27 novembro 2012

The one with the optimism

Já aqui disse muitas vezes que a vida não me corre bem.

É verdade que não corre bem a muita gente, mas isso a mim não me interessa nada. A mim a coisa corre mal e isso é que é grave. Com os problemas dos outros posso eu bem!

Não suporto que menosprezem os meus problemas. Só porque não são super-hiper-mega-ruins, não quer dizer que não moam. São meus e doem...

Entre mim e o Job só existe uma peste bubónica para diferenciar. Não.. não tenho nenhum tipo de peste... pelo menos por enquanto. De resto ando a sofrer as mesmas provações que o meu ancestral e quase que se podia escrever um livro semelhante com a minha vida.

Tenho tido azares diários e contínuos tal provação à minha fé, e se só me apetece gritar “Não vencerás Belzebú...” mas a verdade é que, ao contrário da personagem bíblica, eu tinha desistido à primeira provação se fosse possível, mas ninguém me perguntou nada e elas continuam a suceder-se.

Este último ano tem sido assim de bonito. As merdas acontecem. Eu grito por dentro. Sorrio forçosamente para o mundo. E no meu interior forma-se um nódulo que canta “I´m a tumor, i´m a tumor, i´m a tumor”...

Há mais de um ano que estou desempregada. Fiquei sem receber ordenado durante 5 meses, se vocês bem se devem lembrar destes pormenores desta minha interessante vida. Continuo sem os receber. Os trabalhitos que consegui ir fazendo só podem pagar no próximo ano, e como consequência só pago as contas e só como para o ano. Terminei um relacionamento de quase 4 anos. Tive um acidente de carro com o meu samurai nu que o mandou para os cuidados intensivos. A discussão da minha tese está no limbo desde Setembro algures nas resmas universitárias. Continuo sem conseguir arranjar trabalho. Já não recebo nenhum tipo de subsídio à desocupação. Acabei de perder as chaves dum carro que me tinham emprestado algures noutra dimensão e uma chave nova custa 90€. Tenho uma gripe do tamanho do mundo porque andei a plantar árvores com a ministra.... E isto foi ontem... amanhã será mais qualquer coisa....tenho um certo sentimento que isto é só o aquecimento... e tenho medo do jogo a sério.

Está certo que estas coisas não são extremamente graves. Está certo que ninguém morreu ou se feriu gravemente. Tudo isso é muito bonito. Mas estas minhas coisas estúpidas e chatas fazem-me nós de tensão que eu não tenho dinheiro para desatar...

Continuo optimista e a achar que no fundo até não tenho má vida. Afinal de contas ainda respiro, coisa considerada acima das possibilidades neste país de oportunidades.

Mas vou ser optimista. Eu consigo.

O desemprego permitiu-me tirar o mestrado, dormir até tarde, aprender a fazer tricô e ir ao ginásio todos os dias. Apesar de ter terminado um relacionamento foi amigável e ficou uma grande amizade, para preservar e acarinhar, e claro, fica a oportunidade de outras experiências e outras pessoas...dizem que tens que passar por sete pessoas para encontrar a alma gémea, e pode ser que volte à casa de partida ou tire a carta da prisão... nunca se sabe. O acidente de carro permitiu-me poupar combustível até à casa dos meus pais, para onde me dirigia, o senhor do reboque pagou-me uma bifana, e pode ser que arranje outro carrinho mais económico (mas vou guardar o samurai para sempre no meu coração). Se as coisas correrem como prometido no tribunal vou receber brevemente parte dos ordenados. Tenho tempo para me preparar para a discussão da tese, já que só recentemente voltei do trabalho de campo (apesar de ainda não ter pegado na coisa). Tenho fé nas fadas e duendes que me devolvam a chave algures numa gaveta esquecida. E a tosse está a melhorar enquanto aproveito o calor da salamandra e leio um bom livro. Tenho os quartos todos alugados que me permitem pagar a casa. Tenho a ajuda da Relíquia para pagar as contas. Ainda consigo ir ao ginásio e comprar dióspiros  A minha mãe está feliz e contente porque fez uma viagem à Turquia onde andou de balão de ar quente. Tenho saúde (dentro do invernantemente possível). A minha família tem saúde. O meu Puffy Emanuel tem saúde. Agora temos um cachorro novo, que tem mais nomes que um beto de sangue azul, mas a quem eu chamo moscatel. E acordo todos os dias com esperança que a vida melhore.

Vêem?! Vêem como eu consigo ser optimista e achar que o mundo é maravilhoso???

Continuo a sorrir. E algures no meu cérebro oiço uma musiquinha “I´m a tumor, i´m a tumor, i´m a tumor”...

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