04 janeiro 2010

Mister J.

As prendas são a pior coisa que o mundo já inventou. As guerras e as prendas…. Duas coisas do demo.

Ah. E a Cláudia Vieira a apresentar os Ídolos também.

Há quem diga que não gosta de receber prendas, há quem diga que adora receber. Há os que não gostam de dar e os que adoram dar prendas.

Eu, aliada ao facto de nunca ter dinheiro, sou daquelas que adora dar prendas. Nem sempre posso, mas adoro dar.

Gosto de ver a cara das pessoas quando recebem um regalito e gostam, mas na maior parte das vezes arrisco-me a receber a cara oposta, muito mais virada para o vómito, quando ponho o meu fantástico gosto pessoal, que é tão meu, nas coisas que ofereço.

Os meus pais, por exemplo, não gostam de receber prendas (dizem eles), e sinceramente dar também não é um hobby que apreciem particularmente. Mas eu percebo… quando se tem 8 netos a vontade de dar prendas é muito semelhante àquela de os ter a todos a desenhar nas paredes, enquanto espirram chocolate para o tapete novo e se lembram de imitar o cão a mijar nas plantas…

Não…. não sejam estúpidos…. Acham que os meus sobrinhos já fizeram isso? …. Se tivessem feito eu agora era órfã de sobrinhada e possivelmente estava a cumprir pena num qualquer estabelecimento prisional - convém que seja prisional se não, não tem piada - onde controlaria todo o tráfico de drogas e seria conhecida como “A Mãe”.

Na minha família criou-se a regra que depois dos 16 já não há prendas para ninguém, porque começam a ser mais que coelhos e a vidinha está cara para andar a gastar balúrdios em brinquedos cuja esperança de vida são 5 minutos. Se bem que ninguém respeita isso, porque eu ainda recebo uma ou outra prendida de vez em quando e gosto de dar uma coisa a cada um, nem que seja uma pedra embrulhada que encontrei algures no sótão a dizer “Feliz dia do pai”.

Eu ofereço sempre prendas nem que tenha que as roubar, e este ano até fui super generosa porque dei 3 a cada um dos meus sobrinhos (façam as contas), já a contar que os ignoro no aniversário, no dia da criança e em qualquer outra festividade que implique gastar dinheiro.

Obviamente que me arrependi de tal extravagância no momento em que rasgavam um embrulho, apenas a metade suficiente para ver o que era, e passavam ao presente seguinte. Quando não havia mais andavam de volta da árvore que nem traças em faróis a perguntar “E este? É para quem?”, ao qual eu respondia, muito carinhosamente, com três pares de estalos e os mandava irem brincar com aquilo que tinham recebido e ameaçadoramente lhes dizia que para o ano não havia nada para ninguém por não terem dado valor ao que receberam… claro que isto nunca se realiza porque por muito mal que se portem, há sempre um ou outro pai natal mais fraco de coração que acede a todos os pedidos dos ditadores de palmo e meio.

Depois há aquelas pessoas, como a Dona Relíquia, que abominam dar prendas apenas porque é natal ou é aniversário e diz que a sociedade manda - “Quero é que a sociedade se fo….. Eu só dou quando me apetece, e agora não me apetece” - é o mote.

A verdade é que há algo mais forte que nós e que as mamas da Fafá de Belém, e na maioria das vezes não se consegue ficar indiferentes às montras, às lojas, aos anúncios e à obrigação moral de dar prendas no natal. Confesso que seria muito mais lógico fazer como os Espanhóis e abrir as prendas só dia 6, afinal foi quando Mister J. as recebeu. Mas ao que parece já não é disso que se trata e todas as religiões, crenças, idades e géneros, colaboram nesta lei universal que nos manda dar prendas no natal porque sim, e porque se não dermos é feio.

Eu confesso que este natal foi particularmente difícil aceder à vontade interna de dar prendas e mimar aqueles que não merecem, porque foi exactamente esta a época escolhida para a crise se instalar no meu posto de trabalho, mas mesmo assim acedi à consciência que vive dentro de mim, logo ali ao lado do duodeno, e tentei dar algo a alguém. Mas não me posso queixar, porque também recebi muito boas prendas.

E é aqui, quando eu recebo algo de alguém, que entra o meu ódio aos presentes.

Primeiro de tudo é a lista de pessoas: A quem dar? Se dou àquela, tenho que dar àquele… aquela não merece mas diz que trabalha nas finanças e pode dar jeito… aquela pagou-me um café se calhar dou-lhe alguma coisa…. aquela não recebe nada porque me cuspiu…. E acaba sempre, mas sempre por faltar alguém.

Depois há a sensação de obrigação quando alguém me dá uma prenda e eu não tive dinheiro nem tempo para comprar a recíproca e tenho que fazer o discurso sonso “A tua dou-te depois, ainda não a embrulhei”, quando a realidade é que a prenda ainda não está embrulhada porque ainda nem saiu da prateleira da loja.

Seguidamente há aquela sensação incrível quando abrimos a prenda que alguém nos deu e nos vem as lágrimas aos olhos porque naquele preciso momento essa pessoa está a abrir a caixa de fósforos que compramos em liquidação para oferecer e nas mãos temos um trem que cozinha inteiro… dói… dói muito…

Confesso que me senti muito mal quando abri o fantástico bule da Natura que recebi da A., lindo de morrer, e em compensação lhe tinha oferecido uma esponja em forma de vaca para o banho…. Que miserável sou….

Hoje, uma vez mais, me senti horrível quando recebi um livro daqueles grandes e cheios de letras da L. e por sua vez me lembrei do creme de azeitona que lhe tinha oferecido….

Só me resta concluir que eu não vos mereço, nem mereço o mundo em que vivo. Perdoem-me pessoas pela escassez monetária das minhas prendas, mas espero que saibam que pelo menos o carinho e amor que tenho por vocês não são nada escassos!

Eh eh. Que bonito. É o que faz o frio a entrar-me nas orelhas…

Concluo e remato esta bonita dissertação com isto:

Não recebi nem uma caixa de chocolates. Ok. Percebi. Amanhã volto ao ginásio.

4 comentários:

  1. amoriii, as tuas prendas pelo menos são pensadas com carinho! às x as que nos chegam são das mais caras mas dá para ver que quem as comprou não pôs nem 30 segundos de pensamento naquilo...
    Olhaaaa e uma das TUAS prendinhas ta no meu top5 das melhores prendas de sempre! sim, porque não é todos os dias que se esta a milhares de Kms de casa e se recebe uma moldurinha feita à mão com uma frase super fofinha (que mais tarde vim a saber ser da autoria do andré sardet,mas mesmo assim com MUITO VALOR) e que me deixou a choramingar e fungar durante uma manhã inteira! ah pois é!Foi a única carta que recebi qd tava longe!!
    As tuas prendas têm muito valor, TU tens muito valor...Por isso quem te conhece vai saber apreciar as tuas prendas, nem que seja um simples raminho ou folha que apanhaste no jardim por onde passas todos os dias...
    Mil beijinhos daqui ate a Lua,
    Ecopista*

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  2. Grandessíssima parva! Só pelo teu comentário final apetecia-me enviar-te pelo correio uma enorme colecção de chocolates, de todas as cores e feitios!

    Quanto à esponja da vaca... ainda não foi estreada... mas será em breve! e esqueceste te dos íman para o frigorífico (que já lá estão, embora sem fotos!). O que interessa é o coração... o sentimento da troca de prendas e tenho pena que os teus sobrinhos não percebam o esforço que fizeste em comprar não uma mas três prendas a cada um.

    O giro é dar um bule e não esperar nada em troca e quando se regressa a casa vê se que lá deixaste uma prendinha... com um bilhete num papel roubado do teu próprio escritório (dito assim parece assustador..."oh ela está a telefonar de dentro da casa..." lol)

    Tu tás lá miúda... Tu tens o espírito que o Natal puxa, infelizmente não em toda a gente mas enfim...

    Beijos

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  3. Vamos encher a caixa do correio da Estrelícia com chocolates, muitos chocolates :) e para a próxima ela aprende e não dizer barbaridades destas.

    Eu concordo com as minhas colegas que se manifestaram acima, qualquer prenda que tu nos ofereças tem um valor imensurável, porque são dadas com o coração (e muitas vezes com a paciência que a mim me pode faltar, como os livros com banda sonora incorporada, por exemplo). Ainda não me fizeste chorar, mas volto a ver o livro e as nossas fotos e relembro-me dos momentos que já passámos juntas, e consegues sempre arrancar-me uns quantos sorrisos, e até gargalhadas.

    E sim, Natal é quando o Homem quiser, eu ofereço prendas mesmo que não seja uma ocasião instituída na Sociedade. Às vezes compro, porque me fez lembrar determinada pessoa e porque acho que ela irá gostar dessa lembrança, independentemente do preço ou da capacidade de suportar chá :)

    Muitos beijinhos e um Bom Ano para ti...ganha dinheiro para me ires visitar, isso seria uma bela prenda, para as duas!

    Gypsy

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  4. Gostei do post, sim senhora. Sim, é exactamente na época natalícia que menos vontade tenho de oferecer prendas, não sei, mete-me nojo. Épá, esta foi forte. Tá forte tá.

    Mas quando dou prendinhas dou à grande e à portuguesa. E você é testemunha disso!!

    beijo embrulhado no papel da "a que sabe a lua".
    maria

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