18 junho 2010

O Príncipe Encantado

Ontem foi um daqueles dias para esquecer. Daqueles em que mal metemos os pés fora da cama sabemos que a coisa não vai correr bem e há uma qualquer realidade mágica a mandar-nos ficar um bocadinho mais, porque não é por 5 minutos que nos vamos atrasar.

A verdade é que 5 minutos nunca são 5 minutos, e acabamos por nos atrasar.

Isto é o que me acontece normalmente… não foi o caso de ontem. Ontem acordei às 7h disposta a calcorrear as curvas do Alentejo somente para entregar uma garrafa de litro e meio cheia de chichi e ir fazer um raio-x à cabeça, já que na bela cidade de Évora não tenho o direito de o fazer. Diz-se que as receitas dos médicos de Sines, passadas especialmente para mim, não podem se aceites em capitais de distrito… algo do género…

Pois bem, depois de tentar enfiar uma cama desmontada no meu samurai nu, que a minha mãe insistia em ter porque apesar de estar toda abananada pode ser útil para lenha por exemplo, e quando ninguém acreditava ser possível tal 20 pessoas no mini, lá conseguimos a proeza de levar uma cama, malas, e dois belos rabos para Sines… não esquecendo a garrafa de urina que tem o seu papel no factor volume.

Chegadas ao hospital, e porque a sexta-feira é um dia bonito para se ir lá passear e se diz por aí que receber radiações pelo cocuruto até faz bem ao sistema, eu tinha apenas a módica quantia de 60 pessoas à minha frente para scanar alguma coisa.

Depois de muita hesitação, típica de português, resolvi que daria tempo suficiente para ir entregar a garrafinha amarela à clínica, descarregar a cama a casa, e ainda comer uma fatia de melão.

Chegada à clínica, e apesar de ser coisa natural receberem-se ali encomendas de fezes e urinas e outros fluidos menos agradáveis, não deixei de me sentir ridícula ao entrar numa sala apinhada com uma garrafa de chichi no braço.

Perguntei à senhora se a urina que tinha na bexiga naquele momento faria falta e se podia ir encher um bocadinho mais a garrafa, e a senhora perguntou-me com ar de pânico:

Senhora Chichi (Pânico)- Você urinou directamente para a garrafa?

Eu (orgulhosa) - Sim! Mijei directamente pó gargalo! (nisto faço uma voz de garanhão, que conquistou a égua).

Senhora Chichi (determinação) - Não posso aceitar esta urina!

Eu (a pensar - fôda-se, vim de Évora só para entregar esta merda e agora não aceitam?) - Mas porquê, senhora chichi?

Senhora Chichi - Não lhe explicaram como é que se faz? Tem que urinar para um recipiente e depois pôr tudo na garrafa, não pode haver desperdícios nenhuns.

Eu - Mas esforcei-me tanto para acertar na garrafa! Fosga….se

No final de contas, e depois de me controlar muito por não dar um banho amarelado na cabeça da dita senhora, acabei por sair dali com vontade não de urinar, mas de bater em alguém.

Voltei então para o hospital, ansiosa para saber se já tinha passado as 60 pessoas ou não, e deixei o chichi na clínica, só por causa das coisas.

Chegadas novamente para mais uma voltinha ao sítio que faz as pessoas ficarem doentes, lá me apercebi que não só tinham passado as 60 pessoas, como mais 4…. e a tolerância era de 3 pessoas…. Ou seja… toca a tirar novamente a senha e ficar à espera de mais 30 à minha frente, porque a história da minha vida vinda de Évora só para fazer aquilo e cujo chichi foi renegado, não convenceu ninguém a atender-me…

Assim sendo, e só porque a vida é mesmo bonita, fiquei desde as 10h30 da manhã até às 16h30 à espera de receber com radiações na pinha.

Sim… Fiquei 6 horas à espera…. Capaz de comer um texugo… capaz de matar todas aquelas urgências que chegavam e passavam à frente de pobres e desesperadas donas, não de casas, mas de hormonas descontroladas como eu…

Não percebo... então as criaturas já estão deitadinhas nas macas, descansadinhas da vida, possivelmente já enfardaram peixe cozido e puré de alguma coisa pelo bucho acima, e ainda por cima têm prioridade em relação aos outros? Em relação a mim? Porque é que não me acham grávida quando me convém?

…. Se bem que assinei um papel em como declarava não estar grávida, e por isso não podia usar essa desculpa… nunca pensei chegar a este ponto… ter que assinar declarações em como não estou mesmo grávida... as pessoas acham tão óbvio que só lá vão com papéis assinados. Agora cada vez que me perguntarem se é para Outubro, espeto com a declaração na cara das pessoas só por causa das coisas…

Mas pronto… foi positivo o saldo no meio disto tudo… 6 horas para 1 minuto de raio-x… ao menos ofereciam uns canapés, ou conversavam com a gente naquela de compensar o tempo….

Esta é a mesma sensação de estar toda a vida à espera do príncipe encantado e quando o encontramos percebemos que afinal também se peida.

E ficam assim com esta conclusão maravilhosa só para não reclamarem que não escrevo coisas bonitas…


2 comentários:

  1. 6 longas horas....a fome a apertar.......no fim a compensação foi demais: caracóis! :)voltaria a passar outras 6 horas. Mas desta vez levava lanche...
    maria

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  2. Oi miga!
    Eu também não posso fazer exames em Évora, ah porque olha não sei... diz que não pertenço e então que vá morrer longe!!! lol
    Sim eu também leio o teu blog ihihih
    Beijocas grandes com saudades e bom trabalho!!!!

    Vanocas

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