23 julho 2008

Amanhã


Hoje é mais um dia em que eu escuto o silêncio que há em mim e não basta. Hoje foi mais um dia em que olhei em volta e não vi a rua se acender. Hoje não vi nada e não senti nada que fosse diferente dos outros dias. Hoje as lágrimas tiveram o mesmo sabor salgado que todas as outras. Hoje doeu tanto estar sozinha como em todos os outros dias. Hoje foi mais um dia como todos os outros que já passaram e aqueles que estão para vir. Hoje, não fiquei mais feliz. Hoje vi a fragilidade humana em rostos conhecidos, envelhecidos e doentes. Hoje vi o passado mascarado dum presente feio, triste e tão demoroso em passar. Hoje quis que o tempo voltasse atrás como nunca antes tinha querido. Hoje percebi que o mundo à minha volta não pára quando eu não estou. Hoje percebi que a minha presença é tão sentida como a minha ausência. Hoje percebi que não faço falta, não sou indispensável. Hoje precisei parar de pensar para poder parar de chorar. Hoje vi no espelho o mesmo que nos outros dias. Hoje sonhei o mesmo, desejei o mesmo e chorei pelo mesmo. Hoje não foi nem especial nem único, foi tão rápido e demorou tanto a passar, como os outros. Hoje não consegui não estar triste como queria. Hoje não consegui responder a quem se lembrou, hoje não me apeteceu agradecer por aquilo que não pedi. Hoje continuo a trocar os passos com a solidão. Hoje… foi tão igual a ontem e será tão igual a amanhã. Hoje nunca mais acaba e está quase, quase a acabar. E é isso aí… há quem acredite em milagres.

1 comentário:

  1. hoje vi num programa com a minha mãe, uma senhora cega. a amiga desta senhora disse: se pudesse dava-te metade da minha vista.

    maria

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