonho. Bom, a noite de caminho para Thessaloniki até se passou bem, fomos dormindo o caminho todo, pelo menos eu, a minha mãe disse que não conseguiu dormir nada.
Fomos num compartimento com mais 4 raparigas. Duas Alemãs, uma Grega e uma Australiana que viajava sozinha. Eu dormi muito bem, melhor do que se tivesse ficado num hotel ou assim, uma cama para me poder esticar, o balanço do comboio... tudo contribuiu para uma bela noite de sono.
Chegámos a Thessaloniki por volta das 5:30 da manhã e tínhamos comboio para Sofia por volta das 6:30h, foram 30min à espera que o senhor da bilheteira internacional abrisse e lá fomos nós, uma madrugada inteira num comboio apinhado de gregos, que falavam todos uns com os outros, escusa-se dizer que para mim era tudo grego... Ao meu lado ia um bébé, o Adriano (pelo menos o nome era normal!), que se encantou comigo, ficava a olhar para mim muito sério e depois ria-se, os pais punham-no a embalar quando chorava, mesmo ao lado da minha cabeça repousada, assim, quando eu tentava dormir tinha uma bébé aos gritos bem aos lado dos ouvidos. Na mesma carruagem iam dois miúdos para aí de 5 ou 6 anos que foram o caminho todo: riam-se , choravam, depois choravam e riam... até metia ocnfusão! Se eu falasse grego teria dito aos pais daquelas crianças que elas sofriam de disturbios de personalidade. De qualquer maneira, o Adriano, quando começava a chorar eu olhava para ele, e ele calava-se a olhar para mim muito sério, era amor... ou o mais provável era ser medo... a família dele achava muita piada, se bem que eu não percebia os comentários.
Ao entrar na Bulgária a segurança é apertadíssima, vieram-nos pedir o passaport umas 3 vezes. Nas primeiras vezes olhavam para o passaporte, olhavam para nós, para o passaporte, para nós... estava sempre à espera que me dissessem "Voçê tem aí uma ruga que não está aqui na foto, não me parece que esta seja voçê!", acho que era só o que faltava, mas é mesmo muito incómodo ter alguém a olhar para nós fixamente durante não sei quantos minutos a observar-nos os defeitos todos, estava a ver quando é que me confundiam com algum cartaz de "procura-se". Da outra vez, uma senhora policia levou-os para os carimbar (na Bulgária os visitantes têm que carimbar o passaporte todos os dias que lá estejam), a senhora que levou os passaportes tinha cara de má, mas perdia toda a credebilidade de autoridade policial porque era loira falsa, mamalhuda e tinha as unhas cor-de-rosa choque, se não estivéssemos na Bulgária diria que esta policia era dos apanhados, mais tarde percebi que era moda aqui...
A paisagem da Bulgária é lindissima, verde, verde, verde... enormes encostas todas verdinhas, lagos brilhantes, casas de campo super acolhedoras, crianças a andar de bicicleta pelos campos... isto até chegar a Sofia, mas porque é que as capitais estragam sempre tudo??
O comboio mal entrou na cidade passou logo por uma espécia de guetto. Porcos a viver com as pessoas, lixeiras à porta de casa, crianças descalças e sujas... realmente a miséria que aqui há é impressionante, talvez assim olhe para os imigrantes que há em Portugal com outros olhos, porque para abandonarem familia, amigos e irem viver para o nosso país em condições que nos afligem, é porque aqui as coisas são mesmo muito piores, apesar de tudo e de todos, acho que ainda vivemos num cantinho abençoado!
E quando se vê num cidade destas, pessoas a comer do lixo, pensámos nós "Se Deus é justo, então quem fez o julgamento" a estas pessoas? mas por que raio há pessoas que não não são nada, não têm nada, são "um resto do mundo", e nós, na nossa infinita ignorância, no nosso eguismo Humano, queixamo-nos muitas vezes de barriga cheia, acho que me inseri no velho ditado "eu queixava-me de não ter sapatos, até que vi um homem sem pés!".
Parece-me a mim que Sofia foi umas das capitais que se tentou modernizar depressa demais e acabou por por se atropolar a ela mesma. tudo muito apressado, sem organização, uma luta pela sobrevivência numa selva urbana.
Mal chegámos à estação veio uma senhora muito simpática, que nos perguntou logo se erámos espanholas ou portuguesas, porque tínhamos cara disso, disse que os portugueses eram muito boas pessoas. Deu-nos uma tanga tão grande, que quando dei por nós já estávamos no carro da senhora em direcção ao seu "hotel", veio-me logo à cabeça que íamos ficar já ali, se ela quizesse tínhanos levado para um beco qualquer e feito o que quizesse, mas tivemos sorte.
O suposto Hotel não era mais do que uma casa particular. Quando chegámos lá não gostei logo do aspecto do prédio, um cheiro a mofo horrivel, sem elevador, nem ventilação. Subimos para o 2ºandar e mal entrámos no Hotel Marriot veio-me logo um cheiro a lar de 3ºidade, horrivel... eu sou muito susceptível a cheiros, e nada pior do que morar numa casa que cheire mal. Mas como era 10€ lá ficámos. E a senhora estava tão orgulhosa do seu "hotel", com internet grátis, pequeno almoço e transporte grátis que até parecia mal dizer que não. Puseram-nos então num quarto despensa, com frigorifico, tábuas de passar a ferro, arcas e sei lá mais o quê, mas segundo a senhora os outros quartos já estavam reservados, mas enquanto lá estivémos só vimos a velhota que lá trabalhava a ver televisão de pernas pó ar, nos quartos, supostamente alugados.
Tomámos banho, vestimos roupa lavadinha (sabe tão bem), e fomos passear.
Andámos por um mercadão enorme, em que era tudo baratissimo e era só ciganagem, a senhora já nos tinha avisado para termos cuidado com os documentos e assim.
Comprei champô e sabão e fomos sempre andando, até não sabermos mais onde estávamos e resolvemos chamar um taxi, porque as ruas ali não pareciam muito seguras. Acertámos com um táxi que estava avariado, então estava sempre a ir abaixo, mas o senhor era sério porque cobrou-nos a taxa normal. Fomos à estação e como ninguém nos percebia no balcão dos bilhetes nacionais (pois eu queria ir a uma terrinha medieval ali perto), resolvemos ir logo para a Roménia. Assim fiz a reserva num vagão cama para essa mesma tarde, às 19:30h e fomos buscar as coisas ao hotel. Comi uma sandes estranha na estação, mas com a fome que eu tinha, marchava tudo e a bela da coca-cola, que felizmente (ou não), é universal, e pelo menos isso é uma merda conhecida...
Um taxi queria nos cobrar 10lev para ir até ao Hotel, quando eu sabia que não era mais de 3lev (estava no folheto), e como já estou a ficar esperta nestas coisas, fomos a pé e não me deixei ir na conversa do taxista explorador. Ainda bem que assim foi porque descobrimos uma lojinha de coisas típicas e a minha mãe lá comprou as prendinhas que queria, aqueles pratinhos que no fundo não servem para nada. Eu também comprei os meus postais, e percebi uma coisa curiosa aqui na Bulgária, eles falam e percebem francês, alemão e até italiano, mas inglês ninguém fala. Estava com esperança que no meio de tanta poliglotice, que percebessem português, mas não tive sorte!!
E é muito giro, pois falam comnosco como se a gente percebesse búlgaro muito bem... Então a senhora búlgara lá conversou muito comigo, ela em búlgaro e eu em inglês, nem sei bem como é que nos entendemos... Chegámos ao hotel e arrumámos as nossas coisas, ainda pus a carregar o telemóvel e a máquina e fui lavar os pés imundos e lá tentei explicar à senhora que estava de pernas para o ar, que nos íamos embora e que não ficávamos a dormir pois tinhamos comboio para essa tarde, ela respondeu em francês "Bon Voyage", e eu pensei que ela tivesse percebido, mas pelos vistos enganei-me porque quando nos viu a sair com as mochilas às costas fez um ar muito surpreendido, tive que lhe mostrar o bilhete para ver se ela percebia, mas mesmo assim acho que não ficou convecida, mas muito sinceramente caguei na senhora e lá fomos apanhar o comboio. A primeira coisa que fiz quando lá cheguei foi adormecer, estava mesmo exausta e desta vez o nosso vagão era tipo surprise-surprise. Debaixo de uma mesa estava o quê? Um lavatório!! Yeee, e era tudo mais ou menos assim, descobrir sempre um esconderijo novo. Desta vez a carruagem era só para mim e para a minha mãe, dormimos mesmo bem na viajem de 12 horas para Bucareste. Tirando o facto de estar sempre gente a lá ir bater à porta... primeiro foi o snehor da carruagem que ficou com os nossos bilhetes e nos expulsou sem explicar nada, pensei logo que era um vigarista que nos estava a endrominar, não percebia nem falava inglês, ora obviamente que eu não percebia nem falava as estranhas linguas do senhor, teve que ser uma senhora que estava na fila atrás de nós a explicar que podiamos ficar num quarto qualquer, e que ele depois devolvia os bilhetes no fim da viajem, ficou com eles só para carimbar.
Quando já estava a dormir descansadinha, apareceu um senhor com uma lanterna apontada à nossa cara a ver se estava tudo em ordem, só me apeteceu dizer "está tudo em ordem, chefe!" Depois, durante a noite, ficámos mais uma hora parádas algures na Europa de Leste para carimbar os passaportes, e ainda houve outra vez bem peculiar em que apareceu a senhora de branco. Acreditem que pensei mesmo que estava a sonhar, quando uma mulher de bata e toda de branco nos entrou pela carruagem, mas afinal era da saúde pública ou assim, e tinha uns inquéritos sobre a gripe das aves para preenchermos, tivemos que assinar um termo de responsabiliade em como não tinhamos nem chegado perto de qualquer ser morto ou vivo, com penas... bom, lá acordei do meu sonito para preencher aquela monografia, e acordei a minha mãe (o que não é fácil), para ela assinar os ditos documentos, e depois a senhora de branco cagou-nos na cabeça e não os foi buscar. Mas apesar de todas as interrupções até dormimos muito bem, e quando acordámos lá fomos nós para a estação trocar 4€ em Lei (dingeiro romeno), para irmos à casa de banho (0,80 lei) e depois fui comprar as reservas para Brasov (castelo do Conde Drácula) porque pelo que já percebi as capitais não tê nada de especial. Tive a ajuda dum senhor que perguntou se queríamos hotel, mas como eu disse que nos iamos já embora ele ajudou-nos na mesma.
Fui levantar dinheiro, fomos comer e às 8:30h apanhámos o comboio para Brasov. É nele que estou agora, a caminho do castelo de Drácula, chego lá por volta das 11h e tenho um miúdo de 8 anos a olhar para mim fixamente, com uns olhões azuis enormes, acho que se apaixonou pelo meu aspecto de tursta porca e descuidada.
Como é óbvio, a capital da Roménia é feia, como bela cidade grande que é, porém o caminho tem sido bem bonito, mais uma vez só montanhas verdejantes com chalets espalhados, ribeiros a atravessar os montes... as casas tê todo o aspecto de casas de campo, feitas de pedra, telhados de madeira e tem tudo uma conotação à filme, mas para isso temos que ignorar com certeza, o lixo à beira dos ribeiros.
Até Brasov!

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