27 dezembro 2008

Médico de Familia

Esta é uma daquelas histórias que começa com a moral. “Deus é um ser feio, porco e mau, que quando se farta de ouvir os nossos pedidos faz-nos engolir os nossos desejos mais íntimos com um amargo sabor a fel”.

Ora bem, lembram-se de quando eu andava aí cabisbaixa porque não me esvaía em sangue à coisa de mês e meio o que, apesar de ser o pesadelo de qualquer criatura possuidora de ovários, é no entanto aquilo que para nós é normal e nos faz sentir muito dói-dói quando não aparece? Pois bem… tanto reclamei… tanto rezei… tanto preguei aos santos, que agora ando com o endométrio a desfazer-se à coisa de 10 dias e este não parece estar a dar tréguas.

Esperei quase dois meses para o dito cujo avermelhado surgisse e desse modo pudesse voltar a tomar as tão saudáveis hormonas redondas e assim homogeneizar o relacionamento complicado que existe entre o meu estrogénio e a minha testosterona. Comecei a tomar a pildra normalmente achando que a coisa iria ao lugar, e que dentro de 2 dias a hemorragia estancaria. Para quem não sabe, e para vos mostrar que aprendo alguma coisa com a Dr.ª Sue, o que a pílula faz é enganar o nosso corpinho dizendo-lhe que já estamos emprenhadas e que por isso não precisa de andar a enviar óvulos a cada minuto a ver se algum é violado por três ou quatro girinos moçambicanos que se atiram de cabeça à complicada tarefa da fecundação. Assim, enquanto o nosso sistema reprodutor anda felicíssimo da vida achando que vai cumprir a sua função vital e a razão pela qual existe, descansa a passareca e não envia mais óvulos à maluca. Até que, 21 dias depois, percebe que foi enganado e vinga-se do corpinho que lhe deu casa e comida, numa acto de puro vandalismo, enquanto nos esventra as entranhas e nos faz arrepender. Bem, basicamente, e muito cientificamente, acho que é isto que acontece.

O que nos leva a pensar… qual foi a parte do “já estou prenha, não precisas de me raspar mais o útero”, que o meu corpo não percebeu? Há aqui um qualquer sistema de comunicação que não está a funcionar como deve ser. Ou a pílula já não tem voto na matéria e as hormonas estão-se a cagar para o que a senhora Diane diz, ou então algo está errado no mundo dos sonhos e estou realmente a ficar doente.

A parte de estar a perder sangue durante 10 dias seguidos, que segundo o farmacêutico é perigoso porque me faz ficar fraca e anémica, não me preocupa porque como tenho estado todos os dias deitada não preciso de forças para nada. O que me preocupa são as dores. Isso é que dói… as dores quando doem são lixadas, e estas são particularmente fodidas.

Portanto, e resumindo, estou à 10 dias com dores menstruais que me parecem piorar a cada dia que passa o que significa que estou a perder cada vez mais o liquido vital que me faz sobreviver!

O que é que eu devo fazer? Ir ao médico, seria uma hipótese. Porém, para quem não sabe, ir ao médico nesta cidade é uma tarefa bem mais complicada que enfrentar um dragão de chifres, e eu arriscaria dizer, bem mais perigoso.

Sabendo que não me aceitariam nas urgências, porque estar a esvair-me em sangue não é em lado nenhum uma situação urgente, e que, mesmo que eu tivesse neste momento 70 euritos para despender numa consulta privada num ginecologista, não serviria de nada já que me vai mandar fazer análises que só receitadas pelo médico de família, decidi-me a enfrentar o touro pelos cornos e fui tentar uma consulta no médico de família. Surpreendentemente não dá consultas até ao final do ano e não aceitam marcações para o próximo ano, já que parece que é o ano que ele vai tirar férias. “E então?” pergunto eu, de lágrimas nos olhos “Fico-me a esvair em sangue até essa criatura de estetoscópio se lembrar que é médico e que há mais gente doente além das velhas que já põem naperons (fiquei surpreendidíssima por isto se escrever assim) nas cadeiras da sala de espera, tal a frequência com que lá estão?”… “Pois, minha menina, não posso fazer nada em relação a isso!”, diz-me a secretária que me olha por cima dos óculos com todo o ar de quem está com uma indigestão, “O-obrigado”, digo eu uma vez mais a ter dores abdominais, desta vez, devido ao sistema médico português, “De nada querida, boa continuação de esvaimento!”!

Assim, e porque não tenho forças nem sangue suficiente para lutar contra o sistema, vou-me deixar esvair em sangue na minha cama quente e confortável, enquanto desejo ardentemente que o mundo se expluda em dores como as que eu tenho, e que o meu médicozinho de família tropeça e enfie o estetoscópio pelo rabinho acima até lhe sair pelas amígdalas.

Ah... e um feliz Natal a todos!

1 comentário:

  1. olhe minha senhora, fique sabendo que foi vocêm quem me pegou a Fá Fá de Belém quando eu estive com você nessa terra de descobertas que é Sines. Agora, devo pegar à minha cadela (coitada).

    O filho da puta do período devia de morrer este natal com um pinheiro enfiado no cu. E é com este mesmo pensamento que te conto que hoje estive por um triz (adoro dizer por um triz) a ir à minha médica de família para lhe pedir que me remove-se os ovários, todos quanto são, dois portanto. só não levei esta maravilhosa ideia a bom porto porque no decorrer da tarde, aconteceu um imprevisto. a minha mãe atou-me com arame farpado à cadeira. mãos e pernas. só lhe pedi que me soltasse agora as mãos para poder comentar este teu lindo blog, razão pela qual eu respiro. sim, sou uma pessoa muito triste.

    e visto que não tenho a mínima intenção que seja de vir a parir (ou para os mais românticos e religiosos "dar À luz", decidi portanto que isto não faz cá falta nenhuma, até pelo contrário, incomoda e muito. para além disso, não fico menos mulher por isso. ora, segunto uma moça muito inteligente e com o seu q.b de cabra montesa eu sou um "rapazinho" então pronto, os rapazinhos não têm ovários, ou até tÊm, estão é pendurados e não sangram.

    ora, os meus pais ficaram preocupados contigo. (eu cá, não me preocupo minimamente contigo, sabes bem). logo, vou ver se estás no msn (o calor do portátil nos ovários faz bem.

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