Contar….
Este é um daqueles passos que nos mói por dentro e nos faz querer voltar atrás… Será que faz?
Mas tem que ser. Um dia tem que se contar. Um dia a coisa tem que acontecer.
Esse dia chegou…. Pelo menos para uma das partes, pelo menos metade do problema já se foi. Metade do medo já se foi… Mas será que é medo?
Nunca é como se sonha. Nunca é como se deseja. Mas a verdade é que é quase sempre como mais se receia.
Para os pais é complicado compreenderem que podemos ser feliz mesmo não optando pelos padrões que eles desejam. Podemos ser felizes não sendo os médicos e enfermeiros que queriam que fossemos. Podemos ser felizes não casando com o filho daquele vizinho que viram crescer, e podemos mesmo ser felizes vivendo com uma pessoa do mesmo sexo.
O pior, para nós e para eles, é o sentido de desilusão, de desgosto. Eles desiludem-se por tomarmos certas escolhas que na cabeça deles é por opção, é por birra, é por vontade de ser diferente… e muitas vezes esquecem-se que também nos desiludem quando escolhem que a nossa felicidade afinal não é suficiente… a nossa felicidade só é válida quando é da maneira que eles querem… da maneira que eles sonharam… e essa sim é uma escolha.
Poucos são os pais que percebem que nós somos diferentes, outras pessoas, somos o conjunto deles próprios com uma personalidade única e diferente. Somos outras vontades, somos outros sonhos, outros gostos, outras ambições… não somos uma segunda vida onde eles pensam poder viver as escolhas que outrora não tiveram coragem de tomar, não somos parte deles, não… somos eles e mais qualquer coisa, mais a educação que nos deram, mais o que vida nos ofereceu, nos tirou e nos voltou a dar… somos tão diferentes deles… e no fundo somos tão iguais.
Achamos sempre que eles sabem, que desconfiam, que até aceitam porque não nos dizem nada…. Mas a verdade é que nunca estão à espera, nunca sonharam tal coisa e sentem-se sempre ofendidos, denegridos e magoados porque acham que estas “escolhas” são feitas para apenas e somente os ferir.
É demasiado perceberem que a única escolha que fizemos, a única coisa que optamos foi ser feliz... foi ser feliz apesar de não ser como até nós próprios sonhamos… foi ser feliz apesar de saber que vai ser sofrido… foi ser feliz e viver o amor apesar de não ser como a sociedade nos diz que deveria ser. Mas é errado por isso? É assim tão errado optarmos e escolhermos ser felizes?
Se os nossos pais, que na teoria só querem a nossa felicidade, acham errado, acham anormal… então sim… afinal não é a nossa felicidade que eles querem… é a deles.
A mim não me tira o sono este desafio, esta conversa que terá que acontecer… não me tira o sono as criticas e os insultos que me poderão dirigir… sinceramente, a ignorância e o preconceito não me tiram o sono porque se tirassem… era na minha felicidade que estavam a interferir, era na minha paz e tranquilidade que estavam a mexer, e eu optei por não deixar, optei por não me incomodar, se não, nunca conseguiria ser realmente feliz.
Eu sou eu e a minha circunstância, e eu decidi que no raio da minha circunstância vai haver apenas gente que interessa, gente que fica feliz pela minha felicidade, gente que acredita que o amor não tem barreiras, não tem género, e não tem preconceitos… gente que de facto fica feliz se eu estiver feliz.
Se aqueles que nos criam e supostamente só querem a nossa felicidade são os primeiros a achar que não é suficiente a coragem e a determinação de optarmos pelo amor independentemente de todo e qualquer tipo de preconceito, se acham que ainda precisamos de ouvir o quanto os desgostamos, o quanto os desiludimos por escolhermos ser assim, diferentes dos filhos dos vizinhos…. Se são esses que optam e escolhem não participar na felicidade dos filhos e não aceitar o que acham precisar de aceitação, e acreditam que vamos mudar de ideias se disserem dois ou três insultos e se desembarcarem a quantidade absurda de ideias conservadoras que têm na cabeça e que tentavam esconder….
… então que se fodam….
Nós não precisamos nem pedimos aceitação. Não há nada para aceitar ou deixar de aceitar. Não há nada que possam mudar na nossa relação… o que mudam, e isso por opção vossa, é a nossa (nós vs. Pais) relação… é a vossa hipótese de participar na nossa felicidade, é a vossa hipótese de participar na nossa vida… e tenho a certeza que isso é que vos mói, vos faz ter medo, vos faz sofrer….
Então… a matemática parece-me tão simples neste caso… vocês optam por ser infelizes, pelo medo e sofrimento de não participarem na nossa vida, porque acham errado sermos felizes… enquanto nós optamos pelo amor e pela felicidade e apenas queremos que isso seja compreendido, que seja respeitado… parece-me óbvio quem está errado…
Os meus serão os próximos… possivelmente será pior, a idade também é diferente… Mas a esperança está aqui, a esperança de que todas as milhentas novelas tenham de facto mudado mentalidades, mudado ideais… esperança de que realmente estavam à espera e que respeitam, ou que pelo menos não optem pela matemática errada… vamos ver…
Ainda não será hoje, talvez nem amanhã… será quando tiver que ser e isso, só o destino o dirá.
Independentemente, a nossa escolha está feita… restam eles fazer a deles…