25 maio 2008

O momento final

E acabou.

E por fim chegou a tão assustadoramente (in)desejada queima.

Terminou. Chegou ao fim mais esta etapa, concretizou-se mais este sonho.

Foi como sonhei? Nem lá perto… nos sonhos alcançamos a felicidade inalcançável, enquanto na realidade, a perfeição é inatingível e a frustração uma certeza.

Não, não foi minimamente o que eu queria. Não foram os sentimentos que eu pretendia, não foram as emoções, as alegrias, os momentos com que eu sonhei.

Esta foi uma semana complicada. Poucas horas dormidas, pouca comida ingerida, muitas lágrimas derramadas e incrivelmente, nenhum álcool no sangue.

O sentimento de perda e de fim foi mais forte que a alegria de queimar. A aproximação do futuro, da distância, do esquecimento…. Todas estas emoções me arrebataram o peito e me descontrolaram os olhos.

A infinidade de fitas, de pastas, de colheres…de parvoíces, transformaram esta semana num dia, transformaram este dia num momento. Tudo passou sem dar tempo de ficar, e tudo acabou e agora, já não há mais volta a dar.

É incrível, tal como é insuportável a sensação que nada mudou. Que os meus sonhos de menina que quer ser mulher não se realizaram. È doloroso perceber quem em 5 anos nada mudou. É frustrante perceberes que sentes o mesmo, que te dói as mesmas coisas, e que nada, mas nada avançou.

Quando entras na universidade pensas que é desta que a tua vida vai mudar. Que vais encontrar as pessoas que te vão fazer feliz, que te vais transformar noutra pessoa, que vais crescer. Eu não sinto nada disto. Sinto-me a mesma, com os mesmos medos, as mesmas ansiedades, as mesmas frustrações, sinto-me a mesma miúda.

E aquele momento de paz, de tranquilidade. Aquele silêncio que se faz quando mergulhas na água. Aquele segundo em que cais estudante e te levantas adulto. Aquele instante em que só sentes a água, só ouves o silêncio e não pensas em nada… tudo isto não chegou a ser um momento, não chegou a ser nada que tivesse sabor, que tivesse toque…

A queima foi daquelas coisas que deu tanto trabalho a preparar, gastamos tantas energias na organização, na produção, na ansiedade… e quando acontece… a recompensa não é suficiente. Raramente é reconfortante. O medo do que vem, e a saudade do que foi é maior que a alegria do que está a ser.

Mas agora já está. Foi nervosamente engraçado. Foi o pânico, o horror, a tragédia, mas como foi rodeada de quem esteve comigo nestes 5 anos, nunca será esquecido, e sempre será recordado com o sorriso da saudade.

Acabou. E agora não sei como vai ser o futuro, e se realmente pode mudar alguma coisa, se irei encontrar alguém, se irei alcançar a felicidade por que anseio, e a paz e tranquilidade que necessito, se me sentirei a mulher que quero ser.

1 comentário:

  1. "O meu olhar é nítido como um girassol.
    Tenho o costume de andar pelas estradas
    Olhando para a esquerda, para a direita,
    e de vez em quando olhando para trás.
    E tudo o que vejo é tudo o que eu antes não tinha visto.
    E eu sei dar por isso muito bem
    Sei ter o pasmo inicial que tem uma criança, se ao nascer reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me renascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo.
    Creio no mundo, como num malmequer,
    porque o vejo...
    Mas não penso nele, porque pensar é não compreender!
    Eu não tenho filosofias, tenho sentidos..
    Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque a amo..
    E quem ama nunca sabe o que ama, nem porque ama nem o que é o amar.
    Amar é a eterna inocência, e a única inocência é não pensar."

    Alberto Caeiro

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