08 março 2012

Tesourinhos deprimentes de dentro de nós

Hoje, que é dia da mulher, venho falar de coisas tristes.

Bem, convém notar que o meu triste não é de maneira nenhuma aquele sentimento que nos saí enxaguado pelos cantos dos olhos, enquanto nos deixamos cair no chão encostados à parede, a soluçar baixinho com o Alejandro Sanz de fundo…

Podia ser.

Mas não é.

Venho falar pois, de todos aqueles momentos vergonhosamente tristes que fizemos ou fazemos, mas escondemos do mundo.

Ora lá está. Como ouvir Alejandro Sanz, por exemplo… ou qualquer outra criatura que chora muito por mulheres que, normalmente, são alheias.

Não me lixem.

Com certeza que ouvem.

Eu oiço e com muito orgulho. Ainda agora, durante o correr deste trecho linguístico de renome, escuto o “Y se fuera ella”, em modo repeat constante… e até parece que me sangram os ouvidos…. Mas não me importa.

A verdade é que passámos por várias fases nesta nossa vida, e não nos devemos envergonhar de nenhuma delas.

A minha relíquia tem um embaraço constante perante a minha panóplia de cds expostos na sala e que, segundo a sua singela opinião que eu não tenho em conta, deveriam estar escondidos nos confins do baú.

Ora discordo. Aquele cd do Enrique Iglésias e que eu só comprei porque tinha uma música com a Sandy & Júnior, faz parte dos meus tristes 16 anos e por tal, merecem estar expostos e sublinhados, pois apesar de deprimentes e vergonhosos, são bonitos.

Muito me orgulho eu dos meus anos de fã assídua das Spice, tal ar para respirar. Resmas de dinheiro poupado em comida para ser gasto em cromos. Os cds comprados quando ainda não tinha onde os ouvir. Os 5 dossiers de recortes de revistas sobre as criaturas, não dando qualquer relevância à língua da mesma. Os mesmos dossiers organizados com separadores por grupo, e por cada uma individualmente com uma capa para cada feita manualmente e com muitos brilhantes. Os bonecos de plásticos comprados apenas porque sim. A caixas dos chupas onde vinham os autocolantes…. E isto podia ser apenas um texto descritivo sobre as tristezas das minhas obsessões, mas fico-me por aqui.

Acredito que um dia isto venha tudo a valer dinheiro. Chorei muito quando elas acabaram, chorei mais do que com o Armageddon, para verem o grau da coisa. Mas agora, pensando friamente, se elas morrerem posso fazer boa fortuna.

Agarro-me a essa esperança e desejo-lhes o mal.

Mas não me arrependo, que dizer… do dinheiro gasto arrependo-me um bocadinho, mas se for compensada num futuro próximo, só significa que era uma adolescente empreendedora.

Ainda hoje, se começar a dar qualquer sonoridade das ditas raparigas picantes, corro a fazer a coreografia e a cantar o inglês da altura, que era uma qualquer versão arcaica que eu julgava existir.

E exponho. E digo. Não tenho vergonha de quem fui, de quem sou ou de quem serei …. Bem, esta parte logo se vê…. Mas acho que não nos devemos envergonhar de nada.

Sim, caguei nas calças quando já não o devia fazer.

Sim, tiro macacos do nariz quando os tenho.

Sim, oiço repetidamente o Alejandro Sanz enquanto deslizo por uma parede e desejo ser Ella só porque a música é bonita.

Sim…

E talvez já me tenha arrependido um bocadinho de ter contado algumas coisas.

1 comentário: