06 junho 2010

Reuniões de condomínio

Neste momento posso aventar o facto de estar vazia por dentro… não só porque estou alarvada de fome, mas porque me sinto esvaída em sangue já que me andam a sacar aos litros só naquela de aproveitar a rebaixa.

Ao que parece, o meu corpinho que é tão belo e roliço, tem dúvidas existenciais sobre a que género pertence, e parece-me a mim que, só por vias das dúvidas, me encharca com as piores qualidades dos dois só para ver se eu me calo.

Mas não me calo, é o calavas! Mando a parvinha da tiróide para o raio que a parta, que afinal quem manda nestas curvas acidentadas ainda sou eu!

Calminha… Já passo a explicar o que raio estou a cuspir, mas do comecinho que, como diria a minha mãezinha, às cadelas apressadas nascem os cães cegos… bonito né?

Pois bem. A tiróide é uma coisa esverdeada (pelo menos a minha) que vive algures na zona encefálica do pescoço, isto é, quase que faz parte do cérebro, mas não chegou lá... tipo Portugal na Europa... E esta bela senhora é responsável por enviar uma série de bichinhos - as hormonas - pelo nosso corpito afora, e no fundo só tem a básica tarefa de nos diferenciar sexualmente.

A minha tiróide, ando eu desconfiada, é uma maluca de primeira que se mete a fumar umas coisas estranhas e confunde os frascos de hormonas que tem que largar, e é por isso mesmo que toda eu sou uma confusão hormonal que anda a subir às paredes.

Mas atenção que não há dúvidas absolutamente nenhumas que sou gaja, daquelas bem giras e jeitosas, mas o problema é que há aqui uma data de pormenores que estão a mais…

Olhem a ignorância, pá… levam tudo para a cueca, pecaminosos…

É claro para as três pessoas mais cultas que caiem aqui acidentalmente, que me estou a referir ao factor hormonal da coisa. Não sei se sabem, mas a velha TPM, isto é, a tensão pré menstrual ou para o povo em geral “tem a puta da mania”, é causada essencialmente por uma reunião de condomínio das hormonas femininas que se põem a coscuvilhar sobre a vida alheia e discutir sobre a quem pertence o padeiro, o que nos faz ficar maldispostas, de mal com a vida, e com a bonita vontade de matar alguém…

Mas não é só isso que as aprazíveis hormonas nos causam. A mim por exemplo, ainda me fazem esvair em sangue todos os meses, às vezes muitas vezes no mesmo mês, e com muitas dorezinhas que fazem ficar de cama, mas não dolorosas o suficiente para ter baixa médica ou não fazer educação física…

E essas amigas hormonas chamam-se progesterona. E o facto de terem assim um nome ranhoso destes só faz com que se queiram vingar nas pobres mulheres que as carregam no bucho.

Até aqui tudo bem. Afinal nasci mulher, cuspi na mesa da santa ceia, e diz-se que merecemos sofrer todos os meses por causa duma vaca qualquer que andou a lavar os pezinhos ao Jesus… àquele que não era treinador, note-se… mas pronto, o normal… ela é que fez o serviço, ele é que lhe devia ter pago, mas não sei porquê a divida foi herdada pelas mulheres… ela não tinha troco, era?

Mas de qualquer maneira aposto que há muitas outras teorias e é bem possível eu ter inventado esta e no fundo a culpa é da Eva e não da Madalena, mas olhem, a verdade é que me dá igual ao litro e por isso fico-me pela teoria da puta que me parece bem mais plausível.

Além de todas as progesteronas que me amolam a pinha, ainda tenho que levar com as testosteronas, umas bichas malucas que no fundo são homens mas gostam do drama, do salto alto e da mão na cintura.

Então as minhas hormonas da testosterona, que deviam estar caladinhas que nem uma ratas já que habitam solo inimigo, acham que têm o rei na barriga e andam sempre às bocas às outras, com a mania de retaliar os bombeamentos hormonais, só para verem se me sai um ou outro entrefolho pelas pernas…

E no que é que isto resulta? Em pilosidades por tudo o que seja superfície epidérmica, na chamada barriga de cerveja quando eu nem sequer gosto desse liquido amarelo (o leva invariavelmente à minha eterna gravidez), em peitos mais pequenos do que o rabo desproporcionalmente maior, e a toda uma loucura temperamental em que num momento choro com o festival da canção e no outro estou a cuspir no chão, a coçar a micose e mandar o árbitro provar a própria mãezinha….

Isto dá cabo de mim, a sério… ao contrário de me sentir cheia de tantas hormonas em luta constante por um lugar de destaque na minha corrente sanguínea, sinto-me vazia de género e uma mistura de tudo…

Mas agora, depois de me terem perguntado demasiadas vezes se eu queria uma consulta para o planeamento familiar, já me extraíram carregadas hormonais para verem a proporção da coisa, já me fizeram uma fotografia à cabeça para ver o estado drogado da tiróide, e penso que, depois de mijar durante 24h para uma garrafa, vou poder saber afinal de contas o que se passa comigo.

Demasiado cheia? Demasiado vazia?

Pelo aspecto já arroto hormonas…

4 comentários:

  1. HoShi,
    gosto da pressa do teu texto, que me faz segui-la como um assistente ao chefe mais ocupado; que chega com desabafos e suores, e eu a catar sentido aqui, sentido ali, para no fim entender-lhe a mensagem.

    Muito expressivo; irônico; divertido; rico de imagens e sons.

    Sobre os hormônios, digo eu pouco; colho mais as palavras, das quais gosto, e a tua intenção em escrevê-las.

    Gostei muito.

    Ricardo

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  2. Obrigada pelas palavras, Ricardo. Também gostei muito de te ler.

    Obrigada a todos pelo carinho! São sempre bem-vindos à minha casa, que está de portas abertas a quem gosta de me ler e se diverte com as minhas palavras insanas.

    Fico feliz por me irem conhecendo...

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  3. És perfeita.

    maria

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  4. Excelente! Gostei do início ao fim do texto. Sabe que você conseguiu me dar uma boa pista sobre o que acontece comigo às vezes?

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