16 outubro 2008

A Ladra da Feira

Na passada terça-feira fui à famosa e aclamada feira da ladra com o notório fim de realizar mais um sonho da minha mãe, a mulher dos muitos quereres. Há uns anos queria um interrail e lá fomos nós correr o mundo com uma mochila às costas e odores muito maus no sovaco. Agora deu-lhe para querer conhecer a feira da ladra, nada de extraordinariamente difícil ou exótico, mas curioso. Estou à espera de sonhos que sejam impossíveis até para os meus poderes mais sobrenaturais, mas até agora tenho sido incansável, Já a pus ao lado do Bonanza, tudo bem que era de cera, mas a intenção estava lá e nem todas se podem dar ao luxo de dizer que já agarraram no rabo encerado do Sean Connery e abraçaram os braços musculosos e petrificados do Indiana Jones.

Eu também tenho um sonho: gostava muito de ir à feira popular. Mas este meu sonho não se poderá realizar jamais, porque a dita cuja foi-se com os cães antes sequer de eu puder vomitar numa das montanhas russas. Tudo bem, dedico-me à vida samaritana de resolver os sonhos alheios e penso que isto poderá anular qualquer cadastro que eu tenha lá no céu, ou pelo menos, disfarçar alguns dos pontos mais torpes.

Chegar à feira da ladra até foi fácil, apesar de quase me ir ficando na fila da ponte devido ao Rfive que não pegava e que me fez passar muita vergonha. Para a feira é só seguir a linha do eléctrico e tentar não chocar com o mesmo. Sempre a descer, sempre a descer até começar a ver utensílios de barbear expostos pela calçada fora.

Este conceito de vender a alma e os restos do almoço numa feira onde só não há a vender terrenos na lua, o que é uma falta considerável, tem muito que lhe diga. Há de tudo: Há quem venda aquilo que não tem para poder comer uma vez mais, e esse tipo de vendedores corta-nos o coração e são fáceis de identificar pela ansiedade que mostram em tentar desfazer-se dos últimos trapos e pela total ausência de regateio quando qualquer coisa tem o valor que tu queiras dar; há também aqueles que vendem aquilo que acabaram de roubar e ver gente a apregoar pares de ténis enquanto vê outros a correr descalços acaba por ser uma constante. Dá até uma certa magia à coisa. A polícia também é uma realidade presente na feira, se bem que se fossem espertos podiam estar ali a vender as coisinhas que apreendem e fazer bom dinheiro, ora uns B.I. falsos até que dão jeito e por acaso ando à procura duma sirene para poder cortar o trânsito (é pura ficção para qualquer agente da autoridade que leia isto).

Mas no final de muitas horas a laurear a pevide por barracas de velharias, acabou por se fazer boas compras. A minha mãe nos seus muito quereres, conseguiu mais uns quantos candeeiros a petróleo para a sua recente colecção. De todo o tipo e feitio, lá se foi regateando de modo a alcançar a maravilhosa quantidade de sete candeeiros numa só manhã. Já nos perguntavam se era para vender. Não… somos mesmo parvas e servem só para enfeitar! Uma grande compra foi também uma máquina de costura da Singer, daquelas bem antigas e bonitas, que se vêm a vender por 300€ e que se comprou só por 40… A verdade é que a máquina apesar de estar em perfeito estado não irá ter muita funcionalidade porque já cá temos umas quantas, mas a minha mãe lembrou-se que seria engraçado fazer também colecção de máquinas de costura, e o facto de não serem pequenas e não haver espaço nesta casa apinhada, não são argumentos suficientes para a demover.

Mas não tenho que reclamar porque no final também consegui arranjar algo que já deseja há muito tempo. Não, não foi um homem…. Comprei um globo do mundo, algo que sempre quis ter mas cujo valor de 50€ me demovia, por apenas 10, e uma guitarra que apesar de velha, está em perfeito estado, com as cordas boas e com um som muito bonito, por apenas 25€ e claro… o meu sonho de ter uma máquina de escrever também se concretizou (afinal também realizo os meus próprios sonhos) e agora posso escrever os meus romances de beira de estrada numa máquina de apenas 15€, bem bonita e novinha. Foram realmente boas as compras.

Um belo dia bem passado apesar de ter ido parar a Caxias quando o objectivo era ir para a margem sul, mas não há-de ser nada, porque no final se alguém perguntar, armamo-nos em finas e fomos beber uma aguinha a Cascais e não… não nos perdemos.

1 comentário:

  1. Ora grande dia esse. Feira da ladra é um paraíso enferrujado e bonito de se estar. Mas a melhor parte, tu sabes bem qual foi. Essa imagem ainda me assalta e me faz rir, rir muito. Foi um daqueles dias que ficam, com muito gosto.
    Maria

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