27 abril 2007

Curso Jornalismo ambiental

“Certifica-se que Matilde Estrela, participou no curso de formação de jornalismo ambiental “Comunicar o Ambiente”, organizado pela Associação Italiana Naturalística e leccionado pelo jornalista de “La Nouva Ecologia”, Raffaele Lupoli.”
Yeeeeeeeeee já sou uma Davida Antabora! O curso foi muito bom, adorei mesmo, um fim-de-semana em grande!
Tudo começou na manhã de sábado, quando me levantei por volta das 6 e 45h da manhã porque tinha que ir apanhar o comboio das 7:30h para Paola e ainda demorava uns 20 min a pé até 4Miglia, já que a esta hora e num sábado não há autocarros. Lá acordei com as galinhas, despachei-me e pus-me a caminho. Cheguei mesmo a tempo do comboio partir e lá arranquei eu em direcção ao mar, sempre com aquela sensação que estava no comboio errado e que o mar era para o outro lado, deve ser algum tipo de doença que eu tenho causada por um vírus do género “comboius erradus” ou algo similar. Mas a sensação desapareceu quando vi a placa da estação a dizer Paola e quando desci e me lembrei da madrugada que passei ali no regresso de Sicília. Quando desci fui ver se via o senhor que me adoptou nessa noite, mas ele deve trabalhar por turnos e naquela manhã não estava lá. Então lá saí eu da estação à procura de pessoas com o mesmo ar de quem vem fazer um curso, e da navetta que nos ia levar até ao hotel. Bom lá andei eu com aquele ar de barata tonta á procura da cabeça e não via ninguém nem navetta nenhuma, fui então perguntar aos senhores da estação se sabiam de alguma coisa, onde se apanhava a navetta ou onde era o hotel. Bem, devem escolher a dedo os funcionários desta estação, ou sou eu que tenho uma pontaria do caraças, fui falar com um senhor super atencioso que andou uns 10 min à procura do telefone do hotel e de um telefone por onde pudesse ligar, que como a estação está em obras não havia cabine que funcionasse, o senhor lá conseguiu ligar para saber como eu faria e por fim lá me disse que tinha que sair do outra lado da estação, do lado do mar e esperar. Foi mesmo impecável comigo, gente muito porreirinha!
Fiquei á espera da navetta, que é uma daquelas carrinhas de 9 lugares e por fim chegaram o resto das pessoas para o curso, eu só conhecia a rapariga onde me fui inscrever, mas á primeira vista ela não me reconheceu e eu também não disse nada. Entrámos na carrinha e enquanto alguns ainda tiveram que esperar pela segunda viajem da navetta, nós lá subimos pelo morro acima até ao Hotel L’Ostrica. Chegados lá acima já estavam imensas pessoas á espera e a rapariga das inscrições lá me reconheceu e veio falar comigo. Estivemos á espera que o pessoal todo chegasse, ou melhor, os senhores poderosos que vinham assistir á inauguração, (afinal isto além de ser um curso, era também a inauguração da escola naturalística), o presidente do comité cientifico do museu de história natural da Calábria e a vice-presidente, respectivamente marido e mulher e meus professores. Enquanto estávamos á espera pelo início comecei a conhecer o pessoal e comecei logo pelas senhoras biólogas e naturalísticas que tinham vindo fazer o curso. Não sei porquê, mas vou sempre para o pessoal mais velho, talvez porque o pessoal da minha idade esteja em turma e se feche mais a novas caras. Mas as raparigas foram impecáveis, super simpáticas e sempre cheias de perguntas e curiosidades e eu que também não fico nada atrás no item perguntadeira, também lá enchi as mocinhas com questões e lá fiquei a saber que o desemprego não é só em Portugal.
Quando os senhores poderosos chegaram lá se fez a secção de inauguração, na qual fui mencionada por ser a única estrangeira no recinto e depois os comes e bebes, onde comecei a conversar com a minha professora de comunicação animal sobre os meus planos futuros etológicos e afins. A senhora só trabalha com insectos e não percebe nada de bichos grandes, mas lá deu para tocar umas ideias e sugestões. Também descobri que o presidente da escola naturalística esteve um mês em Évora, a trabalhar com o professor de herptologia e que adorou a cidade e as pessoas. Muito bom encontrar pessoal que conhece a nossa cidade e os nossos professores.
O curso lá começou a sério a meio da manhã, onde o senhor jornalista nos deu as bases de jornalismo e as diferenças entre comunicação e informação e acima de tudo, a diferença entre jornalismo ambiental e os outros tipos de jornalismo. O curso foi na sua grande maioria prático, no sentido em que tínhamos que construir noticias, pôr-nos no papel de leitores e saber interpretar a tipologia de revistas e jornais, pelo seu conteúdo.
Fomos almoçar, talvez o melhor almoço que já tive aqui: Um projecto de arroz de marisco italiano e como segundo prato, um peixe disfarçado de bife. Nunca tinha visto uma posta de peixe como aquela, da grossura de um bife e sem uma única espinha, tanto que para meu espanto houve pessoas que pediram carne porque não comiam peixe com espinhas…. É certo que nunca na vida provaram uma bela sardinhada!
Eu pensava que ia ficar calada o almoço inteiro, mas o pessoal é mesmo do melhor e começou logo a meter conversa e conheci imensa gente, todos a dizerem que eu falava muito bem italiano e eu babar-me com tanto elogio, o facto de eu ter ido sozinha para Sicília passear também fez de mim a heroína do dia, claro que se a mania fosse merda, eu estaria toda cagadinha naquele momento, o meu ego transformou-se num “egão”.
A tarde também foi na sua maioria prática, tivemos que estudar uma noticia e dar-lhe um titulo, no qual aprendemos bastante, pois a noticia era sobre a máfia que há em torno da recolha de lixo e que rende milhões, e sobre o politico do assunto que andava metido no assunto. É claro que quando o pessoal começou a fazer o titulo era tudo muito agressivo, muito à TVI, “O mundo acabou: a máfia controla o lixo!!” e algo do género, mas claro que o essencial no jornalismo é informarmos as pessoas e não colocar opiniões pessoais no assunto, nem criar sensacionalismo, o jornalista tem que ser o mais imparcial possível. Também estudamos um texto inventado sobre uma rã descoberta na Amazónia cuja substância cerosa era uma ajuda importante no combate a doenças cardiovasculares e eu fui a escolhida para ler o texto em voz alta (em italiano), o pessoal começou a dizer que era mau ser eu a ler, a chamarem-me “poverina” e coisas do género, mas eu lá disse que não me importava, e no fim só tenho a dizer que fui aplaudida… só faltou a secção de autógrafos… o meu Italejano faz uma sucesso do caraças.
E assim se passou a tarde, com aulas e lanchinhos pelo meio, onde conversávamos imenso com o pessoal e onde fiquei a conhecer imensos colegas meus de Ecologia, também super impecáveis.
No final do dia voltámos para apanhar o comboio e depois tive boleia de um dos meus colegas até ao centro residencial.
Na manhã de domingo não tive que ir de comboio porque me deram boleia do centro residencial, fui com umas senhoras que trabalham na universidade, inclusive a rapariga das inscrições que por incrível que pareça tinha sido colega da minha “avozita” e trouxe-me umas fotos duma saídas de campo delas para eu ver, o mundo é mesmo pequeno! No caminho vimos um texugo morto e ficou tudo muito admirado porque nunca tinham visto um na vida, e para meu grande espanto, há pessoas licenciadas em zoologia animal que pensam que os texugos são como o Flor no filme do Bambi, lá dei o meu ar de entendida no assunto e expliquei a diferença entre os nossos animais e os americanos. O caminho até Paola de carro é excelente, atravessámos a montanha em direcção ao mar e a vista é fantástica!
Quando chegadas ao Hotel, estivemos que esperar pelo resto do pessoal e lá se espalhou a noticia do texugo, mas uma das senhoras que ia no carro em frente disse que não era, que era um cão, eu lá disse que tinha a certeza de que era um texugo porque já tinha visto muitos mortos (só mortos!), mas a senhora lá teimou a dizer que tinha visto bem e eu não quis dar uma de chata e lá me calei, sempre com aquela sensação irritante de que “Eu sei que tenho razão!”. Tínhamos cornettos de ciocolato para nos receber e suminho de frutas, (mas que curso do caraças), e mais uma vez tivemos na conversa até o pessoal todo chegar. Lá fiz os meus contactos com pessoal que trabalhe no campo e precise de ajuda, o presidente da escola lá disse que lhe dava jeito e pode ser que vá para as montanhas á caça de répteis e anfíbios.
Nessa manhã tivemos que nos juntar em grupo e fazer um jornal, fiquei com um grupinho muito porreiro, só raparigas, cheias de ideias e foi super divertido. Tivemos a ideia de fazer uma guia de turismo ecológico por Calábria que é muito negligenciada a nível de turismo, mas que tem coisas lindíssimas para ver. Como eu não podia ajudar nesta área fiquei a directora do jornal (porque não fazia nada) e responsável pela parte gráfica. Lá me pus a desenhar a capa e a fazer o esboço do jornal. Foi super divertido. No fim da manhã cada grupo apresentou as suas ideias e o jornalista disse o que tinham feito bem e mal. Fez depois uma abordagem final do curso, agradeceu a nossa presença, disse que tinha gostado imenso e que tinha sido uma experiência muito boa. E no fim foi a entrega dos diplomas, e eu fui logo a primeira. Lá fui ao pódio receber o diploma e recebi aplausos duplos, porque segundo o jornalista tinha feito um esforço a dobrar e estava de parabéns… esta gente mima-me demais… toda babadinha, alguém tem um lencinho?!
No fim do dia regressámos a casa de carro e eu lá pude fazer aquela minha cara de “Eu disse que era um texugo!”, mas afinal a senhora estava a falar de um cão que tínhamos visto mais á frente e não tinha visto mesmo o texugo, um senhor que também trabalha na universidade parou para tirar fotos e eu sugeri que o levassem para o laboratório já que não era comum, a rapariga das inscrições gostou da ideia, mas parece que não tinham sitio onde colocar.
Cheguei a casa, fui almoçar á mensa e claro que a Ying ainda estava a dormir. Lá tomei um bruto banho e fui dormir para a sala uma sesta do melhor, soube muito bem.
O curso foi mesmo excelente, ainda recebi uns guias de anfíbios de Calábria e dos Parques naturais e imensa informação interessante. Valeu mesmo a pena, por tudo o que aprendi, pelas pessoas que conheci e até pelo que me diverti. Adorei, espero ter outras experiências do género aqui.

Como ainda nao tenho fotos do curso, esta é a fortaleza do amor que a minha colega tem no quarto. MEDO

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