04 outubro 2009

Mitos Urbanos

Ora bem. Sim senhora…

Muito boa tarde.

Estou a ver que a minha ausência é directamente proporcional ao número que comentários que tenho nas minhas maravilhosas dissertações… o que só me leva a concluir que a total inexistência de escrita da minha parte faz com que vocês as 5 fiquem felizes o suficiente para terem vontade de escrevinhar coisas neste humilde espaço tão…. Beje… é ou não é? … vá… gosto muito de vos ler… admito!

Mas adiante…

Aquilo que me traz aqui hoje não é muito diferente ou mais importante do que me traz aqui nos outros dias… muito basicamente é a necessidade de escrever porcaria enquanto me imagino de capuchinho na mão (como diria a minha mãe), laptop nas pernas, óculos de massa, uma camisola de lã e um fim de tarde no Starbucks enquanto me pedem autógrafos e me elogiam a brilhante escrita criativa…

Enquanto isso não acontece e tenho que acordar para a realidade, venho para aqui tentar fazer-vos rir- ou chorar- apenas com o poder das palavras e a Pink nos ouvidos.

Como não me canso de dizer, os meus pedidos de ano novo concretizaram-se e finalmente descobri que sou menina, mulher e moça, descobri o prazer de fazer coisas giras e o bom que é termos alguém que nos diz “I lamb you”…

Toda esta mudança cardíaca, de estado civil e de estado de alma levou também a que o assunto tabu SEXO fosse agora falado por mim como quem diz “Got milk?”, pois anteriormente não admitia qualquer pormenor sexual da vida das minhas amigas com o receio de imaginar coisas que não são para imaginar e por isso, para mim, toda e qualquer companheira (o) era puramente assexuada tal como os anjos e sim… com uma boquinha de prata.

Mas agora que se fala e se abusa vão se descobrindo coisas muito interessantes… ou desnecessárias.

Um desses temas bonitos de se falar é a masturbação… as páginas amarelas… tocar-nos no banho… make the fingers do the walking… clicar na ratinha… vocês sabem… cometer O pecado.

Eu confesso aqui pecadora que antes de iniciar qualquer actividade sexual com outra pessoa também não tinha actividade sexual comigo própria… Sei que a grande maioria de vocês começou a passear pela floresta húmida enquanto ainda brincava às bonecas mas eu não… eu não fazia cá essas javardices… era muito pura e casta!

A verdade é que de vez em quando lá tocava na passareca mas era uma coisa muito fugaz e a medo pois a sensação de que alguém estava a ver era muito grande. Na realidade não sabia muito bem como é que se fazia e o medo de tentar era maior - e se estragar? … Durante muito tempo a minha menina tinha somente uma vida de sofrimento e de dádiva com oferendas mensais do próprio sangue e não recebia nada… nem um regalito no Natal!

Mas este também não é um assunto de que se fale com a veemência que se fala, por exemplo, do uso de preservativos. Nas escolas ensinam e explicam a importância do sexo seguro, como fazer, onde fazer, com quem fazer, por que lado fazer… mas sobre o acto de fazer o amor solitário ninguém fala.

Nunca vi nenhuma mãe nestas séries de Adolescentidiotas perguntar à filha “oh Maria Carlota, por acaso a menina já se tocou no banho hoje? Olhe, não se esqueça que é supé importante pá saúdinha! Agora vá lá tufonar à sua Tia Blucha…"

Nem a minha mãe…. E possivelmente que nem as vossas… me veio explicar todo o conteúdo sexual dentro duma vagina - o que é um pénis? Como nascem os bebés? E porque é que nos esvaímos em sangue todos os meses?…

Como qualquer pessoa da minha geração aprendi a dura e cruel realidade com o “Viva a Vida”, documentário estritamente científico sobre a luta entre os glóbulos vermelhos e os anticorpos e sinceramente não me lembro de ver nenhuma cassete de vídeo em que os personagens principais fossem os dedos.

Mas já consigo imaginar o triller: Os dedos, num dia de chuva e nevoeiro, encontram a Rainha Clítoris, uma poderosa monarca com 8 mil braços nervosos que sozinha consegue dominar todo o corpo. Mas a Rainha não perdoa ter sido abandonada durante tanto tempo e com os seus poderes tira qualquer tipo de controlo dos dedos fazendo-os mexer-se a velocidades estonteantes que os próprios músculos não conseguem acompanhar, deixando assim os dedos à mercê de cãibras mortais! A Rainha reina no final e como resultado da sua vitória deixa um sorriso estúpido na cara para mostrar quem manda.

Não era super instrutivo? Possivelmente traumatizante… mas muito instrutivo.

Devem ter reparado que para mim o clitóris é feminino por razões óbvias de poder, força e talento… a questão ortográfica é demasiado insignificante e se fazem tanto escândalo assim escrevo em latim - clítoris - porque não tem pessoa… ficam mais satisfeitas? … chatas, pá…

Bem, continuando. Podemos afirmar então com toda a certeza que este é um assunto pouco discutido e que a grande maioria das mulheres passa uma vida sem conhecer o potencial do próprio corpo, passa uma vida inteira sem saber o que é um orgasmo e tem relações sexuais enquanto pensa na falta de tinta do tecto.

Falta conversa, faltam mais explicações, faltam workshops que façam as mulheres olharem, examinarem, perceberem e experienciarem a própria vagina… ou as vaginas de outras (fica ao critério).

Fica a necessidade de explicar às nossas filhas como se faz, para quê se faz e quando se faz, para que percebam a potencialidade que têm, a independência que podem ter dos homens e como podem ficar satisfeitas apesar daqueles namorados auto-focados que adormecem no minuto seguinte.

Eu iniciei as viagens por mim própria depois de alguém me explicar como se fazia, de me ensinar, de me mostrar…. Mas se em vez de ter tido uma professora tivesse tido um professor, acredito que ainda hoje estaria com muito medo dos países baixos, um lugar ainda abandonado e apenas invadido de vez em quando por exércitos violentos que não pedem licença. Exércitos que não rondam as casa e não espreitam à janela para ver se há gente, exércitos que vão entrando sem pedir e muitas vezes sujam a casa e não limpam.

Mas atenção, não falo por vocês caras amigas tão bem encaixadinhas nos vossos apêndices… falo por todas as outras que continuam a ter no sexo uma tarefa doméstica, na masturbação um oitavo pecado, e no orgasmo um mito urbano.

Comecem-se a tocar, por favor, e não será só os sonhos que vos farão sorrir.

6 comentários:

  1. "Era uma vez a Vida"

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Não é que tens toda a razão! Eu não tinha a certeza do nome e andei no google a pesquisar "viva a vida" e até pus partes da letra que me lembrava e nada... afinal a internet não é tão boa assim... as mães é que resolvem tudo!
    E lembrei-me agora que podia ter ido à cassete de video e ver... estes rasgos de inteligências às vezes vêm tarde.

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  4. Mais vale tarde que nunca...eu lembro-me perfeitamente...eram os meus desenhos animados preferidos, muito educativos e que me foram muito úteis quando fiz biologia molecular, citogenética, fisiologia animal, imunologia, etc...é mais fácil de compreender estas matérias se os vários intervenientes forem bonecos imaginados :))) Para mim, os anticorpos serão sempre uns velhotes com asas e os leucócitos serão sempre polícias gordinhos, lol.

    Beijos e Viva a VIDA!!!
    G

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  5. tua maria8:25 da tarde

    Estrela Mates, sem dúvida alguma, um dos teus melhores posts, adorei. Muito talentosa a minha menina, com os seus pézinhos de coentrada, sim senhora!
    Realmente, para grande percentagem das mulheres, o orgasmo continua a ser um mito urbano e sabes que mais? olha, olha, nós não fazemos parte dessa estatística, oh yeah!

    Dá gosto ler-te.
    beijo da tua maria

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  6. ahahah,genial!! ;)
    (Eu também leio o teu blog...)
    Ass: Dori

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