03 maio 2007

As aulas

Resolvi fazer uma breve apresentação de como está a ser a minha vida estudantil por estes lados, que afinal de contas, foi para isso que vim.
Ora bem, há uns quantos pormenores que eu ainda não percebi, como por exemplo, se tenho aulas numa morgue, num museu ou simplesmente no sitio de muito mau gosto. Quando se entra no cubeto 4 da Universidade a primeira visão que se tem é de um belo exemplar de um lobo, dentro de uma caixa de vidro, com muitos amigos em redor, como répteis, insectos e roedores de olhares petrificados e corpos frígidos, isto porque os pobres animais estão todos embalsamados. Dar de caras com um bicho daquele tamanho e com ar de quem não está contente por estar cheio de gesso não é lá muito agradável. Posteriormente ao choque já fizemos amizade, chama-se Lupi e é o meu melhor amigo empalhado, todos os dias o comprimento e aposto que fica feliz por ter alguém com quem conversar, que aqueles coleópteros não têm ar de ser grandes amigos. De seguida, por todo o cubo pode-se encontrar dezenas de animais, ora empalhados, ora em fósseis, ora em trabalhos... é um cubo cheio de vida morta, até um esturjão têm empalhado. O pior de tudo é a sala de comunicação animal em que me sinto rodeada de animais de olhos de vidro e prontos a atacar. Têm um exemplar de cada ordem das aves, têm mustelídeos, têm lagomorfos, têm um texugo e um roedor que é do tamanho dum texugo e para completar a decoração têm um gamo ... não acho grande piada a ter aulas a sentir me observada e estudada pelos animais petrificados, mas desde que eu não comece a imaginar os bichos a moverem-se enquanto a gente não está a olhar, dá para suportar as aulas.

Por falar em aulas, já devem saber das maravilhosas 8 cadeiras que tenho que fazer em 2 meses e em italiano...pois é, tendo eu 32 créditos em falta para completar os créditos obrigatórios em cadeiras na minha licenciatura, isto seria mais ou menos 4 cadeiras de 6 créditos. O meu plano de estudos para Itália seria fazer as duas atrasadas antes do 3ºtrimestre e depois fazer as quatro que faltavam. Isso era tudo muito bonito se por acaso o mundo funcionasse bem, mas como não é o caso, e como o normal de uma cadeira aqui é valer 3 créditos, muito raramente 5, para completar os créditos que me faltavam tive que me inscrever a 9 cadeiras (34 créditos), isto noutra língua e em apenas fantásticos 2 meses de aulas... é a PDL!
Bom, já começadas as classes posso-vos dar umas luzes de como estão a ser. Estou a assistir a 7 cadeiras, depois tenho que fazer Biologia Molecular Eucariótica cujo horário não me permite assistir, fora a de cálculo diferencial que já está despachada. A biologia molecular, apesar da má experiência da primeira oral de 10 horas, parece me que vá ser acessível porque a professora é espectacular e é a minha orientadora de erasmus, estou confiante que vai ser mais acessivel.
As minhas cadeiras têm nomes bonitos, como por exemplo "Fanerogame Marino e monitoraggio costieiro" (impressionados??) em que tratamos essencialmente das zoósteras marinhas e de técnicas de monitorização costeira. As aulas já terminaram, eram só 12h e com as secções intensivas foi num instante. O professor é muito porreiro, é gente jovem e não quer que lhe chamem professor, está sempre a enrolar o cabelo quando fala e acho-lhe piada porque parece uma menina, mas é super acessível. Além do mais só tenho que fazer um trabalho e ir a duas saídas de campo no mar nos barcos da associação... olha que chatice! O trabalho que escolhi, para variar tinha que ser trabalhoso, que eu não conheço a palavra simples, assim propus fazer um relatório de uma pradaria de Posidonia oceanica e depois propor medidas de gestão e conservação o que me vai implicar algumas saídas ao mar, mergulho, fotografia... estou mesmo chateada...
Depois enlouqueci nas inscrições e estou a fazer Sistemática Vegetal... alguém que me acabe com o sofrimento.... apenas porque pensei que tivesse algo a ver com Fitodiversidade que eu gostei tanto de fazer, e porque vale 5 créditos é uma ajuda do caraças. Mas lá está, é muito aproximado à botânica... demais... e é uma seca. O professor fala debaixo de água, nem os Italianos o entendem, quanto mais eu, falta imenso, ainda ninguém percebeu bem o programa e o que estamos a dar... acho que a esperança geral é a oral ser o mesmo tipo de javardice e passar tudo na boa.
Depois estou a fazer Rinaturação e Riqualificação fluvial, o professor é porreiro e muito atencioso e a matéria tem um pouco de várias áreas, é bem interessante, apesar de ser muita coisa, vamos a ver como vai ser esta oral. Avaliação de Impacto ambiental é dada pelo chefão aqui da zona, um senhor sempre com milhares de coisas para fazer, mas muito porreiro, também falta um bocado mas arranja sempre substituto.. já que manda! A cadeira em si parece-me fácil, vamos a ver como vai ser esta também. Depois estou a fazer Biologia Aplicada II, (acabem de vez com este sofrimento!). É uma daquelas cadeiras que estou a fazer por facilidade de horário, mas o professor é muito porreiro e a matéria não parece ser muito difícil, valendo 4 créditos vale a pena tentar, apesar de ser laboratório e muita bioquímica.
Depois, as minhas cadeiras preferidas são, claro, as de comportamento. Estou a fazer Etologia que tem como base o comportamento do Lobo, porque a universidade tem em mãos um projecto aqui no parque natural, e Comunicação Animal, que muito sinceramente, acaba por ser a mesma coisa, mas não me importo de ouvir duas vezes a mesma matéria, é sempre uma boa ajuda.
Gosto muito da minha professora da Etologia, é super atenciosa e as aulas são muito boas, estas duas cadeiras são sem dúvida aquelas que mais gozo me dão fazer.
As aulas em si variam um bocado no sentido em que, por exemplo, em etologia somos uns 30 na sala, e é com aqueles estudantes que falam, mandam bilhetinhos e o mais irritante, mascam pastilha de boca aberta... o quão perto que eu já estive de dar um par de estalos nestas italianas.... quando me calha a sorte de ter uma destas vacas que estão 2 horas de plástico na boca a fazer nhec, nhec, nhec e a estalar as pastilhas o meu pensamento não vai mais além do que “Já morrias!” e claro que não me consigo concentrar. Depois as aulas são em salas cujas cadeiras são todas coladas umas às outras, perfeito para sentir o fantástico odor do pessoal que não toma banho, perfeito para não conseguir ignorar as conversas no meio das aulas e para ter constantes nhecs, nhecs nos ouvidos.... até fico com comichões só de pensar!
Mas por exemplo, a biologia aplicada somos só 5 e nas aulas só se ouve o diálogo super relaxante do professor, ideal para insónias e problemas de stress. A avaliação de impacto ambiental a turma deve ter umas 15 pessoas, e vá lá, uma criatura que é a coisa mais estranha que eu já vi na minha vida... isso mesmo, mais estranha que os personagens de Évora, o pessoal na sala está sempre a mandá-la calar porque está sempre a interromper o professor, e este até já a ignora e manda-a falar para a mão. Faz comentários sem o mínimo de sentido e está sempre, mas sempre a escrever, mesmo quando não há nada para escrever, espero que seja um trabalho que o psicólogo lhe tenha mandado ou assim, como escrever 100x “Não posso falar, não posso falar”, quando tiver ânsias de dizer asneiras.
Como estou a assistir a 7 cadeiras o meu horário é mais ou menos, todos os dias das 8 e meia às 5 e meia da tarde, nada puxadinho... e em italiano que é sempre um pormenor a ter em atenção caso queiram qualificar a dificuldade que estou a ter.
Mas já fiz imensos amigos, pessoal que troca apontamentos e que grava as aulas, pessoal impecável. Dois grupos completamente distintos, o pessoal de Biologia Celular com quem tenho bio aplicada, sistemática vegetal e bio mol e o pessoal de Ciências naturalisticas, com quem tenho as restantes cadeiras. Estou a gostar muito da experiência, só espero que consiga fazer esta catrefada de cadeiras, para que isto não seja tempo e dinheiro desperdiçado. Desperdiçado não é porque já fiz matemática II e depois, penso que mesmo não fazendo nenhuma cadeira, já era uma experiência que vale a pena por tudo, pelas pessoas que se conhecem, pelas experiências que se têm, pelo que se aprende, por tudo... vale mesmo a pena, acho que todos os estudantes deviam passar por esta experiência porque é inesquecível e impagável.


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